26
de abril de 2004
Do
alemão F. W. Murnau a outro germânico, Werner Herzog,
o mundo dos vampiros teve um tratamento cinematográfico
mais sério e psicanalítico, ainda que os olhos
dum espectador cético pudessem resistir a penetrar nestas
fantasias tão inverossímeis que só a pena
de alguém como o norte-americano Edgar Allan Poe (que
nunca tratou de vampiros mas de entes sobrenaturais) poderia
dar consistência. Hoje o vampiro é mais um ser cômico,
de que poucos podem ter medo; são flutuações
risíveis nas imagens de um filme, com poucas exceções.
Anjos
da noite – Underworld (Underworld; 2003), de Len Wiseman, é a
realização vampiresca pós-moderna: absolutamente
inconseqüente e rasa. Difícil encara-la com alguma
seriedade. Mesmo que os esforços da figurinista Wendy
Partridge se esmerem em dar uma certa novidade ao visual gótico
exigido por uma história de vampiros, o filme em si não
sai do lugar, cravando-se numa batalha vulgar entre inimigos
do mundo das sombras que nada mais é do que um amontoado
de trivialidades de sangue e decepações.
Se
Mel Gibson busca dar charme moderno à velha trama do
calvário de Cristo, Wiseman esforça-se por ser
o porta-voz pós-moderno dos vampiros. Um e outro se afundam,
e enfaram inevitavelmente o observador.
Por Eron Fagundes
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