O realizador chinês
Chen Kaige é de fato um meticuloso da forma cinematográfica: a beleza opulenta
de um épico como Adeus, minha concubina (1993) é um fato. O ritmo contemplativo
e a beleza dos planos estão também em Mata-me de prazer (Killing me softly;
2002), que o cineasta rodou na Inglaterra e é o primeiro impulso da internacionalização
de sua carreira. Lado a lado com o preciosismo caligráfico oriental, uma certa
nobreza britânica informa a linguagem deste policial de suspense.
Mas toda esta sofisticação
visual não salva a realização de seu perfeito tédio. Falta o que dizer a este
filme extraído dum romance que teria sido êxito de livraria. O encontro fatal
entre a estudiosa americana e o inóspito alpinista inglês começa afogado numa
sexualidade trivial e superficial e logo resvala para uma mesmice constrangedora
de onde nem as sutilezas de encenação de Kaige logram retirá-lo.
Sobrou diretor e ausentou-se
o roteirista em Mata-me de prazer. Para o espectador crítico a frustração
é maior que aquela sentida pelo assistente normal, que só se entedia com a lentidão
da história; o que o observador mais empenhado lamenta é que esta beleza de
encenar de que Kaige não abre mão seja desperdiçada no vazio.
Por Eron Duarte
Fagundes