COLEÇÃO WALTER HUGO KHOURI (BOX COM 3 DVDS)

 

Com Norma Bengel, Odete Lara, Mário Benvenuti, Barbara Laage, Pedro Paulo Hatheyer, Paulo José, Jacqueline Myrna, Lilian Lemmertz

 

Diretor

Duração

Produção

Walter Hugo Khouri

98/98/107 minutos

1964/1966/1968 , Brasil

Gênero(s)

Distribuidora

Data de Lançamento

Drama

Cinemagia

30/10/2003

SOM & IMAGEM
FILME
EXTRAS & MENUS
GERAL
Áudio
Legendas
Vídeo
Região

Português (DD 2.0)
Sem Legendas
Sinopse

Musas imortalizadas pela lente de um grande mestre em imagens belíssimas com o toque inconfundível de Walter Hugo Khouri. Fazem parte desta coleção:

Noite Vazia (1964): Dois ammigos contratam os serviços de uma dupla de prostitutas. O que seria uma noite de prazer aaba se transformando em um embate entre os quatro, revelando pouco a pouco, suas angústias e ressentimentos e aflorando seus sentimentos mais íntimos e profundos. Obra máxima de Walter Hugo Khourim, considerada por críticos e público como um dos filmes mais importantes do cinema nacional em todos os tempos.

O Corpo Ardente (1966): Distante da cidade, uma mulher procura domar os cavalos selvagens de seus sentimentos mais profundos. "O Corpo Ardente" é o filme mais pessoal, pvovocativo e, por muitos atributos, o favorito do próprio Walter Hugo Khouri.

As Amorosas (1968): Pode um jovem cercado de amigos, paparicando pela irmã e assediado pelas mulheres mais lindas estar em um buraco existencial que parece não ter fim? A resposta vem através de uma interpretação magnífica de Paulo José guiado pelas mãos magistrais de Walter Hugo Khouri, que realizou um filme colocando em questão as angústias e dilemas da juventude dos anos 60. Com a participação antológica do grupo Os Mutantes.

Comentários

Noite Vazia: “Penso que o problema estético primordial em nosso cinema é o da maneira de falar.” (Paulo Emílio Sales Gomes, in “Conto, fita e conseqüências”, artigo publicado na imprensa paulista em 13.04.1957)

No começo de Até que a vida nos separe (1999), de José Zaragoza, a atriz Júlia Lemmertz chega em casa e dialoga com um gato que está em seu sofá. “Comeu tudinho? Que você fez hoje? Cuidou direitinho da casa?” A trivialidade das frases, aliada ainda ao jeito desglamurizado de dizê-las por parte da intérprete, é um choque nos ouvidos colonizados, habituados aos sons em inglês em filmes. A maneira de falar sempre foi um questão no cinema brasileiro. Em Outras histórias (1999), de Pedro Bial, o diretor resolve o problema chamando a atenção para o tom recitativamente literário com que os atores se expressam, mais ou menos à maneira do que fazia Carlos Alberto Prates Correa em outra incursão no universo de Guimarães Rosa, Noites do sertão (1984).

A revisão de um cineasta como o paulista Walter Hugo Kohouri permite avaliar que às vezes o cinema brasileiro acertou o jeito de dizer os diálogos: nem a espontaneidade meio encabulada da fita de Zaragoza, nem o artificialismo adrede de Bial, mas uma naturalidade em que encenação e interpretação se casam. Extremamente fechado em seu mundo –um mundo burguês em decomposição moral—Noite vazia (1964) permanece como o mais interessante filme dirigido por Walter Hugo Khouri. O realizador fez de Noite vazia o modelo máximo de seu cinema, claramente inspirado no italiano Michelangelo Antonioni, mas que não se confunde com um pastiche ao estilo de Interiores (1978), do norte-americano Woody Allen. A abrangência social da fita de Khouri sempre foi muito questionada. Mesmo assim, lá pelo fim de Noite vazia temos uma cena que procura situar a história narrada em seu tempo histórico. A personagem vivida por Mário Benvenutti passa os olhos por algumas revistas em que o espectador é informado de alguns fatos da época, como a corrida espacial e o assassinato de John Kennedy (curiosamente o nome de Kennedy estava num dos comentários radiofônicos de Os cafajestes, 1962, outra narrativa sombria daqueles anos, mais vincada na realidade social do país e rodada antes da morte de Kennedy). Noite vazia, no que difere de seu irmão mais desabusado Os cafajestes, adota o habitual rigor estilístico de Khouri, em que todos os elementos cênicos (a elaboração dos cenários, a tensão do olhar dos atores, a utilização dos elementos naturais como a chuva que cai na vidraça proporcionando aqueles antológicos planos de memória da criatura de Norma Bengell com direito à visão dos bolinhos fritando e tudo o mais da infância, a asfixia da grande metrópole captada em alguns planos fechados) obedecem a um estudo prévio.

