Como
bom santista de nascimento e time, cresci assistindo
aos jogos do Santos Futebol Clube, sem ter a menor
idéia de que estava vivendo um momento privilegiado,
os anos de apogeu do Pelé. Na verdade, na época
já tinha consciência que não
apenas ele era excepcional, mas todo o time, que
formava um conjunto perfeito e, a meu ver, nunca
igualado. O problema é que me acostumou mal.
Fui testemunha de momentos de tanta perfeição
que hoje me aborreço em ver esses pernas de
pau. Foi o Camelot do futebol, um momento
brilhante que parece nunca mais irá se repetir
e que está guardado em algum lugar de minha
memória. Por isso, minha maior emoção
ao assistir Pelé Eterno foi o choque de me
dar conta de que eu estava lá, de que aquilo
que parece fantástico sucedeu de fato. Que
a lenda Pelé não é exagero ou
fantasia. Finalmente temos a prova concreta. Assisti
ao filme em circunstâncias especiais. O próprio
Pelé me mandou chamar para ver o copião
e dar palpite. Nos conhecíamos mal, principalmente
por sermos de Santos, uma afinidade que não
se perde nunca. Além disso, sou amigo do produtor
e realizador Aníbal Massaini Neto e testemunha
do esforço que ele teve nos últimos
cinco anos, pesquisando, restaurando, alinhavando
o documentário. Vi ainda sem a trilha musical
definitiva, nem o narrador (papel assumido por Fúlvio
Stefanini), sentado numa sala com poucos amigos (seguido
por jantar que o próprio Edison fez questão
de servir. Aliás, o mais difícil é se
acostumar com Pelé se referindo ao jogador
na terceira pessoa. Um alter-ego que está lá na
tela. E que não é o Edison). Embora
aquela fosse a chance que teria de brilhar dando
sugestões e idéias originais, gostei
do resultado. Achei que o filme estava no caminho
certo, abordava todos os tópicos necessários
(Xuxa é mencionada numa foto sem se dizer
o nome). Gostei da estrutura, das opções
e do resultado. Mas pela primeira vez me senti como
os comentaristas de futebol, que devem entrar em
conflito cada vez que transmitem um jogo de seu time.
Ficou difícil separar o pessoal do profissional. É claro
que foi para mim, e acredito para muita gente, uma
viagem sentimental a um passado mítico (quase
todos os lances clássicos estão lá de
alguma forma, nem que seja reproduzidos por computação
gráfica, quando não havia registros).
Pelé era
realmente um jogador especial e o filme retrata isso
fielmente. Parece ser o documento que, não
só o Brasil mas, o mundo inteiro, estava esperando
(já testemunhei fora e a popularidade dele,
que ainda é inigualável). O sucesso
que terá nos cinemas não é nada
comparado com a vida que virá mais tarde em
Home-video e DVD. Qualquer fã de futebol no
mundo deseja ter em sua casa, disponível,
este testemunho de que o Atleta do Século
não era mentira. E que não acabou drogado
se escondendo em sanatórios. A lenda está viva
e merece respeito. (Rubens Ewald Filho.
Leia mais críticas e artigos de REF na coluna Clássicos)
Assim
como ocorre em Cazuza,
o tempo não pára (2004),
de Sandra Werneck e Walter
Carvalho, o documentário Pelé eterno (2004),
dirigido por Aníbal
Massaini Neto, produtor
de alguns filmes de Walter
Hugo Khouri, sobrevive
durante seu espaço
de projeção
graças ao brilho
de sua personagem central.
O interesse do espectador
vai depender exclusivamente
de sua afinidade com o
tema proposto: a revolução
musical e sexual brasileira
dos anos 70 na realização
de Sandra e Walter, a trajetória
de um futebolista excepcional
na película de Massaini.
Para quem se interessa
pelos assuntos, tanto Cazuza
quanto Pelé foram ícones
de várias gerações;
para muita gente é impossível
ouvir falar deles sem se
emocionar, e é com
este trunfo que tais filmes
contam.
