13 de agosto de 2007
Evoluindo bastante em sua concepção do melodrama cinematográfico desde o insosso Minha vida sem mim (2003), a espanhola Isabel Coixet (que rodou o episódio Bastille para a realização coletiva Paris, te amo, 2006 —para não perder seu cacoete, Isabel volta o roteiro de seu fragmento para um caso de doença incurável) apresenta resultados mais sensíveis em A vida secreta das palavras (The secret life of the worlds; 2005). Novamente em cena um sofrimento interminável e uma narrativa onde reflexões sobre o destino humano se abeiram de um sentimentalismo mórbido, próximo do perverso mesmo.
Isabel utiliza com surpreendente eficácia dramática o cenário concentrado duma plataforma marítima para acompanhar o difícil e tenso relacionamento entre um homem doente, cego, e sua enfermeira de ocasião, uma empregada surda do ramo têxtil que está em férias no balneário. O melhor do filme se passa nestas seqüências que não saem da plataforma: o doente extremado e a perplexa mulher que o cuida profissionalmente. É claro que a realizadora espanhola está longe do rigor metafísico do sueco Ingmar Bergman em suas sempre inquietantes utilizações de ambientações fechadas para contemplar o sofrimento dos homens, Isabel chega em certo momento a exasperar com seu teatralismo, as palavras se acavalam tornando as imagens próximas do ranço e da monotonia, este ar de confessionário cinematográfico muitas vezes empaca. Mas A vida secreta das palavras logra dar a volta por cima de suas debilidades (como a extensão final que procura ajeitar as coisas para o romantismo) e conferir à sua relação com o espectador uma dignidade de intenções. O conformismo final não anula a tensa beleza daquilo que se apresentou ao filme nas cenas da plataforma.
Devemos saudar Sarah Polley e Tim Robbins nos papéis centrais, extraordinários. É especialmente tocante a cena em que o cego de Tim toca a volta dos seios da enfermeira de Sarah onde ferimentos físicos cruéis de um passado mal esboçado são vistos (e sentidos com desespero pelo homem doente) pelo espectador. Outro dado interessante é a forma como a realizadora se vale amiúde de segundos planos fora de foco, dando acentuação ao charme de melodrama longínquo do filme. Há também coisas que se perdem um pouco sua estranheza, como a do jovem oceanógrafo que joga basquete e é seguido por um pato que grasna a espaços. Enfim, nada para ficar na história do cinema, mas serve para preencher com interesse a necessidade da platéia por melodrama.
Por
Eron Fagundes