28 de outubro de 2007
Curiosamente, Transilvânia (Transylvania; 2006), dirigido pelo franco-argelino Tony Gatlif, apresenta semelhanças com um filme que, na essência, lhe é totalmente diferente: Contra a parede (2004), do turco-alemão Faith Akin. Primeiramente, o ator Birol Ünel repete o jeitão entediadamemnte desesperançado de sua personagem no filme de AkIn; como na obra turco-germânica, Ünel é um vagabundo (ou vaganoite) que o acaso do roteiro leva a envolver-se com uma mulher excêntrica e de amarguras suicidas; em Transilvânia Ünel é o cigano solitário Tchangalo cujo caminho se cruza com a jovem grávida rejeitada por seu amante, vivida emblematicamente pela atriz Asia Argento, com direito a sessão de “descarrego espiritual” e banho de leite no corpo. Como Akin, Gatlif vive o dilema da nacionalidade difusa: se Akin é um turco na Alemanha, para Gatlif as coisas se complicam mais, ele é um francês que nasceu na Argélia mas descende de ciganos, e estes elementos reais da nacionalidade difusa determinam a estrutura estética duma ficção cinematográfica, tanto em Akin quanto em Gatlif. Assim, entre outras coisas, Gatlif filma um pouco como um cigano, com as formas óticas de um cigano: a esmo, libertariamente; aqui e ali a flacidez narrativa impede os vôos que o realizador projeta, mas não retira do mistério de uma obra de clima a capacidade de seduzir o espectador. Outro parentesco com Contra a parede: a importância da faixa musical no interior da linguagem cinematográfica.
É bem verdade que Akin tem mais força em suas invenções. É também verdade que estas semelhanças dos dois filmes não conduzem a uma identidade estética. Transilvânia é por vezes dispersivo e ingênuo, duas categorias que passam ao largo da perversidade sem concessões de Contra a parede. Filme divagante, de cigano, com um olhar necessariamente cigano para os confins da Europa num povoado romeno, Transilvânia deve ser aceito assim, como uma experiência atmosférica de cinema.
Por
Eron Fagundes