Muito
antes da Noiva de Uma Thurman em “Kill
Bill”, as mulheres já eram figura fácil
no cinema de ação. No início
eram poucas, como Angela Mao. Nos final anos 80,
surgiram figuras como Cynthia Rothrock, Michelle
Yeoh e Cynthia Khan. Mas antes delas, Reiko Ike e
Miki Sugimoto já chutavam traseiros a torto
e direito num gênero que surgiu nos anos 70
e revolucionou o cinema japonês de ação:
o Sukeban.
“Sukeban” é uma contração
das palavras "suke" (fêmea) e "bancho" (chefe),
e é geralmente associado a delinquentes juvenis,
ou “bad girls” (“Zubeko”,
em japonês). Explica-se: como na sociedade
japonesa a mulher é geralmente pega pra capacho
em qualquer situação, a idéia
de uma garota forte e independente é, ao mesmo
tempo, um fetiche e um pesadelo para o japonês
tradicionalista. Daí o sucesso imenso desse
estilo de filme, também chamado de Kogal (ou
Kogaru), quando foram lançados nos ainda pudicos
anos 70.
Basicamente, o Sukeban/Kogal
dos anos 70 é exatamente
o que Tarantino fez recentemente em Kill Bill: colocar
garotas em uniformes colegiais (o fetiche máximo
do Japão) em posição de poder
e rebeldia: elas bebem, fumam, se drogam, matam aulas...
e gente!
O gênero, claro, não surgiu do nada.
Era um reflexo, evidentemente machista, do crescente
feminismo no Japão. Para os pobres nipônicos,
acostumados com a subserviência de suas gueixas-esposas,
o fortalecimento das mulheres simplesmente não
ia dar coisa boa!
E agora, para documentar
essa época, o selo
americano Panik
House está lançando
em DVD a The Pinky Violence Collection,
reunindo seis clássicos do Sukeban. Ei-los:
Sex & Fury (Furyou Anego den: Inoshika
Ocho, 1973)
Esta produção da Toei aproveitou o
sucesso da série “Lone Wolf & Cub” para
fazer este filme passado no Japão feudal (período “Edo”,
para quem lê os gibis do Lobo Solitário).
Conta a história de Asami (Reiko Ike), uma
mulher que decide se vingar dos gângsters que
mataram seu irmão. E ela o faz em grande estilo,
usando uma espada... e só! Lembra da cena
de “Kill Bill” em que a Uma Thurman duela
sozinha contra um monte de samurais modernos fantasiados
de Besouro Verde? Imagine a mesma cena, com Uma Thurman
PELADINHA DA SILVA, e você tem “Sex & Fury” – que,
para apimentar ainda mais os trabalhos, conta ainda
com uma pontinha da sex symbol sueca Christina Lindbergh – que,
também não por acaso, estrelou outro
dos filmes que inspiraram “Kill Bill”: “Thriller:
A Cruel Picture”.
Female Yakuza
Tale: Inquisition & Torture
(Yasagure Anego den: Sokatsu Rinchi, 1973)
Numa época me que o contrabando de heroína
cresce no Japão, prostitutas são forçadas
a bancar as mulas e transportar a droga para outras
paragens. Mas uma rebelde vingadora, igualmente vivida
por Reiko Ike, também decide vingar a raça
feminina usando como armas sua sensualidade e sua
espada !
Criminal Woman: Killing Melody (Zenka Onna Karoshi
Bushi, 1973)
Esse foi o filme que deu início à famosa
série “Zero Woman”, que existe
até hoje em várias formas. E quem foi
a primeira Zero Woman? Se você pensou “Reiko
Ike”, errou; embora a onipresente Reiko também
esteja nesse filme, a heroína, Rei, é vivida
pela igualmente sensual Miki Sugimoto, mais uma mulher
em busca de vingança.
Terrifying Girls' High School: Lynch Law Classroom
(Kyoufu Joshi Koukou: Bouroku Rinchi Kyoushitsu,
1973)
Miki Sugimoto e Reiko Ike retornam nessa estória
que se passa num internato para colegiais, onde uma
garota é torturada e assassinada logo no começo.
Esse, ao contrário dos anteriores, não
tem vingança. Pior: mostra Miki e Reiko como
garotas más de verdade, sem chance de redenção!
Girl Boss Guerilla (Sukeban Gerira, 1972)
Motoqueiras endiabradas! Mulheres trocando sopapos!
Gangues violentas! Miki Sugimoto e Reiko Ike juntas
DE NOVO! Se “Terryfying Girls´ Hight
School” deve muito aos filmes de presídio
feminino que eram moda na época (“Caged
Heat”, “99 Women”, etc), “Girl
Boss Guerilla” é a resposta japonesa
ao clássico “Faster Pussycat Kill
Kill”, de Russ Meyer, estrelando mulheres
armadas até os dentes (algumas usam os próprios
dentes como armas!) que não dão mole
pra malandro.
Delinquent Girl Boss: Worthless To Confess (Zubenko
Bancho Zange No Neuchi Mo Nai, 1971)
Esse é o ultimo volume da série “Zubeko
Bancho”, estrelada por... Reiko Ike? Não:
Reiko Oshida, a líder de uma gang de garotas
gangster que fazem bico trabalhando como go-go girls
num bar.
Por Sergio Martoreli