Musas imortalizadas pela lente de um grande mestre
em imagens belíssimas com o toque inconfundível
de Walter Hugo Khouri. Fazem parte desta coleção:
Noite
Vazia (1964): Dois ammigos contratam os
serviços de uma dupla de prostitutas. O
que seria uma noite de prazer aaba se transformando
em um embate entre os quatro, revelando pouco a
pouco, suas angústias e ressentimentos e
aflorando seus sentimentos mais íntimos
e profundos. Obra máxima de Walter Hugo
Khourim, considerada por críticos e público
como um dos filmes mais importantes do cinema nacional
em todos os tempos.
O
Corpo Ardente (1966): Distante da cidade,
uma mulher procura domar os cavalos selvagens de
seus sentimentos mais profundos. "O Corpo
Ardente" é o filme mais pessoal, pvovocativo
e, por muitos atributos, o favorito do próprio
Walter Hugo Khouri.
As
Amorosas (1968): Pode um jovem cercado
de amigos, paparicando pela irmã e assediado
pelas mulheres mais lindas estar em um buraco existencial
que parece não ter fim? A resposta vem através
de uma interpretação magnífica
de Paulo José guiado pelas mãos magistrais
de Walter Hugo Khouri, que realizou um filme colocando
em questão as angústias e dilemas
da juventude dos anos 60. Com a participação
antológica do grupo Os Mutantes.
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Noite Vazia: “Penso que o
problema estético primordial em nosso cinema é o
da maneira de falar.” (Paulo Emílio
Sales Gomes, in “Conto, fita e conseqüências”,
artigo publicado na imprensa paulista em 13.04.1957)
No
começo de Até que a vida nos
separe (1999), de José Zaragoza,
a atriz Júlia Lemmertz chega em casa e dialoga
com um gato que está em seu sofá. “Comeu
tudinho? Que você fez hoje? Cuidou direitinho
da casa?” A trivialidade das frases, aliada
ainda ao jeito desglamurizado de dizê-las por
parte da intérprete, é um choque nos
ouvidos colonizados, habituados aos sons em inglês
em filmes. A maneira de falar sempre foi um questão
no cinema brasileiro. Em Outras histórias (1999),
de Pedro Bial, o diretor resolve o problema chamando
a atenção para o tom recitativamente
literário com que os atores se expressam,
mais ou menos à maneira do que fazia Carlos
Alberto Prates Correa em outra incursão no
universo de Guimarães Rosa, Noites
do sertão (1984).
A
revisão de um cineasta como o paulista Walter
Hugo Kohouri permite avaliar que às vezes
o cinema brasileiro acertou o jeito de dizer os diálogos:
nem a espontaneidade meio encabulada da fita de Zaragoza,
nem o artificialismo adrede de Bial, mas uma naturalidade
em que encenação e interpretação
se casam. Extremamente fechado em seu mundo –um
mundo burguês em decomposição
moral—Noite vazia (1964) permanece
como o mais interessante filme dirigido por Walter
Hugo Khouri. O realizador fez de Noite vazia o
modelo máximo de seu cinema, claramente inspirado
no italiano Michelangelo Antonioni, mas que não
se confunde com um pastiche ao estilo de Interiores (1978),
do norte-americano Woody Allen. A abrangência
social da fita de Khouri sempre foi muito questionada.
Mesmo assim, lá pelo fim de Noite
vazia temos uma cena que procura situar
a história narrada em seu tempo histórico.
A personagem vivida por Mário Benvenutti passa
os olhos por algumas revistas em que o espectador é informado
de alguns fatos da época, como a corrida espacial
e o assassinato de John Kennedy (curiosamente o nome
de Kennedy estava num dos comentários radiofônicos
de Os cafajestes, 1962, outra narrativa
sombria daqueles anos, mais vincada na realidade
social do país e rodada antes da morte de
Kennedy). Noite vazia, no que difere
de seu irmão mais desabusado Os cafajestes,
adota o habitual rigor estilístico de Khouri,
em que todos os elementos cênicos (a elaboração
dos cenários, a tensão do olhar dos
atores, a utilização dos elementos
naturais como a chuva que cai na vidraça proporcionando
aqueles antológicos planos de memória
da criatura de Norma Bengell com direito à visão
dos bolinhos fritando e tudo o mais da infância,
a asfixia da grande metrópole captada em alguns
planos fechados) obedecem a um estudo prévio.
