O INVASOR

 

Com Marco Ricca, Alexandre Borges, Paulo Miklos, Mariana Ximenes, Malu Mader, George Freire

 

Diretor

Duração

Produção

Beto Brant

97 minutos

2001, Brasil

Gênero(s)

Distribuidora

Data de Lançamento

Drama

Europa Filmes

13/11/2002

SOM & IMAGEM
FILME
EXTRAS & MENUS
GERAL
Áudio
Legendas
Vídeo
Região

Português (DD 5.1 e DD 2.0)
Inglês, Francês, Espanhol

LETTERBOX / NÃO ANAMÓRFICO
Sinopse

O Invasor narra a história de três amigos - companheiros de faculdade que são sócios em uma construtora. Tudo corre bem até o dia em que um desentendimento na condução dos negócios os coloca em conflito. Estevão (George Freire), o sócio majoritário, ameaça desfazer a sociedade. Ivan (Marco Ricca) e Gilberto (Alexandre Borges), acuados, resolvem eliminar o sócio, acreditando que poderão conduzir a construtora de modo diferente.O plano dá errado quando Anísio (Paulo Miklos), o matador contratado, passa a interferir nos negócios da empresa.Narrado em ritmo nervoso, com grandes interpretações - os destaques femininos são Malu Mader e Mariana Ximenes - , O Invasor é um filme que veio para ficar na sua memória.

Comentários

NOTA INICIAL: Só poderá entender a ironia do título deste artigo quem leu o livro ou viu o filme.

Literatura e cinema não são a mesma coisa, o cinema não é um gênero da literatura, mas uma e outro se intercambiam, como acontece na relação entre todas as artes. Há quem julgue que o cinema seja mais parente das artes plásticas; neste sentido o diretor de fotografia é mais importante que o roteirista. Há até quem julgue que o cinema nem sequer seja arte, só um divertimento industrial; é o que pensam alguns intelectuais que reagem negativamente a qualquer meio de comunicação que em algumas de suas formas possa ter a pretensão de dialogar com as massas. O lado narrativo-literário do cinema vem da existência de um roteiro escrito. Certa vez o crítico carioca José Carlos Avellar se perguntava num livro por que anotamos os filmes no papel antes de filmá-los, por que não os desenhamos? Em literatura, é bom lembrar, o gaúcho Erico Veríssimo revelou em seu livro de memórias que desenhava suas personagens antes de começar a compor seus romances. Enfim, a questão da possível origem literária de uma certa parte do cinema é complexa.

Mas o roteiro é tão-somente o esqueleto de um filme. Um bom roteiro é um ponto de partida para um bom filme, mas não é garantia. E que é mesmo um bom roteiro? Pode-se falar de um bom roteiro -literariamente-e de outro bom roteiro -cinematograficamente. Os roteiros do sueco Ingmar Bergman e do francês Eric Rohmer têm extraordinário peso literário. Já não se pode dizer o mesmo dos roteiros do brasileiro Carlos Diegues, cuja armação cinematográfica chega algumas vezes, como em Chuvas de verão (1978), a produzir obras extraordinárias. A importância da palavra na literatura é cem por cento; no cinema é só um dos elementos, que pode ter relevância como em Rohmer e em seu patrício Alain Resnais e pode ser secundário como em Quentin Tarantino.

Aí chegamos ao cineasta Beto Brant e ao romancista Marçal Aquino. Brant é admirador de Tarantino e seus roteiros, cuja parceria com o ficcionista Aquino é constante, mergulham num submundo tratado pelos roteiristas com nenhuma literatura. Mas os filmes são bons, conseqüentes, envolventes.

O invasor (2001), o filme de Beto Brant, foi mal lançado em Porto Alegre e o público deixou de descobrir uma obra cinematográfica que poderia seduzi-lo como espetáculo, pois a habilidade de Brant para a narrativa policial é uma raridade em nosso cinema; e ele logra este feito sem concessões comerciais, sem perder o pé na dura realidade brasileira. A falta de mão para o gênero policial no Brasil é exemplificada pelo cineasta Roberto Santucci Júnior e seu desastrado Bellini e a esfinge (2002). São muitas as coincidências entre a realização de Brant e a de Santucci. Ambas nasceram da transformação de livros (cuja fundamentação literária é discutível) em filmes. O universo dos dois filmes é o mesmo; isto é, circula pelas figuras de corruptos, drogados, assassinos, prostitutas, cuja linguagem é incorporada aos diálogos de maneira quase naturalista. A coincidência mais saliente vem da presença da atriz Malu Mader, que vive nos dois filmes a mesma personagem: uma meretriz fatal. Claro: o roteiro de Brant/Aquino é mais organizado, tem mais cabeça, mas a diferença essencial é o cérebro cinematográfico que maneja a câmara. O visual adrede despido e despojado e os movimentos trêmulos da câmara asfixiam o observador diante da visão do filme, rodado inicialmente em 16 mm (o que lhe confere a característica desfocada própria para o mundo em foco) e depois passado para a bitola comercial de 35 mm.

