O OUTRO LADO DO HOMEM AMERICANO
 

 

DImagine-se um David Lynch mais edulcorado, mais conforme com o sistema fílmico hollywoodiano. Assim se revela Mark Pellington em A última profecia (The mothman prophecies; 2002). O clima meio arrepiante e inusitadamente perturbador das realizações de Lynch está presente na narrativa de Pellington; se há mesmo uma certa parecença formal com o criador de labirintos cinematográficos perdidos, na busca de sombras e movimentos de câmara fragmentados e ocultos, a diferença é que Pellington utiliza a estranheza de maneira necessariamente superficial e sem os toques mais cavos de Lynch, que tem um senso de cinema mais apurado, refinado e exigente.

Em verdade A última profecia é uma obra acima da média do que se vê nos cinemas comerciais. Tem um sentido de seriedade cinematográfica que escapa a boa parte da produção contemporânea. Sinais (2002), de M. Night Shyamalan, com seu artificialismo vazio, é um bom contraponto. O galã Richard Gere está melhor dirigido do que se pôde ver em suas participações em filmes recentes; a opção do realizador por uma temática mais espiritual revela o outro lado do homem americano, geralmente tido por um indivíduo materialista -o misticismo de certas fitas americanas de hoje, como bem observou em conversação pessoal o historiador Décio Freitas, mostra uma face da civilização ianque que parece estar em ascendência.

Fugindo um pouco às obviedades de colocações do habitual cinema americano, A última profecia faz o espetáculo possível da espiritualidade no mundo de Hollywood.

Por Eron Fagundes

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