VÔO PARA O VAZIO
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07 de março de 2005

É difícil percorrer sem enfado as quase duas horas de trivialidades emocionais que O vôo da Fênix (Flight ot the Phoenix; 2004), filme realizado por John Moore, apresenta para o espectador. Os batidos truques do cinema comercial norte-americano, como a grandiloqüência de imagens e efeitos visuais e inevitáveis jogos de tensões dos episódios, vão sendo semeados com uma inocência narrativa que pressupõe a mínima falta de agudeza da platéia habitual dos cinemas; sabe-se que Hollywood despreza a mente do observador, mas a verdade é que este desdém pela inteligência está chegando a um ponto de vazio muito perigoso.

O cineasta Moore partiu de um texto literário (creio que desconhecido por aqui) e resolveu exercitar seus atributos de artesão. Ele está longe de querer sair da superficialidade. Sua opção pela aventura simplória se evidencia desde o início, quando filma a queda do avião no deserto numa linha tão rasteira e óbvia que evoca os anacrônicos cinedesastres dos anos 70 do século passado.

O grupo de durões atuais do cinema praticado em Hollywood, elevando ao estrelismo atores tão pretensiosos e fracos quanto Dennis Quaid e Giovanni Ribisi, dá saudades de outros tempos, em que Burt Lancaster e Robert Ryan apareciam nas telas com um vigor que nos fascinava. E o contraponto feminino de Miranda Otto está a anos-luz atrás daquilo que uma Claudia Cardinale colocava em seu auge.

Nostalgia, reacionarismo? Nada disto. Tão-somente o apreço por um cinema que interessa.

Por Eron Fagundes