27 de dezembro de 2006
O inglês Ridley Scott é um cineasta irregular. Quando erra no seu veio formalista, parece tão superficial e vazio quanto seu irmão Tony Scott; ambos vieram do cinema publicitário, mas Tony ficou alguns passos atrás de Ridley. Todavia, ao dar com um melodrama insosso e brilhoso como Um bom ano (A good year; 2006), o espectador cuida que pode não haver muita diferença entre os dois: produtos comerciais com uma sofisticação pretensamente artística.
Um bom ano traz Russell Crowe no papel do executivo Max Skinner, uma visão masculina da personagem de Meryl Streep em O diabo veste prada (2006), de David Frankel; é claro que Scott tem o engenho do cinema que falta a Frankel, um artesão barato, mas, fora das sutilezas de cinemaníaco, não creio que isto dê a Um bom ano um status superior ao medíocre filme sobre a executiva de moda de Meryl Streep. Demais, Um bom ano é até certo ponto o retrato de um executivo implacável; o que na verdade Scott põe em cena é o lirismo da infância para confrontar com o cinismo da vida adulta; estabelecendo também um contraponto entre o cenário natural tranqüilo da vinícola onde se passa a maior parte da ação do filme e a ambientação agitada da cidade, Scott tece outro paralelo que só lhe rende clichês e superficialidades, anos-luz de outros realizadores que trilharam assuntos assemelhados.
Saindo em busca da herança de um tio falecido na França há pouco (a cena de abertura é evocativa dos jogos que o garoto fazia com o tio), o prepotente executivo vai topar com suas descobertas que o levam ao anseio de primitivismo fechando com a opção sentimental do fim por um amor de infância que antes ele já não era capaz de reconhecer. A ativação da memória rumo da infância é feita sem grande acuidade por Scott; e Um bom ano ressente-se deste desleixo do cineasta para com as elaborações mais cuidadas de personagens e situações.
Por
Eron Fagundes