Com
Sophia Loren, Marcello Mastroianni, John Vernon, Alessandra
Mussolini, Antonio Garibaldi, Vittorio Guerrieri, Maurizio
Di Paolantonio
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110
minutos
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SOM & IMAGEM |
FILME |
EXTRAS & MENUS |
GERAL |
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Áudio
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Legendas
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Vídeo
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Região
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Italiano (DD 5.1)
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Português
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Sinopse
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"Um Dia Muito Especial é uma das obras-primas
do grande Ettore Scola (O Baile) e talvez o melhor
trabalho da dupla Marcello Mastroianni e Sophia Loren.
Nesta Ed. Especial, o filme é apresentado
em versão restaurada e remasterizada no formato
widescreen anamórfico, com mais de uma hora
de extras. Roma, 6 de maio de 1938. Enquanto a cidade
celebra a visita de Hitler a Mussolini, dois vizinhos
bastante diferentes se conhecem: a dona de casa Antonietta,
casada com um militante fascista e mãe de
seis filhos, e o radialista homossexual Gabriele.
Ao longo do dia, vivem uma densa relação
humana, compartilhando seus dramas e esperanças.
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Comentários
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São poucos os prejuízos que a passagem
dos anos trouxe a uma revisão de Um
dia muito especial (Uma giornatta particolare;
1977), o mais belo filme assinado pelo italiano Ettore
Scola. Estes prejuízos se concentram na maneira
meio suja com que a restauração atual
(NE: nos cinemas, em 2003) recriou o estudado tom
desbotado da fotografia de Pasqualino de Santis (neste
sentido,
mesmo considerando-se
as diminutas dimensões da tela, uma restauração
em dvd como aquela de Laranja mecânica,
1971, de Stanley Kubrick, é bastante mais
fiel visualmente); para o espectador que, no fim
dos anos 70, desfrutou da sofisticação
pastel das imagens da realização, resta
apelar para a memória.
Quanto
aos demais aspectos, o trabalho de Scola permanece
irretocável em sua capacidade de arrepiar
de emoção o observador de hoje. O realizador
começa sua narrativa com aquela câmara
flutuante que se movimenta, com intimidade, pelas
peças do apartamento para ver como a dona-de-casa
acordará o marido e os seis filhos para o
desfile daquele dia histórico em que Hitler
visitará Mussolini em Roma; discípulo
do italiano Michelangelo Antonioni, Scola recusa
o plano-seqüência angustiado e metafísico
de Antonioni: o plano-seqüência em que
Antonieta vai despertando sua família, revelador
de um extraordinário senso de espaço
cinematográfico um tanto quanto ausente de
boa parte da produção contemporânea, é outro
tipo de plano-seqüência, íntimo
e familiar. A forma meio descontraída, descritiva,
aberta do início do filme vai alterar-se: à medida
que a história avança, e as intenções
de confronto dos protagonistas da narrativa para
questionar o grande dia se esclarecem, os planos
gerais (que resgatam o cenário fascista das
grandes arquiteturas) se alternam com os primeiros
planos fixos (que colocam em cena duas das mais notáveis
interpretações do cinema em todos os
anos, uma Sophia Loren dona-de-casa composta com
as cores do neo-realismo que deveria inspirar a falsificação
de Julia Roberts, um Marcello Mastroianni cheio de
uma melancólica beleza de expressões)
para produzir a sintaxe específica do filme,
feita com simplicidade mas também com personalidade
própria.
Um
dia muito especial tem o tempo exato de
cada ação, onde cada gesto adquire
uma insubstituível função
narrativa. Ao utilizar o cinejornal como intróito à ficção
que se propunha contar, Scola busca para seu filme
uma aproximação com o documentário,
uma antecipação do melodocudrama
que se disseminaria ao longo dos anos 80. Quando
o preto-e-branco do cinejornal é cortado
para a grande bandeira fascista desfraldada duma
janela, os olhos não sofrem este corte:
a imagem anterior é continuada na posterior,
pois as cores pastéis se revelam um minúsculo
estágio adiante do preto-e-branco. A voz
que narra o cinejornal é a mesma voz radiofônica
que vai tornar-se o acompanhamento sonoro de fundo
(ora mais alto, ora mais baixo) do dia especial
de Antonieta e Gabriel, a mulher oprimida e o homossexual
perseguido pelo regime; Scola foi bastante feliz
ao escolher as duas principais vítimas do
fascismo, a mãe de família e o invertido
sexualmente, para viver esta história de
amor silenciosamente contestatória. Se a
fotografia do cinejornal se prolonga na do filme,
se os sons do cinejornal são revividos pela
transmissão radiofônica que ecoa pelos
espaços abertos e vazios do prédio
por onde Gabriel e Antonieta vão exercitar
sua conscientização e desalienação,
o dia especial de Hitler e Mussolini vai ter seu
antídoto no dia especial dos protagonistas
do filme de Scola.
