As velhas coisas de Hollywood

William Friedkin é um dos artesãos da meca do cinema americano que sabe criar imagens tão impactantes capazes de impressionar o espectador. Assisti a O exorcista (The exorcist; 1973) no ano em que foi produzido e lançado, arrastando multidões às salas de cinema; quando o vi no extinto cinema São João, eu contava com dezoito anos e não tinha muitas afinidades com a sétima arte, deixando-me certamente levar pela propaganda da indústria cinematográfica que nos empurra um espetáculo que todo mundo vê. Detestei a trivialidade e a falta de sutileza da narrativa de Friedkin.

Mais de vinte e sete anos depois, cinéfilo apaixonado, O exorcista está melhor a meus olhos, pois logro observar que, mesmo em meio a suas concessões comerciais, Friedkin insere uma certa beleza narrativa que é o que permite que certas cenas (como a da levitação e muitas possessões irreverentes) tenham continuado vivas em minha memória desde aquela distante adolescência de 1973.

Mas daí a considerar O exorcista um clássico irrefutável do cinema vai uma distância muito grande. É exagero ter Friedkin na conta de um realizador importante; este seu filme mais famoso não passa de uma bem armada piada cinematográfica. Linda Blair como a garotinha Regan possuída tem um desempenho admirável, ajudada pelos efeitos especiais e de maquiagem que a adornam; todo o elenco funciona, desde o envelhecido exorcista interpretado pelo ator sueco Max Von Sydow até a apavorada mãe vivida por uma então constante intérprete de filmes americanos (Ellen Burstyn).

Símbolo de uma fantasia hollywoodiana escapista, O exorcista não é mais do que um entretenimento fútil que, ao contrário da média, vale a pena ver, mesmo vinte e sete anos depois.

Por Eron Duarte Fagundes, em 03.03.01