O CINEMA DA VIGARICE
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04 de novembro de 2003

O cineasta inglês Ridley Scott, cuja carreira em Hollywood lhe rendeu admiradores de seu brilho formal revelado especialmente na narrativa de ficção científica Blade Runner, o caçador de andróides (1982), tem feito filmes amorfos em que algum interesse de direção vai perder-se num emaranhado formalista que empaca emocionalmente. É o caso de Os vigaristas (Matchstik men; 2003), mais um título bem feito made in U.S.A. que logo deverá ir para a lata de lixo da história do cinema.

Aparentemente tudo funciona bem em Os vigaristas. O olhar malandro e enviesado de Scott para suas personagens trapaceiras tem pontos de contato com aquela sinuosidade de Joel Coen em O amor custa caro (2003). Nicolas Cage aplica-se denodadamente em compor uma personagem tão problemática quanto inquietante em sua trajetória. Sua coadjuvante adolescente, Alison Lohman, uma filha que ele teria descoberto tardiamente (depois haverá uma virada na história que vai concluir o jogo de trapaças), está travessa e sensual. Mas falta a Scott a sutileza cinematográfica dos Coen, que, mesmo realizando um entretenimento quase descartável, compensam o espectador com algo mais do que a superficialidade aparente.

Menos ambicioso do que geralmente se apresenta em seus filmes, Scott tenta uma modesta comédia em que as poucas situações dramáticas são frágeis e arrebentam ao primeiro olhar.

Por Eron Fagundes