Passados
vinte e cinco anos de seu lançamento nos cinemas
brasileiros, Um dia muito especial revela
a eternidade de certos filmes que, para além
dos modismos de sua época, têm a capacidade
de aprofundar-se no interior de suas personagens.
E, ao efetuarmos a comparação com obras
recentes do realizador (O jantar,
1998, ou Concorrência desleal,
2001), podemos verificar como aquele antigo frescor
clássico de filmar se perdeu num academicismo
rançoso.
A
objetividade ou transparência dos símbolos
narrativos em Um dia muito especial pode
ser avaliada nas imagens finais em que Antonieta,
antes de ir para a cama de seu marido, apaga as luzes
da casa, escurecendo o ambiente: ao mergulhar estas
cenas finais em sombras, Scola está identificando
as sombras com o fascismo. Nesta translucidez de
significados Scola difere de seus mestres italianos
Luchino Visconti e Federico Fellini, mais barrocos
e enviesados em seus signos.
Como
curiosidade final deste comentário, quero
evocar a encenação teatral que José Possi
Neto extraiu do roteiro do filme de Scola nos anos
80, com as interpretações de Glória
Menezes e Carlos Zara, e que teve apresentações
em Porto Alegre em 1986. Tratava-se duma versão
teatral bastante detalhista em sua fidelidade ao
filme, inclusive naquela imagem hoje clássica
em que Sophia Loren (Glória Menezes) acaricia
o órgão sexual enrijecido de Marcello
Mastroianni (Carlos Zara). (Eron Fagundes,
publicado na coluna Cinemania em 2003)
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Extras
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- Entrevistas: são seis, sem data ou identificação
de origem, ou seja, sem sabermos se fazem parte de
algum documentário ou se foram realizadas
especialmente para o DVD. Mas, de qualquer forma,
todas são muito interessantes:
-
Ettore Scola, Diretor: várias curiosidades,
como a de que Pasolini faria um prefácio no
seu filme anterior, Feios Sujos e Malvados, o motivo
de ambientá-lo nos anos 30 por causa da importância
do momento histórico da época, - com
diversas cenas históricas de arquivo -, o
significado de ser “o filho da Loba”,
a manipulação publicitária da época,
e muitas importantes informações sobre
o roteiro, personagens e a realização
do filme. Com 17 minutos.
-
Maurizio Constanzo, Roteirista: comenta
que o seu envolvimento com o roteiro causou
muitas lembranças
do seu passado quando criança e, com estas
memórias, nos dá maiores detalhes sobre
localização política do filme
na História. 6 minutos.
-
Armando Trovajoli, Compositor: como
foi difícil
fazer as músicas do filme e sua integração
com Scola. 9 minutos.
-
Luciano Ricceri, Diretor de Arte: conta
todo processo de como foi fazer toda a criação dos
aspectos cênicos, o uso as cores, entre outros
comentários. 8 minutos.
-
Vittorio Vidotto, Historiador: interessante
abordagem sobre o filme em um paralelo
com a História.
11 minutos.
-
Renato Nicolini, Arquiteto: nos dá maiores
informações históricas sobre
a arquitetura da época em que se passa o filme.
Neste caso, seria interessante a inclusão
de imagens complementares. 10 minutos.
-
Trailer de Cinema
-
A Restauração: clipe de 4
minutos mostrando imagens do filme sem restauração
ao lado da restaurada, muito mais bem definida e,
principalmente, “desbotando” as cores
conforme o original.
- Vida
e Obra de Ettore Scola: bom texto sobre o Diretor,
com sua filmografia selecionada, num total
de 14 telas.
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Biografias: de Mastroianni e Sophia, idem ao anterior.
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Ficha Técnica do DVD
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Críticas
ao DVD
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Um grande filme com um DVD a sua altura. A imagem
restaurada nos leva a concepção do
cineasta, imagens pálidas, quase que neutras.
Praticamente sem imperfeições na passagem
para o formato digital, ainda nos brinda com o formato
original de cinema (e há uma boa surpresa: se seu
player estiver configurado para PAN & SCAN e você
preferir este formato standard, você verá o filme
em "tela cheia", por mais que se perca as imagens
nas laterais. Gosto não se discute.) e áudio
em 2 (não
citados na embalagem, mono) e 5.1 canais (embora
neste caso as caixas traseiras sejam muito pouco
utilizadas e a central, bastante). Os extras (todos
legendados) valem a pena, apesar de parecerem poucos.
As entrevistas são esclarecedoras, importantes
tanto pelo aspecto cinematográfico como pelo
histórico.
Um DVD que tem que estar na coleção
de quem é fã do bom cinema italiano
e, principalmente, de Scolla, Mastrioanni e Sophia
Loren.
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Menus
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Resenha
publicada em
16/03/2005
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Por
Eron Fagundes (filme)
e Edinho Pasquale
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Seu comentário
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