12
de junho de 2006
Contrariando os sábios conselhos de meus amigos Davi de Oliveira Pinheiro (eu deveria parar de falar mal dos filmes que me desagradam) e Anna Hauser (ser menos agressivo em meus comentários), vou tomar por tema hoje X-men: o confronto final (X-men: the last stand; 2006), produção norte-americana dirigida por Brett Ratner. Sou como uma criança teimosa, desobediente: como apreciador de filmes, meto meu bico torto em todos os lugares.
Quem lê meus textos, sabe que tenho uma grande dificuldade em aceitar o cinema só como diversão. Não direi que não sinto os mesmos impulsos elétricos gerados pelo visual de um filme que qualquer espectador normal sente; meu filho de dezesseis anos sempre me lembra que uma das poucas vezes em que me surpreendeu gargalhando num filme foi numa cena boba de American Pie, vejam só que ausência de sofisticação eu no fundo tenho. Mas, passadas as reações superficiais durante a projeção, na maior parte dos casos sobra muito pouca coisa do que vejo nas salas escuras: é esta efemeridade do cinema que muitas vezes me intriga e me leva a escrever sobre os filmes em textos igualmente efêmeros e descartáveis.
Diante de X-men: o confronto final se instalou em mim a consciência de que esta aventurinha da era digital é herdeira das grandes aventuras inspiradas em histórias em quadrinhos levadas às telas nos anos 70 por realizadores como Steven Spielberg e George Lucas (curiosamente, muitos daquela geração que ainda idolatram o Spielberg e o Lucas de então não suportam X-men e seus sucedâneos, comprovando que o conflito final é mesmo de gerações); a aventura pela aventura, a estética da despretensão que outros cineastas mais bem aparelhados, como John Milius e principalmente John Huston, articularam com mais clareza e conseqüência em alguns de seus filmes. X-men é basicamente um filme de gueto, fechado e esotérico, com uma série de personagens e símbolos que diz mais à sua tribo de admiradores do que a qualquer outro observador; no fundo é um filme a chaves mas que pode ser visto pelo grande público porque utiliza uma linguagem-padrão que o torna acessível mesmo que muitas de suas bobagens em cena não fiquem muito claras, como esta distinção (básica no universo da série) entre mutantes e seres humanos normais, sem os poderes especiais; o conceito de “cura” de X-men é também uma obscuridade mal explicada. Seria X-men o Ano passado em Marienbad (1961; Alain Resnais) das mentes características do século XXI?
Por
Eron Fagundes