MELODRAMA RÓSEO EM TENSÃO LUMINOSA
 

 

28 de outubro de 2007

A tensão do processo de iluminação do quadro cinematográfico é o que parece mais interessar o realizador inglês Matthew Vaughn para atingir emocionalmente o espectador em Stardust —o mistério da estrela (Stardust; 2007). Uma espécie de emoção plástica onde da fotografia do filme parece brotarem raios luminosos; o filme parece cintilar o tempo todo, como uma estrela, como a estrela cadente transformada numa bela mulher interpretada por Claire Danes — afinal, que fazem as estrelas senão cintilarem? Mas é pouco, muito pouco para que o espectador, depois de décadas de dribles com a imagem cinematográfica, possa interessar-se por essa trama rósea e incauta que Vaughn decidiu levar à tela.

Vaughn foi produtor dos filmes de seu patrício Guy Ritchie e em 2004 dirigiu o sinuoso Nem tudo é o que parece. Em Stardust ele se afasta da narrativa mais moderna de seu trabalho anterior e adota uma plasticidade mais consumível, misturando fáceis efeitos visuais e a aludida tensão brilhosa da imagem. Faz um divertimento correto, não há negar, apesar da irregularidade rítmica da linguagem; talvez o diretor Vaughn se tenha afogado nos excessos de produção, mas inevitavelmente a imponência visual vai conquistar o observador, mesmo aquele mais resistente ao lado aventuresco do cinema.

Claire Danes está bem, mas o heroizinho Charlie Cox é bastante medíocre, assim como sua primeira apaixonada, Sienna Miller. A bela madurona Michelle Pfeifer, na pela duma bruxa oscilante entre a aparência de beleza e a aparência de feiúra, desfila com segurança pelos cenários de época, pois já está acostumada a estas ambientações e guarda-roupas antigos desde os tempos em que brilhou em obras como Ligações perigosas (1988), do inglês Stephen Frears, e A época da inocência (1993), do norte-americano Martin Scorsese. A súbita e breve aparição de Peter O’Toole é uma reverência perfeita a um ícone da interpretação fílmica. Robert De Niro, como um pirata homossexual, reedita os trejeitos cômicos de suas mais recentes e aborrecidas aparições no cinema; me parece um intérprete em decadência.

Enfim, o brilho vazio de Stardust pode preencher a necessidade do cinema de expor-se como superfície.

Por Eron Fagundes

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