07
de março de
2005
Como
os norte-americanos Sam Peckinpah e Quentin Tarantino, o japonês
Takeshi Kitano é um diretor de cinema apaixonado pelas
seqüências violentas. A violência cênica,
mais do que um tema nos filmes destes realizadores, é um
elemento de estética cinematográfica: incrusta-se
na dinâmica da linguagem. Em Zatoichi (Zatôichi;
2003) Kitano vai mais longe em sua busca da filmagem violenta
gratuita e dos sarcásticos banhos de sangue, deixando
um pouco de lado sua veia lírica de filmar e aproximando-se
tanto quanto possível do deboche paródico da obra
fílmica de Tarantino; mas o ritmo narrativo japonês
se impõe e Kitano chega perigosamente a um pico de esterilidade
formal que desestrutura as intenções estilísticas
(conquanto belas) de seu cinema.
Zatoichi se alinha como um filme de samurai, ou melhor, de gangue de samurai.
A narrativa é cortada e marcada pelo estranho
e preciso samurai cego que vai vingar as vítimas eliminando
os perversos bandidos; Kitano interpreta (ele próprio
em cena) com ironia este massagista cego que executa os mais
incríveis banhos de sangue do cinema recente.
Abandonando
em parte os planos lentos, contemplativos, fixos de trabalhos
como O mar mais silencioso daquele verão
(1991) e Dolls (2002), Kitano torna seu cinema mais acessível
a um público de entretenimentos, mas ao mesmo tempo nos
faz questionar sua capacidade de escapar à esterilidade
de um formalismo tão burilado quanto sem função.
Por Eron Fagundes
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