A VIOLÊNCIA COMO ESPETÁCULO
 

 

16 de junho de 2007

Em Zodíaco (Zodiac; 2007) o realizador norte-americano David Fincher se esforça por fugir aos lugares-comuns do gênero policial, o que ele executou sem pudores em Seven, os sete pecados capitais (1995); este esforço se caracteriza pela busca de estabelecer relações sociológicas entre a violência e o espetáculo que dela faz a mídia, criando uma linguagem pretensamente reflexiva. Talvez a cena básica desta permuta entre o suspense inútil (entretenimento) e alguns signos críticos de linguagem estejam centrados na visita que o cartunista-investigador faz a um dono de cinema onde teria passado um filme dos anos 30 nove dias antes de o criminoso chamado Zodíaco começar a espalhar seu terror: como diz o homem do cinema, teria Zodíaco tido a inspiração ao ver o filme em seu cinema? Há um ar amedrontador na atmosfera criada pela personagem do cartunista e certas inquietações sociais que na verdade, na verdade mesmo o restante de Zodíaco não tem: as trivialidades formais e a superficialidade dos caracteres são as mesmas de Seven, é mais um filme da indústria onde as estripolias do roteiro (aqui baseado numa história real do fim da década de 60) não devem ocultar a pouca criatividade estilística de um artesão como Fischer.

A trama é dos anos 60, mas logo se vê que esta idéia bastante palpável da violência que sai das telas para a realidade, o cinema como gerador de realidades violentas, tem acompanhado o meio social e o meio cinematográfico numa dialética constante até nossos dias. Há alguns anos um espectador dentro dum cinema paulista que exibia um filme de violência passou a atirar contra a platéia. Fischer exacerba na questão das relações dos jornalistas com policiais e criminoso, mas está anos-luz para baixo daquilo que Richard Brooks fez em A sangue-frio (1967) a partir dum romance de Truman Capote; Fischer é certamente muito mais industrial que estes artistas autênticos: preenche a parte mais superficial do olho do observador, e se acerca dos impactos fáceis do cinema.

Demais, Zodíaco alonga-se muito em suas circunvoluções, podendo ser resolvido em menos tempo e com mais eficiência em seus mecanismos narrativos (todos frívolos, é um fato). Do elenco, Mark Ruffalo está bem, Robert Downey Jr. é até aceitável, mas Jake Gyllenhaal é novamente difícil de aturar em seus trejeitos infantis. A infantilidade da interpretação capta, creio, um dos vícios de Zodíaco: sua inconsistente ingenuidade de propósitos e realização.

Por Eron Fagundes

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