Certamente é o
filme nacional mais esperado do ano. Perdi a conta
das vezes que pessoas na rua me perguntaram se o
filme era bom. Mas só fui assisti-lo na abertura
do Festival de Gramado, onde foi muito aplaudido,
mas acabou tendo péssimas críticas.
Encontrei o Jaime Monjardim, que afirmou que iria
me procurar para eu lhe dar, pessoal e posteriormente,
uma crítica mais detalhada do filme. Até porque
o conheço há muitos anos, desde o tempo
em que era apenas o filho de Maysa. Mas se quisesse
mesmo minha opinião, teria procurado antes
do filme ficar pronto. Agora não adianta mais.
Até porque Olga não é um
projeto pessoal. Ele é apenas um diretor contratado,
que foi chamado pela produtora e roteirista Rita
Buzzar (mulher do ex-diretor Sérgio Toledo).
A
seu favor podemos dizer que Olga é certamente
o filme brasileiro mais bem produzido em todos os
tempos. Tem extraordinária direção
de arte, cenografia (toda feita no Brasil, num estúdio
do Rio, onde fizeram as cenas de neve, que parece
cair sem parar e sem provocar bafo quente nas pessoas).
A fotografia é bastante cuidada. O problema
maior é a escolha da trilha musical, que é certamente
a pior que eu já ouvi num filme brasileiro
recente. Invasiva, excessiva, enfatiza tudo da forma
errada, sempre de forma retumbante e óbvia
(foi feita pelo mesmo compositor das trilhas de telenovelas
de Benedito Ruy Barbosa). Irrita e chega a tornar
o filme difícil de tolerar.
Não
há a menor dúvida que o diretor persiste
na sua mania de filmar tudo em closes, por vezes
redundantes (a ironia é que o filme talvez
funcione melhor em DVD, em tela pequena). Não
acho um grande problema ter cara de televisão,
de seguir a narrativa no estilo global. O produtor
sabia o que queria quando chamou Jaiminho. Os erros
são outros. Estão já no roteiro
(os diálogos são ruins, por vezes embaraçosos,
o filme minimiza a figura de Luiz Carlos Pestes,
chegando ao cúmulo de mostrá-lo costurando
roupinhas, mas por outro lado não conta que
mesmo com o ditador Getúlio Vargas matando
Olga, Prestes o apoiará na eleição
de 50!). O fato é que é muito difícil
contar para um público contemporâneo
o que seria um revolucionário fanático
comunista. Engajado em luta armada, na revolução,
ele sacrifica conscientemente sua vida pessoal e
sua segurança pelo sonho utópico da
Revolução. Assim, já na primeira
cena, Olga aparece empunhando revólver e salvando
um comunista de um julgamento. Mostra-se sempre fria
e decidida (por isso, muito do que diz no navio não
faz sentido, assim como seu comportamento quando
se torna mãe; afinal, certamente houve um
elemento de jogo, ao engravidar de pai brasileiro).
Enfim, terrorista hoje mata gente e explode World
Trade Center. É difícil simpatizar
com gente que recebe o ouro de Moscou (Moscou financiava
tudo e ditava ordens) para provocar revoluções,
ainda que por ditas boas causas. Outro erro grave
do filme é a decisão de falar português
como se fosse a língua natural deles (assim,
Olga não tem sotaque). Mas isso acaba provocando
uma grande confusão (no Brasil, no grupo de
revolucionários, o americano não tem
sotaque, mas outros sim.
E
quando ela faz discursos em Moscou falando português
não poderiam incluir palavras em russo). Enfim,
ficou uma salada. Quando vi A Casa das Sete
Mulheres, Camila Morgado parecia uma opção
interessante para o papel de Olga (para o qual chegou-se
a pensar até em Meryl Streep). Mas ela não
tem fôlego para sustentar um personagem tão
difícil e complexo, talvez até por
inexperiência. O fato é que não
convence. Caco Ciocler chega próximo de Prestes
(embora a preocupação parece ter sido
querer deixá-lo de pequena estatura diante
de Olga) sem o carisma do personagem. O resto do
elenco é igualmente irregular (e inclui a
santista Jandira Martini, fazendo bem uma colega
de campo de concentração, em meio a
outras figuras menos convincentes). O livro de não-ficção
de Fernando Moraes foi um grande best-seller e é,
pela própria natureza, muito melhor do que
o filme. Não acredito que o público
esteja sabendo direito do que se trata a história
e é provável que, passada a promoção
inicial (aliás, a campanha de lançamento
da fita foi primorosa), se assustem com a história
melodramática e trágica. Mas, no entanto,
com pouca emoção.
Olga resulta
frio apesar dos acordes bombásticos da trilha
musical.
(Rubens Ewald Filho.
Leia mais críticas e artigos de
REF na coluna Clássicos)
Ao
cineasta Jayme Monjardim não interessa muito
compreender os caminhos de uma época em Olga (2004),
filme extraído dum livro de Fernando Morais.
