06
de julho de 2005
O norte-americano
Wes Anderson é mesmo um realizador excêntrico. Mas
falta-lhe a verdadeira originalidade: apesar da extravagância
de algumas situações, uma narrativa como a do filme
A vida marinha de Steve Zissou (The life aquatic with Steve Zissou;
2004) paga tributo às facilidades da indústria,
com sua opção pelo histrionismo fácil e
pelas soluções formais superficiais. Como ocorria
no terrível Os excêntricos Tenenbaums (2001), Anderson
se esforça por criar uma atmosfera cinematográfica
diferente, mas o que se vê na tela é um produto
híbrido, incômodo como espetáculo e mal formulado
como idéia narrativa.
O
argumento inicial é curioso: um documentarista cujo
desenho de personagem se inspira na evocação histórica
de Jacques Cousteau, está com sua equipe no mar para documentar
a existência dum “tubarão-jaguar”. Isto
poderia gerar auto-reflexões em torno da metalinguagem,
da função do cinema, dos problemas que um cinema
avançado e pessoal traz para nossa visão habitual
de um filme. Mas estas inquietações passam longe
da proposta de Anderson, que se vale do estrelismo desfocado
de Bill Murray na pele do protagonista para procurar um ponto
de conciliação com o observador.
As
relações do cineasta vivido por Bill com um
suposto filho interpretado de maneira muito sem graça
por Owen Wilson são o que há de dolorosamente artificial
ao se tratar de um tema tão complicado; a invasão
de piratas é certamente o ponto em que o navio-filme de
Anderson mais se afunda no ridículo, não logrando
nem mesmo uma paródia aceitável dos velhos filmes
de aventuras.
Apesar
da utilização de velhos astros (Anjelica
Huston, Willem Dafoe), quem está bem em cena é Cate
Blanchett no papel da repórter inglesa grávida
que está ali para acompanhar as filmagens da corrida para
tubarão: bonita, sensível e criativa, Cate não
chega a redimir o fracasso de toda esta embarcação
cinematográfica, mas é um pequeno ponto de luz
nesta escuridão marinha.
Para
os brasileiros, uma curiosidade: o músico carioca
Seu Jorge, um preto que fazia um voraz sexo com Fernanda Torres
em Casa de areia (2005), de Andrucha Waddington, aparece em A
vida marinha de Steve Zissou cantando versões em português
de músicas de David Bowie. Seu Jorge faz Pelé dos
Santos, segurança do navio que intersticialmente entoa
ao violão suas cançonetas; as aparições
musicais de Seu Jorge são os estribilhos do filme, mas é algo
perfeitamente dispensável na história e no espírito
da realização.
Por Eron Fagundes
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