Voltando ao centro inicial deste comentário, é bom o espectador de hoje degustar esta frescura de falar que Khouri, excelente diretor de atores, sabe inserir em seus filmes mais antigos. Passados quase quarenta anos da realização de Noite vazia, o prazer de ver e ouvir permanece intacto. (Eron Fagundes)

Corpo Ardente: Um dos exemplares mais bem acabados do estilo cinematográfico do cineasta paulista Walter Hugo Khouri é O corpo ardente (1966), onde a sedução do realizador por olhares, expressões faciais, delicadas panorâmicas e cenários luxuosos atingem um alto nível de encantamento e mesmo profundidade. Numa determinada época posterior (nos tempos de O convite ao prazer, 1980), Khouri mantinha a beleza plástica de seu estilo de filmar, mas resvalava em certas facilidades que não condiziam com um passado que apresentara ao público algo tão inquietante quanto Noite vazia (1964). Ocorre que O corpo ardente é produto da fase mais admirável da carreira do diretor. A precisão de Khouri para expor o vazio existencial duma mulher burguesa que lá pelas tantas se sente atraída por um belo cavalo negro ao vê-lo copular com uma égua branca (cena devidamente elíptica, como requeria a censura ou os pudores mesmo de filmar) é cheia de preciosas anotações; a trilha musical de Rogério Duprat e as sinuosidades de fotografia de Rudolf Icsey formam um contraponto com as discussões metafísicas das personagens. O filho da burguesa pode ser um auto-retrato de Khouri, pois tem um projetor em que projeta filmes amadores; na última cena ele mostra para sua mãe na telinha: ele mesmo, a mãe, o pai e, por fim, o cavalo andando, cena mais demorada e de maior impressão para a mulher. (Eron Fagundes)

As Amorosas: Este é talvez o filme mais auto-biográfico de Khouri, apresentando pela primeira vez o seu personagem (e possível alter-ego) Marcelo. Numa estética própria, com a abordagem de seus temas mais marcantes: a questão do incesto (no caso, com sua irmã) e da obsessão sexual do personagem principal. Claro que a narrativa envelheceu, não estamos mais na época do "flower power" e o movimento estudantil não é o mesmo (por óbvio), os diálogos não resistiram bem, mas a estética lenta e chamada por muitos de “sexy-chique”, que marcou seus filmes subseqüentes, está aqui iniciada. Com um bom e eclético elenco, Khouri mostra suas correntes filosóficas e teóricas que o acompanharam por toda a sua carreira, unindo a psicologia e a literatura. Marcelo começa a sua eterna busca da procura à mulher ideal, por vezes de forma obsessiva, doente. Uma curiosidade: Khouri é quem faz o trabalho de operador de câmera, creditado com o pseudônimo de Ruper Khouri (ele dominava muito bem todas as técnicas cinematográficas). Considerado um dos melhores trabalhos do diretor, vale ao menos uma olhada.

Extras

ENREVISTA: há depoimento em cada DVD. Noite Vazia: com o crítico e cineasta Alfredo Stenheim, com 7:15 minutos, contando alguns fatos e curiosidades profissionais de sua convivência com o diretor. Corpo Ardente: com a esposa Nadir Khouri, abordando o lado pessoal da sua vida ao lado de Khouri, em 9:30 minutos. As Amorosas: desta vez o depoimento é do filho do diretor, relatando algumas memórias e sua expectativa sobre o acervo do pai. 6:45 minutos.

FRAGMENTOS: gravações caseiras de Walter, faltando apenas uma maior informação sobre a origem de cada uma. Com respectivamente 6:40, 3:10 e 3:40 minutos.

TRAILER ORIGINAL dos 3 filmes. Interessante notar o “certificado de censura” no Noite Vazia.

GALERIA DE FOTOS: de cenas e bastidores dos três filmes, com respectivamente 30, 40 e 50 fotos.

BIOGRAFIA: de Khori, nos 3 DVDs, com um bom texto de 5 páginas. Noite Vazia: de Odete Lara, Norma Bengell e Mário Bevenuti. Corpo Ardente: de Bárbara Laage e Dina Sfat. As Amoraosas: de Paulo José e Lílian Lemmertz. Todos em uma breve página de texto.

FILMOGRAFIA: do diretor e dos mesmos atores das biografias.

OUTROS LANÇAMENTOS: textos de 1 página com a capa de 14 títulos da Cinemagia. Há o crédito para o Prêmio DVD Brasil (organizado pelo DVD Magazine) para os vencedores de 2003, Coleção Zé do caixão e Mazaroppi Vol 1.

Críticas ao DVD

Importante lançamento de 3 dos filmes mais importantes de Khouri, falecido no mesmo ano da sua produção (2003). Pena que a qualidade da imagem dos 3 filmes é realmente muito ruim, principalmente de As Amorosas (está crítica). Idem com relação ao áudio.

Os extras são bem legais, destaque para os trailers de época (raros no cinema nacional), com menus estáticos mas bem realizados. A embalagem está bem idealizada, acompanhando um livreto explicando o projeto e com uma carta de Khouri endereçada à Glauber Rocha em 1959, além de sua biografia.

Um item especial, que deve ser analisado como um bom resgate da memória do cinema nacional. Perde pontos na sua cotação geral por causa da qualidade técnica dos filmes. Apesar disso, merece ser conferido.

Menus
Resenha publicada em 13/12/2003
Por Eron Fagundes e Edinho Pasquale

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