Um caso
clássico de elasticidade do tempo. Aqui nós
temos um filme com duração de uma hora
de vinte e um minutos que parecem ter cerca de duas
horas, não que o filme seja cansativo, pelo
contrário, o suspense do filme é mantido
do início ao fim. O tempo parece parar. O filme
foi todo rodado em tomadas contínuas de dez
minutos, oito tomadas. Hitchcock inventou essa técnica
por uma razão sensível e específica.
Ele estava tentando retratar uma história que
havia sido contada em uma peça em tempo contínuo.
Porém, ele estava limitado pela quantidade
de filme que podia ser carregado na câmera,
o suficiente para dez minutos de ação. James Stewart
está incrível como o professor que talvez
tenha dado a idéia para os dois jovens cometerem
o crime. Indiretamente o filme fala sobre homossexualismo,
mas nunca o tema é tocado de forma explícita.
A trama do filme se desenrola na base de muito diálogo
e em apenas um aposento: um apartamento, na verdade
entre a sala de estar e a cozinha, com oito pessoas
atuando.
Festim Diabólico é baseado na peça
de um só cenário chamada: Rope's End,
de Patrick Hamilton. Alfred Hitchcock afirmou que
estava abandonando o cinema puro "num esforço
para tomar móvel a peça de teatro".
Hitchcock realizou todas as filmagens deste filme
num único estúdio de som da Warner Brothers.
Esta história de um assassinato a sangue frio
cometido por dois jovens estranhos foi inspirada no
caso real de Leopold e Loeb, dois jovens intelectuais
abastados que assassinaram um rapaz de 14 anos de
idade em Chicago pela emoção de matar
alguém.
'Rope' foi o primeiro filme a cores do Hitchcock e
também o seu primeiro filme como produtor-diretor
independente. Inicialmente, Hitchcock pretendia que
Cary Grant fosse a estrela do filme. Mas, no seu lugar,
convidou James Stewart, apesar dos protestos dos empresários
do filme, que achavam que Stewart já não
era um ator "bom de bilheteria".
Para filmar tomadas longas, todos os movimentos da
câmera e dos atores tinham de ser calculados
em sessões com um enorme quadro-negro. "Até
o chão era marcado e assinalado com círculos
numerados para os 25 a 30 movimentos da câmera
em cada tomada de 10 minutos", explicou Hitchcock.
"Paredes completas do apartamento tinham de ser
afastadas para permitir que a câmera seguisse
os atores através de portas estreitas".
Para facilitar os movimentos das câmeras, as
mesas e as cadeiras tinham que ser constantemente
reorganizadas pelos cenógrafos. "Um dos
meus maiores problemas", disse Farley Franger,
"consistia em ter de confiar que, quando me sentasse,
haveria uma cadeira colocada estrategicamente a tempo
pelo contra-regra".
"Era difícil imaginar como o filme iria
sair, mesmo durante as filmagens", disse Stewart.
"Os ruídos provocados pela movimentação
das paredes era um problema constante e tínhamos
de repetir cenas apenas por motivos sonoro, utilizando
apenas microfones, como em radionovela".
Segundo o que contam, Sir. Cedric Hardwicke e Constance
Collier consideraram tudo aquilo bastante divertido,
mas quanto aos outros, as coisas podiam tornar-se
bastante tensas. Stewart não conseguia dormir
à noite.
Mais tarde, Stewart afirmou que o 'Festim Diabólico'
"não foi um êxito total", pois
o público "na realidade, não queria
ser os olhos de uma câmera móvel".
Durante a sua histórica entrevista com Hitchcock,
o diretor François Truffaut ressaltou que o
filme não podia ser considerado como uma experiência
insensata. "O realizador é tentado pelo
sonho de ligar todos os componentes de um filme numa
única ação contínua. Neste
sentido, trata-se de um passo positivo na sua evolução",
disse ele a Hitchcock.
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