Para
as gerações
de hoje, Pelé é uma
lenda mítica, talvez
uma irrealidade. Mas um
documentário como
Pelé eterno serve
para lembrar que tudo aquilo
de fato aconteceu; nossa
memória evoca certas
coisas que parecem nebulosa
poética de tão
mágica, porém,
como observa o santista
Rubens Ewald Filho, as
coisas se passaram mesmo
assim, pois ele, Ewald,
estava lá e foi
testemunha. Pelé eterno reforça
o testemunho do crítico
de cinema apaixonado por
futebol.
De
minha parte, a Copa do
Mundo de Futebol de 1970
foi o Pelé mais
concreto a que pude assistir,
num obscuro bar do interior
gaúcho que me oferecia
as primeiras imagens televisivas
ao vivo do esporte bretão.
Ao ver (ou rever) o milésimo
gol de Pelé em que
a vítima foi o vilão
Andrada, goleiro vascaíno,
revoquei comigo as narrativas
radiofônicas que,
então menino, ouvi
do Maracanã. Um
dos gols de Pelé próximo
do mil foi em Porto Alegre,
num jogo contra o Grêmio;
senti inveja dum colega
de aula, mais abonado financeiramente,
que naquele fim dos anos
60 se deslocou para a capital
para ver Pelé jogar.
Enfim, Pelé eterno,
como Cazuza, o
tempo não pára,
vale muito pelas imagens
que estão fora do
filme, as coisas pessoais
que determinada cena traz à tona;
em Cazuza podemos pensar
numa namorada maluquinha
que tivemos, e que ali,
naquela alegria louca,
poderíamos ter pegado
AIDS; em Pelé eterno queremos
saber onde estávamos
quando Pelé realizou
este ou aquele lance.
Para
o observador atento, Pelé eterno traz
uma desmistificação:
como escreveu um dia destes
Paulo Roberto Falcão,
ao contrário do
que muitos das gerações
atuais pensam, Pelé se
destacaria mesmo no feroz
futebol de hoje, mais ainda
por ser feito (o futebol
de hoje) por pernas-de-pau;
observando bem, nota-se
que as jogadas de Pelé,
que sobressaem evidentemente
por uma habilidade raríssima,
não escondem dois
outros elementos, força
e velocidade, os quais
passariam a desempenhar
papel fundamental no futebol
a partir da Copa do Mundo
da Inglaterra em 1966.
Todos
sabemos que Pelé eterno é excessivamente
hagiográfico. E
não repugna a seu
texto (mesmo assinado por
alguém tão
criativo quanto Armando
Nogueira) eivar-se de lugares-comuns.
Mas que importa o pouco
engenho cinematográfico
de Massaini se a emoção
do futebol de Pelé é irresistível?
(Eron Fagundes.
Leia mais críticas
do colunista em Cinemania)
|
- Making Of: um “documentário sobre
o documentário” muito bem realizado,
onde são colocados todos os aspectos técnicos
do filme, como foi restaurar imagens e áudio,
cenas de bastidores, depoimentos de jornalistas e
jogadores, além do próprio diretor
Massaini e do Rei e sua família. E como foi
feito o famoso gol da rua Javari, por computação
gráfica. Tem até depoimentos realizados
na pré-estréia do filme. 19 minutos
bem interessantes.
-
Como Tudo Começou: mais um outro pequeno
documentário com quase 9 minutos contando
através de depoimentos e imagens a história
do Pelé até se tornar jogador de futebol.
-
Pelé Eterno por Orlando Duarte e Fiori Gigliotti: uma excelente idéia, bem além de apenas
uma trilha de áudio com comentários
dos dois importantes jornalistas que acompanharam
a carreira de Pelé. Os depoimentos podem ser
ligados à imagens do próprio filme,
permitindo um maior detalhamento de momentos especiais,
através de uma legenda que aparece no meio
da conversa. Há a possibilidade de se assistir
apenas aos depoimentos, que tem, sem se integrar
ao filme, 35 minutos.
-
Exposição: clipe mostrando o evento
comemorativo acontecido no Museu de Arte Moderna
de São Paulo em 2002, uma galeria de fotos,
imagens e objetos. 2min14s.
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