Voltando
ao centro inicial deste comentário, é bom
o espectador de hoje degustar esta frescura de falar
que Khouri, excelente diretor de atores, sabe inserir
em seus filmes mais antigos. Passados quase quarenta
anos da realização de Noite
vazia, o prazer de ver e ouvir permanece
intacto. (Eron Fagundes)
Corpo
Ardente: Um dos exemplares mais bem acabados
do estilo cinematográfico do cineasta paulista
Walter Hugo Khouri é O corpo ardente (1966),
onde a sedução do realizador por
olhares, expressões faciais, delicadas panorâmicas
e cenários luxuosos atingem um alto nível
de encantamento e mesmo profundidade. Numa determinada época
posterior (nos tempos de O convite ao prazer, 1980),
Khouri mantinha a beleza plástica de seu
estilo de filmar, mas resvalava em certas facilidades
que não condiziam com um passado que apresentara
ao público algo tão inquietante quanto Noite
vazia (1964). Ocorre que O corpo
ardente é produto da fase mais
admirável da carreira do diretor. A precisão
de Khouri para expor o vazio existencial duma mulher
burguesa que lá pelas tantas se sente atraída
por um belo cavalo negro ao vê-lo copular
com uma égua branca (cena devidamente elíptica,
como requeria a censura ou os pudores mesmo de
filmar) é cheia de preciosas anotações;
a trilha musical de Rogério Duprat e as
sinuosidades de fotografia de Rudolf Icsey formam
um contraponto com as discussões metafísicas
das personagens. O filho da burguesa pode ser um
auto-retrato de Khouri, pois tem um projetor em
que projeta filmes amadores; na última cena
ele mostra para sua mãe na telinha: ele
mesmo, a mãe, o pai e, por fim, o cavalo
andando, cena mais demorada e de maior impressão
para a mulher. (Eron Fagundes)
As
Amorosas: Este é talvez o filme
mais auto-biográfico de Khouri, apresentando
pela primeira vez o seu personagem (e possível
alter-ego) Marcelo. Numa estética própria,
com a abordagem de seus temas mais marcantes: a
questão do incesto (no caso, com sua irmã)
e da obsessão sexual do personagem principal.
Claro que a narrativa envelheceu, não estamos
mais na época do "flower power" e
o movimento estudantil não é o mesmo
(por óbvio), os diálogos não
resistiram bem, mas a estética lenta e chamada
por muitos de “sexy-chique”, que marcou
seus filmes subseqüentes, está aqui
iniciada. Com um bom e eclético elenco,
Khouri mostra suas correntes filosóficas
e teóricas que o acompanharam por toda a
sua carreira, unindo a psicologia e a literatura.
Marcelo começa a sua eterna busca da procura à mulher
ideal, por vezes de forma obsessiva, doente. Uma
curiosidade: Khouri é quem faz o trabalho
de operador de câmera, creditado com o pseudônimo
de Ruper Khouri (ele dominava muito bem todas as
técnicas cinematográficas). Considerado
um dos melhores trabalhos do diretor, vale ao menos
uma olhada.
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ENREVISTA: há depoimento
em cada DVD. Noite Vazia: com o crítico e
cineasta Alfredo Stenheim, com 7:15 minutos, contando
alguns fatos e curiosidades profissionais de sua
convivência com o diretor. Corpo Ardente: com
a esposa Nadir Khouri, abordando o lado pessoal da
sua vida ao lado de Khouri, em 9:30 minutos. As Amorosas:
desta vez o depoimento é do filho do diretor,
relatando algumas memórias e sua expectativa
sobre o acervo do pai. 6:45 minutos.
FRAGMENTOS: gravações
caseiras de Walter, faltando apenas uma maior informação
sobre a origem de cada uma. Com respectivamente 6:40,
3:10 e 3:40 minutos.
TRAILER
ORIGINAL dos 3 filmes. Interessante notar
o “certificado de censura” no Noite
Vazia.
GALERIA
DE FOTOS: de cenas e bastidores dos três
filmes, com respectivamente 30, 40 e 50 fotos.
BIOGRAFIA: de
Khori, nos 3 DVDs, com um bom texto de 5 páginas.
Noite Vazia: de Odete Lara, Norma Bengell e Mário
Bevenuti. Corpo Ardente: de Bárbara Laage
e Dina Sfat. As Amoraosas: de Paulo José e
Lílian Lemmertz. Todos em uma breve página
de texto.
FILMOGRAFIA: do
diretor e dos mesmos atores das biografias.
OUTROS
LANÇAMENTOS: textos de 1 página
com a capa de 14 títulos da Cinemagia. Há o
crédito para o Prêmio DVD Brasil (organizado
pelo DVD Magazine) para os vencedores de 2003,
Coleção Zé do caixão
e Mazaroppi Vol 1.
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Importante lançamento de 3 dos filmes mais
importantes de Khouri, falecido no mesmo ano da sua
produção (2003). Pena que a qualidade
da imagem dos 3 filmes é realmente muito ruim,
principalmente de As Amorosas (está crítica).
Idem com relação ao áudio.
Os
extras são bem legais, destaque para os trailers
de época (raros no cinema nacional), com menus
estáticos mas bem realizados. A embalagem
está bem idealizada, acompanhando um livreto
explicando o projeto e com uma carta de Khouri endereçada à Glauber
Rocha em 1959, além de sua biografia.
Um
item especial, que deve ser analisado como um bom
resgate da memória do cinema nacional. Perde
pontos na sua cotação geral por causa
da qualidade técnica dos filmes. Apesar disso,
merece ser conferido.
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