22 de janeiro de 2007
Segundo François Truffaut, um dos mais importantes cineastas franceses, todo filme trata duma história de amor, mesmo que, como ocorre em A noite americana (1973), do próprio Truffaut, no outro pólo do amor esteja mais o cinema do que uma mulher. . A realizadora francesa Isabelle Mergault roda Você é tão bonito (Je vous trouve très beau; 2005), seu primeiro filme, que confirma a tese de Truffaut (todo filme pode ser reduzido a uma história de amor, ou nela ampliado) e esta outra tese de que ninguém melhor do que os franceses sabem filmar o amor: a imaterialidade deste sentimento tão poderoso e tão frágil topa neste estilo suave e espiritual que os franceses têm de fazer um filme um adequado correspondente estético.
Você é tão bonito trata das curiosas relações estabelecidas entre um fazendeiro francês viúvo e uma jovem romena indicada por uma agência de matrimônios que descobriu na Romênia mulheres com dificuldades de sobrevivência que se casam para ascender na vida. Mas não se trata da habitual análise de como se processam os conflitos de gerações no relacionamento amoroso entre pessoas de diferenças etárias; antes de mais nada, o relacionamento é truncado e praticamente não acontece, só enveredando para uma solução fácil (único ponto em que o filme se aproxima dos efeitos hollywoodianos, mas ainda assim utilizando uma sensibilidade particular) no fim da narrativa quando o amor (tão difícil) de fato acontece e ela, retornando da Romênia já não como uma “contratada”, cai nos braços dele, amorosamente, para saciar a fome de bem-estar do espectador.
Por que digo que Você é tão bonito revela o talento dos franceses para as histórias de amor? Se a gente pegar o rol de clichês formais e temáticos de O amor não tira férias (2006), de Nacy Meyers, e o falso bucolismo de Um bom ano (2006), de Ridley Scott, pode notar que as características agrárias e sentimentais de Você é tão bonito são bem mais elaboradas.
Por
Eron Fagundes