MUITO DINHEIRO ABAFA A ARTE DE EGOYAN
 

 

07 de setembro de 2006

O canadense de origem egípcia Atom Egoyan é um dos principais realizadores cinematográficos de hoje. Diretor de obras fundamentais e inconfundíveis como Exótica (1994), O doce amanhã (1997), O fio da inocência (1999) e Ararat (2002), ele agora chega aos pulpudos capitais da grande indústria para rodar uma narrativa que evoca o estilo sinuoso dos antigos policiais negros de Hollywood; é claro que Verdade nua (Where the truth lies; 2005) conserva parte da personalidade de Egoyan, mas os excessos de produção (oriundos do muito dinheiro) abafam a criatividade artística do cineasta; sem a mesma felicidade do alemão Fritz Lang (que fez algumas de suas obras-primas sob o signo do policial negro: Almas perversas, 1945; A gardênia azul, 1952), Egoyan realiza um filme agradável de ver, mas sem grande impulso estético.

Verdade nua parte dum original literário, um livro de Rupert Holmes, assim como O doce amanhã se inspirava num elogiado romance de Russell Banks. Se O doce amanhã se parecia às vezes com um andamento documental, de reportagem, Verdade nua também apresenta este lado jornalístico ao utilizar a personagem da jornalista vivida por Alison Lohman para estudar a vida artística de dois apresentadores da televisão americana dos anos 50 (Kevin Bacon e Colin Firth estão precisos em suas composições) a partir da morte duma garota no quarto de hotel que os dois dividiam e onde encenavam seus travessos bacanais; ocorre que Verdade nua se vai desviando bastante do rigor jornalístico de filmar em face do corte policial mais assimilável que propõe.

Muitas vezes se diz que o dinheiro, numa arte capitalista como o cinema, facilita as coisas para o cineasta dar seu recado. Verdade nua mostra que nem sempre: dinheiro folgado para quem está acostumado a orçamentos apertados pode fazer descarrilar um pouco sua arte. É o que acontece com Egoyan neste filme.

Por Eron Fagundes

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