Os
Boas-Vidas é considerado o primeiro grande
filme dirigido por Fellini. Numa pequena cidade da
Itália, cinco jovens amigos são típicos "vitelloni" (inúteis):
vivem uma vida boêmia repleta de bebidas e
mulheres. Sem perspectivas, cada um deles encontra
um modo de escapar da monotonia da vida provinciana.
Com belíssima música de Nino Rota,
Os Boas-Vidas conta com ótimo elenco, com
destaque para o inesquecível Alberto Sordi
(Abismo de Um Sonho), Franco Interlenghi (Vítimas
da Tormenta) e Riccardo Fellini, irmão do
cineasta. |
Os
boas vidas (I vitelloni; 1953) foi o terceiro
longa-metragem do italiano Federico Fellini e o primeiro
a receber reconhecimento internacional. Se muitos
anos depois ele faria Amarcord (1973)
para recordar sua infância sob as vestes do
fascismo italiano, em Os boas vidas Fellini busca
as memórias de sua adolescência, as
madrugadas, as pequenas e cortantes mesquinharias
de um grupo de vadios de interior. Um naturalista
diria que o cenário de inspiração é o
mesmo: a Rimini em que nasceu o cineasta. Mas não é nada
disto: os cenários nebulosos e barrocos de Amarcord e
a paisagem doce e descolorida de Os boas
vidas são imagens cinematográficas,
invenção da cabeça de Fellini.
A
estruturação do roteiro de Os
boas vidas é simples e singela; tem
o clima natural dum caderno de notas, do diário
dum rapaz de interior que observa as banalidades que
o rodeiam. Toda aquela sensação de realismo,
de espontaneidade iniciada por Toni (1934),
de Jean Renoir, e depois perseguida pela escola italiana
de cinema é exercitada por Fellini neste seu
filme. O roteiro é um caderno de notas e o ritmo
narrativo se dispersa e torna leve; ainda que este
caderno de notas inclua movimentos mais organizados
dramaticamente (a tumultuada relação
conjugal entre o sedutor Fausto e a ingênua Sandra,
tão ao gosto do sentimental Fellini dos primeiros
anos), o tratamento de Fellini à imagem, o olhar
da câmara, permanece despojado, crítico,
quase documental. Mas há também, por
trás desse olhar que aparece mais evidentemente,
um outro olhar: o olhar dos sonhos, expresso principalmente
na seqüência do carnaval e na filmagem da
madrugada em que, enquanto o sedutor da turma vai para
o quarto com mais uma mulher, o intelectual se embeiça
pela lábia dum ator e assusta-se quando descobre
neste ator desejos homossexuais.
De
um lado um registro semidocumental das vivências
de cinco amigos numa cidade de interior. De outro um
hino de amor à vida mergulhado nas madrugadas
insones e costurado pela história sentimental
de Fausto e Sandra que, à boa maneira das antigas
fotonovelas e depois de muitas trovoadas, abre-se para
o sol e termina bem. O fechamento da história
de Fausto e Sandra, caminhando felizes com o nenê nos
braços, antecede o fechamento do filme, que é a
partida de Moraldo (o olhar de Fellini dentro da narrativa é a
personagem de Moraldo) para a cidade grande.
Observe-se
ainda que o gosto de Fellini pela simbologia cristã (pense-se
no Cristo dependurado de um helicóptero na abertura
de A doce vida, 1960, ou nas procissões encenadas
em A estrada, 1954, e As noites
de Cabiria, 1957) surge em Os boas
vidas numa estátua roubada a um lojista
por dois dos “vitelloni”.
Um
retrato de província. Uma crônica de costumes.
Uma linguagem desabusada em seu tom mas formalmente
muito cosida, com o arranjo de seqüências
que apresentam uma ligação entre si mais
tradicional que o comum do neo-realismo. Enfim, um
ponto de parada obrigatório quando nos debruçamos
sobre a obra cinematográfica de Federico Fellini.
(por Eron Fagundes) |
Um
excelente filme, no seu formato original de cinema
(Standard) e com áudio original. Menus simples,
mas corretos. A imagem, em Preto e Branco está a
contento, teve uma boa transferência para o
formato digital.
Os
extras são medianos, talvez valha pela galeria
de imagens (nada excepcional, mas interessante).
Não há nem o trailer original do filme.
No
geral, deixa um pouco a desejar, por ser um dos mais
importantes filmes de Fellini mereceria uma edição
um pouco mais caprichada. Mas o filme por si só já vale,
para quem gosta de clássicos, este é um
DVD correto, sem grandes falhas. |