O que se coloca como objetivo do realizador é desviar
o foco da áspera discussão política
para um melodrama que envolvesse os dois protagonistas
e a filhinha recém-nascida deles: senão,
a produção teria muitas dificuldades
em recuperar os doze milhões de reais ali
investidos; enfim, o cinema como investimento e nunca
como uma hipotética arte.
Não
deixa de ser constrangedor observar como Monjardim
filma a trajetória de personagens como Prestes
e Olga à semelhança daquela forma que
o hollywoodiano diretor James Cameron utiliza para
rodar seu Titanic (1997): alguém
pode apontar-me a diferença entre o que acontece
aos náufragos apaixonados da fita de Cameron
e as facilidades emocionais em que se dissolvem o
Prestes e a Olga de Monjardim? As inquietações
libertárias de Olga e Prestes são vítimas
do naufrágio estético da mão
do diretor que fez seu aprendizado na Rede Globo
de Televisão.
Uma
das declarações instrutivas de Monjardim
revela veleidade estilística. Diz ele, sobre
seu filme, que prefere planos fechados aos abertos,
e isto, afirma ele, seria uma questão de estilo.
De fato: os planos fechados do cinema de Monjardim
nascem da preguiça televisiva, e, considerando
a grandiloqüência duma produção
cheia de artificiosos e nada críticos cenários
de época, estes planos fechados incomodam.
Não são os planos fechados opressivos
e devastadores do sueco Ingmar Bergman; são
planos fechados vazios e superficiais. Talvez Monjardim
quisesse ser capaz de falar dos sentimentos de suas
criaturas ao mesmo tempo em que esboçava o
retrato de um tempo obscuro; mas falta-lhe o estofo
do italiano Luchino Visconti, que sabia como ninguém
situar o melodrama dentro duma régua histórica.
A
atriz Camila Morgado, em desempenho de fato fascinante,
em que personagem e intérprete se influenciam
mutuamente, refaz as loucuras interpretativas de
Marie Falconetti em A paixão de Joana
d’Arc (1928), obra-prima do dinamarquês
Carl Theodor Dreyer: daí alguns comentaristas
terem equiparado o desenho de Olga por Camila a uma
Joana d’Arc contemporânea. Enfim, Olga
e Joana foram mulheres diferentes e marcantes, assim
como a brasileira Anita Garibaldi, a quem Olga homenageia
batizando sua filha de Anita.
Na
verdade, o filme de Monjardim e eu não necessitamos
um do outro; Olga não verá seu
sucesso arranhado por estas desairosas linhas e eu
prescindo dos golpes baixos de sua narrativa para
seguir perseguindo certas idéias de cinema
que teimam em esvoaçar ao redor de meu cérebro.
(Eron
Fagundes. Leia mais críticas do
colunista em Cinemania)
|
- Ficha Técnica: com os principais nomes da
realização do filme, em 3 telas de
textos.
-
Diretor: 6 paginas de texto, com uma biografia integrada
com alguns depoimentos sobre o filme.
-
Produção: o mesmo tipo de conteúdo
do extra anterior, desta vez com 8 páginas
sobre Rita Buzzar, também roteirista do filme.
-
Elenco: textos básicos com as biografias
e qual os papéis e envolvimento dos atores
com o filme de Camila Morgado, Caco Ciocler, Fernanda
Montenegro, Osmar Prado, Werner Schünemann,
Jandira Martini, Floriano Peixoto e Guilherme Weber.
-
Making Of: um bem realizado documentário,
com muitas entrevistas (de atores, equipe técnica
e de Fernando Moraes, o autor do livro), cenas de
bastidores, do filme. Boas curiosidades nos seus
quase 24 minutos.
-
Trailer
-
Outros Títulos: trailers de outros lançamentos
da distribuidora, legendados: “A Sétima
Vítima”, “O Grito” e “Spartan”.
|
Um filme importante, que foi o indicado brasileiro à participar
do Oscar® de 2005, mas que não acabou
sendo o escolhido entre os 5 finalistas. Tem uma ótima
qualidade de imagem e som no DVD, mas peca por ter “cortado” as
laterais do filme (quase 40% da imagem), ou seja,
está em formato Standard e não em Wide
(o exibido nos cinemas). Num filme onde a fotografia
se destaca, passa a ser uma falha grave. Acho que
com tantos anos de divulgação do formato
Wide em DVD, o grande público já deve
estar acostumado com ele e saber da falta que este
corte
na imagem faz. Os menus são bem simples,
os extras apenas medianos. Poderia ter cenas cortadas,
maiores informações históricas,
enfim, faltou “algo”. Não notei nenhuma
falta de informação na embalagem, contendo inclusive
a divisão de capítulos (15). Mas como o filme foi
um grande sucesso de bilheteria nos cinemas,
não devemos de forma alguma deixar de dizer
que é um importante lançamento em DVD
de uma boa produção do cinema brasileiro.
Veja, alugue. E compre. Mesmo com os defeitos, não
deixa de ser um item interessante para qualquer cinéfilo
que quer ter bons filmes em sua DVDteca.
Mas, principalmente, leia o livro. Em DVD, o filme deverá ter uma importância
ainda maior, como fonte de pesquisa e conteúdo histórico. Mais
do que nos cinemas.
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