A ÚLTIMA SEDUÇÃO DE O’TOOLE
 

 

09 de abril de 2007

A O inglês Peter O’Toole é um canastrão de grande força. Suas veredas pela categoria de ícone erótico e romântico já vão longe e hoje dizem tão pouco ao público atual. Sua principal referência como intérprete é o papel central de Lawrence da Arábia (1962), obra-prima do britânico David Lean.

Em Vênus (Venus; 2006) o diretor Roger Michell presta tributo ao estrelismo envelhecido de O’Toole; a narrativa é a história dos conflitos íntimos de dois oitentões e a aparição entre eles dos modos provocativos e libertinos duma jovem que traz para a velhice dos dois o sentido complicado da vida; mas esta narrativa é também como se fosse a própria régua do envelhecimento do próprio O’Toole, os delírios senis-sexuais da personagem, suas inquietações diante dos atos que pratica pertencem tanto à criatura de Maurice, um ex-ator, quanto a O’Toole, um ator que exercita sua última sedução antes de fechar os olhos.

Peter O’Toole está adequadíssimo no papel, sincero ao lado de seu parceiro Leslie Philips e da garota Jodie Whitaker; mas eu bendigo o breve surgimento de Vanessa Redgrave, certamente uma intérprete com mais recursos que as caretas de O’Toole, como a ex-esposa da personagem. Vênus tem quedas rítmicas acentuadas, que os atores seguram com garra; mas é um espetáculo sobre a velhice muitas vezes mais vivo que aquele de Elsa e Fred (2005), do argentino Marcos Carnevale.

Jodie Whittaker não é uma jovem bonita, mas sua juventude e seus modos peculiarmente ultramodernos, contrastando com os refinamentos do quadro “Vênus”, do pintor espanhol Velásquez, contemplado por ela e por Maurice, trazem um sopro vivo para a realização de Michell.

Por Eron Fagundes

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