20
de setembro de
2004
Nos últimos
anos, o realizador norte-americano Steven Spielberg se tem esforçado
para fugir à pecha de cineasta de entretenimento, algo
configurado em produções milionárias e rentosas
como Os caçadores de arca perdida (1981) e E.T.,
o extraterrestre (1982). (Revisto há alguns anos na onda de versão
do diretor, com acréscimos de cenas que originalmente
ficaram na mesa de montagem, E.T. revelou que envelhecera um
bocado). Mas, mesmo em sua guinada para temas mais sérios
e conseqüentes, Spielberg permanece aferrado a uma linguagem
quase anacrônica para os padrões comerciais de hoje.
Em
seu mais recente trabalho, O terminal (The terminal;
2004), a seriedade de intenções de Spielberg não
dispensa o riso e conduz uma comédia de fato engraçada
e bem pesada, carregada pelo desempenho extraordinário
de Tom Hanks, mas que em momento algum oferece ao espectador
algo realmente crítico. A emoção passada
pela narrativa é simplória, as soluções
são óbvias e a inquietação do diretor
com o assunto da segurança nos Estados Unidos nunca transcende
o divertimento efêmero; a história se prestaria
para um pesadelo kafkiano – um homem do Leste Europeu cujo
país é considerado inexistente não pode
entrar nos Estados Unidos, nem voltar para sua pátria,
tendo de sobreviver, com as barreiras lingüísticas
em que o jogam, no aeroporto -, mas o que Spielberg confecciona é uma
amável comédia de situações, visando
a paparicar seu público específico.
O
que ainda não se sabe é se o público da
atualidade tem olhos e ouvidos capazes de perceber o chamado
do cineasta. As bilheterias devem falar.
Por Eron Fagundes
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