O BARULHO VISUAL DO CINEMA

19 de Maio de 2003

Para boa parte dos produtores, diretores e espectadores, o cinema deve ter seu barulho visual: cinema de verdade é aquela imagem que causa impacto na visão a partir de seus exageros de fotografia e efeitos técnicos –tem-se a impressão aí de que a parafernália oferecida ao olhar produz um som em si. Os avanços tecnológicos da era digital têm aberto muitos caminhos para os que assim vêem o cinema.

Quando deparo com uma superprodução como X-men 2 (2003), dirigido por Bryan Singer, que se vale de tudo o que é de direito para impressionar seus assistentes cativos, penso numa frase de Shakespeare em que o dramaturgo inglês reflexiona sobre a vida como algo cheio de som e fúria não significando nada. Há um cinema contemporâneo que é assim. A categoria de fantasia escapista a que se filia X-men 2 não tem nenhum compromisso com qualquer realidade ou lógica: permite-se tudo no reino desta imaginação. Corpos em fogo, mãos que são garras fantásticas, explosões e corredores de luz servem para edulcorar um roteiro bastante primário que, aproveitando o momento de tensão internacional desencadeado a partir dos Estados Unidos da América, divaga tolamente sobre política.

Os defensores de X-men 2 (um mal necessário, pois inevitável sucesso de bilheteria permite a existência da indústria cinematográfica) vão alegar que se trata de aventura de entretenimento. Mas a ingenuidade desta realização, como a da série guerra nas estrelas, é incrustar as patriotadas ianques para vende-las nos quintais de Hollywood.

Por Eron Fagundes