A novela O invasor (2002), de Marçal Aquino, é gêmea do filme de Brant: o texto literário vinha sendo elaborado por Aquino e foi concluído após a rodagem do filme. A Geração Editorial oferece ao analista algo soberbo: a narrativa de Aquino e sua transformação em roteiro cinematográfico. A verdade é que a tentação do cinéfilo é envolver-se com o livro graças à memória do filme, despersonalizando-se criticamente; mas ao observador literário parece claro que a obra de Aquino, conquanto bem armada, não tem peso literário. Não que o submundo em que mergulhe não mereça voz na literatura. Há alguns anos o carioca Paulo Lins lançou um belo e extenso romance, Cidade de Deus (1997), há pouco vertido para filme (inédito por aqui) e que vai ao baixo universo dos marginais do Rio para dali extrair sua pujança literária. O problema é que O invasor de Aquino parece isto mesmo: anotações para um filme. Fazer da literatura trampolim para um filme abastarda a literatura, assim como reduzir o cinema a mera literatura pode torná-lo pedante.

No filme de Betro Brant a palavra é menos importante do que a posição ou o movimento da câmara ou a especial fotografia que dá o tom sujo que interessa para expressar um determinado meio social. No livro de Marçal Aquino sentimos falta da sofisticação da câmara para destrivializar o texto. O roteiro aposto à novela, roteiro muito técnico, cheio de referências à personagem da câmara, leitura árida e sem emoção (diferentemente da novela, que sobrevive graças à articulação fácil do suspense, e do filme, rodado com brilho em sua linguagem de cinema), dizia eu que o roteiro corporifica a ausência da câmara na novela de Aquino.

"47 EXT. INT. FRENTE E INTERIOR DA CONSTRUTORA - DIA

Plano-seqüência. Câmera serve de ponto de vista para mostrar a fachada da construtora e depois segue em direção à porta. Câmera entra na empresa e chega até a recepção onde está a garota recepcionista, que neste momento está ocupada falando ao telefone. Ela ergue os olhos, vê o recém-chegado. Este passa por ela e se dirige para o corredor, não dando tempo de que ela interrompa sua ligação para falar com ele.

Ponto de vista segue pelo corredor, observando os setores e funcionários da construtora, que olham para a câmera/ponto de vista.

Câmera chega à mesa de LÚCIA."

Esta cena, no filme, revela a fundamental essência cinematográfica da câmara no filme de Brant. A mesma cena, no livro de Aquino, segue o esquema fácil de todo o livro. Aquino, bom roteirista de cinema, não logrou topar em sua novela um correspondente literário para as rupturas visuais criadas por Brant em seus filmes. De que O invasor é o ponto alto.

NOTA FINAL: Se a novela de Aquino é narrada na primeira pessoa por Ivan, a linguagem cinematográfica de Brant descarta este recurso "literário", substituindo este narrador pela câmara, a certa altura do roteiro chamada apropriadamente ponto de vista. Da novela para o roteiro-filme algumas alterações ocorrem, como algumas frases ainda mais naturais na fala e a troca de nomes: Alaor vira Gilberto, vulgo Giba, e a prostituta Paula se transforma em Cláudia, a personagem de Malu Mader. (Eron Fagundes)

Extras

- Making Of (Legendas em Inglês): um bom documentário, sem os padrões gringos, mostrando muitas cenas de bastidores e depoimentos interessantes, complementares ao filme, com 23 minutos

- 02 Video Clips (`Um Bom Lugar´ - Sabotage, `Ninguém Presta´ Tolerância Zero).

- Bastidores: clipe com cenas de bastidores, bem curiosas, com 12 minutos e meio.

- Galeria de Fotos: interessantes, com fotos das cenas do filme e de bastidores, algumas em branco e preto (de bastidores, principalmente).

- Trailer de Cinema

- Filmografia do Diretor (Beto Brant): na verdade, trailers de dois filmes do diretor, “Ação Entre Amigos” e “Matadores”.

- Prêmios (Nacionais e Internacionais): lista em texto dos prêmios recebidos pelo filme.

Críticas ao DVD

Mais um bom exemplar de um filme brasileiro, em que pese a sua temática, não interessante para alguns. O filme está bem tecnicamente na sua versão em DVD, há o “problema" de ser em “letterbox”, ou seja, preserva o formato original de cinema em wide mas não permite que todos os que tem TVs neste formato o apreciem de forma adequado. Mas a imagem está boa, idem com relação ao áudio, de acordo com todos os interesses: em multicanal (5.1 para que tem um home theater e em 2 canais para quem o assistirá numa TV). Os menus são animados e sonoros, bem realizados. Os extras, de bom tamanho e qualidade. Um bom DVD de mais uma obra bem importante do cinema nacional desta “nova” fase. Alugue, ou, se gostar pra valer, vale ter na sua DVDteca.

Menus
Resenha publicada em 26/06/2004
Por Eron Fagundes (filme) e Edinho Pasquale (DVD)

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