Bob Harris (Bill Murray) é uma estrela de
cinema, que está em Tóquio para fazer
um comercial de uísque. Charlotte (Scarlett
Johansson), por sua vez, está na cidade acompanhando
seu marido, um fotógrafo workaholic (Giovanni
Ribisi) que a deixa sozinha o tempo todo. Sofrendo
com o horário, Bob e Charlotte não
conseguem dormir. Eles se encontram, por acaso, no
bar de um hotel de luxo, e em pouco tempo tornam-se
grandes amigos. Resolvem então partir pela
cidade juntos. A eles junta-se uma jovem atriz chamada
Kelly (Anna Faris), com quem vão viver algumas
aventuras pela cidade de Tóquio.
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Estão
exagerando de novo. Não é para tudo
isso. A filha de Francis Coppola, Sofia já tinha
demonstrado talento antes na estréia no bonito
e triste As Virgens Suicidas (que em certo
sentido é melhor que este filme). Mas agora
resolveram consagrá-la exageradamente por
esta fitinha que nada mais é do que uma brincadeira,
quase uma vingança dela contra o marido Spike
Jonze (eles acabaram de se separar, e está evidente
que o papel da esposa que acompanha o marido ao Japão é autobiográfico,
no filme é um fotógrafo e feito por
Giovanni Ribisi).
Para
mim, que já visitei o Japão, o filme é cheio
de referências e semelhanças (fiz muita
coisa parecida com os personagens, como ver TV, nadar
na piscina, passear naquelas mesmas ruas e templos).
Não é uma sátira como muita
gente pensou, é assim mesmo como Sofia mostra.
A única
razão de ser da fita é a presença
do comediante Bill Murray, que está muito
magro, muito seco e se limita a reagir. Ele não
age, reage ("doesn’t act, reacts",
seria em inglês para ficar mais claro). Ou
seja, faz o mínimo possível, nem caretas.
Nem é preciso, já está tudo
em sua personagem.
É um
alter-ego dele, um astro de cinema já meio
decadente que aceita ganhar dois milhões de
dólares para ir gravar no Japão um
comercial de uísque (o absurdo é que,
ninguém como ele, viaja sozinho, sem um assistente
ou agente, isso simplesmente não existe. Até eu
coitado, quando faço algo comercial, viajo
com agente, imagine ganhando dois milhões).
Mas a fita não quer ser realista, é apenas
uma fantasia leve sobre o astro de cinema que, no
hotel, conhece a jovem esposa desprezada do fotógrafo
(outra figura superestimada, a razoável Scarlett
Johansson, que não tem nem personagem para
ganhar prêmio). Os dois flertam, ficam amigos,
passeiam pela cidade, mas não fazem nada radical,
na verdade mal se conversam. O que é mostrado
de forma despretensiosa. Quem inventou a mentira
da fita não foi Sofia, foi a crítica
maluca que teve mais uma alucinação
coletiva. Uma fitinha pequena e simpática
que não tem que dar prêmio para ninguém.
Ainda que Murray esteja irresistivelmente engraçado
(mesmo assim em alguns poucos momentos, porque no
todo o filme é bem chatinho).
(Rubens Ewald Filho. Leia mais críticas e artigos de
REF na coluna Clássicos)
Encontros
e desencontros (Lost in translation; 2003),
o segundo filme dirigido por Sofia Coppola, busca
sua estranheza de intenções ao acompanhar
os caminhos que se cruzam de um cinqüentão
que está no Japão para atuar em comerciais
e de uma garota de vinte anos que ali veio em virtude
da atividade profissional de seu jovem esposo;
numa Tóquio que lhes parece incomunicável,
as personagens aproveitam seus encontros para preencher
certos vazios interiores, certas ausências
de perspectivas pessoais.
Apesar
de seu rigor formal e da sinceridade que emana das
situações (Sofia ter-se-ia inspirado
em sua própria crise de vinte anos para escrever
o roteiro do filme), a cineasta não reedita
a inquietação de As virgens
suicidas (1999), sua obra de estréia.
A narrativa de Sofia tem no desempenho de Bill Murray
seu correspondente perfeito: tudo é muito
apático, sem sangue, não adianta o
risível diretor japonês de comerciais
exigir intensidade interpretativo, de Bill só sai
aquela cara de bobo para americano ver. A cusiosa
Scarlett Johansson igualmente não salva sua
criatura dos clichês impostos pela indústria.
É pena
que Sofia resvale. Tecnicamente ela é, como
seu pai, Francis Ford Coppola, uma boa diretora. (Eron
Fagundes. Leia mais críticas do colunista
em Cinemania)
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- “Lost” na Locação: um
verdadeiro making of, sem grandes edições
feitas para programas de TV. Feito por uma câmera
amadora, mostra várias cenas de bastidores
e de problemas enfrentados no dia-a-dia das filmagens. É bastante
curioso e até divertido. E, aparentemente,
espontâneo. Com 30 minutos;
-
Mathew´s Best Hit TV: o show em que
o personagem de Murray participa na TV japonesa,
divertido, na ‘íntegra” (no filme
se mostra apenas um pedacinho), com 4min45s;
-
Video Clip de "City Girl", de Kevin Shields;
-
Cenas Excluídas: são 5, algumas bem
interessantes;
-
Uma Conversa com Bill Murray e Sofia Coppola: um
bate-papo realizado em outubro de 2003 em Roma, contando
as experiências passadas durante as filmagens
no Japão, com algumas divertidas curiosidades.
Aproximadamente 10 minutos.
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Um DVD que mantém a tradição
da Universal, tecnicamente muito bem realizado. Pena
que ultimamente esta não tem sido a regra,
vide a resenha de Exterminador do Futuro 2. Parece
que a parceria com o Studio Canal tem trazido péssima
qualidade nas nossas versões. Felizmente este
não é o caso. Há uma bela qualidade
de imagem (mantendo o formato original de cinama)
e som (com 5.1 canais bem distribuidos em todos os
idiomas), ótimos
extras, praticamente todos devidamente legendados
(menos
o clipe, o que
não faz falta). Um filme muito badalado, tem
seus momentos divertidos, mas não é nenhuma
obra-prima. Mas entretém, vale dar uma olhada,
principalmente na atuação de Murray. |