AQUILES É PITT EM HOLLYWOOD
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24 de maio de 2004

O realizador alemão Wolfgang Petersen tem-se encaixado como uma luva no comercialíssimo cinema norte-americano. Petersen abandonou completamente suas possíveis características germânicas para conceber espetáculos grandiloqüentemente digeríveis pelas platéias; as emoções fáceis e as simplificações poluem seu estilo de filmar.

Tróia (Troy; 2004), uma superprodução de duzentos milhões de dólares, é antes um veículo para o estrelismo do ator ianque Brad Pitt do que uma visão pessoal do cineasta Petersen sobre a Grécia antiga. A história contada no filme foi cantada pelo poeta grego Homero em alguns dos mais belos versos da literatura ocidental; Petersen, hollywoodianamente, simplifica e deforma aquilo que está imortalizado nas páginas de Homero, convertendo a trama moral da luta eterna entre o guerreiro Aquiles e o rei Agamênon numa narrativa trivial de combates físicos filmados com o requinte visual de Hollywood mas sem nenhuma criatividade estilística ou temática.

O jeito de estrela de Brad Pitt, na pele de Aquiles, ajuda a superficializar todo o tema. A luta entre Aquiles e Heitor, magnífica como esplendor de imagens, satura diante do vazio de idéias proposto.

Óbvio sucesso comercial, Tróia busca resgatar o senso do espetáculo épico made in Hollywood em tempos melhores. Neste sentido, seu anacronismo se evidencia, ainda que, como ocorre na maioria dos produtos cinematográficos americanos, seja de fácil digestão para qualquer público.

Por Eron Fagundes