LEOPARDO, O (Il Gattopardo)

 

Com Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale, Paolo Stoppa, Romolo Valli, Rina Morelli, Pierre Clémenti

 

Diretor

Duração

Produção

Luchino Visconti

185 minutos

1963, Itália/França

Gênero(s)

Distribuidora

Data de Lançamento

Clássico, Drama, Ação

Versátil

19/07/2004

SOM & IMAGEM
FILME
EXTRAS & MENUS
GERAL
Áudio
Legendas
Vídeo
Região

Italiano (DD 1.0 mono)
Português

Sinopse

Versatil Home Video orgulhosamente apresenta, pela primeira vez no Brasil, a versão completa restaurada e remasterizada de O Leopardo, a obra máxima do mestre Luchino Visconti e um dos filmes mais belos da historia do cinema. Este DVD duplo traz mais de 2 horas de extras, incluindo um documentário sobre a produção. Baseando-se no romance de Lampedusa, Visconti conta a história de Dom Fabrizio Salina (Burt Lancaster no melhor papel de sua carreira), um refinado principe da Sicilia que testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia, durante a unificação italiana, em 1860.

Comentários

“Pôs-se a olhar um quadro que estava na sua frente: era uma boa cópia de Morte do justo, de Greuze. O velho estava expirando no seu leito, entre montanhas de travesseiros e lençóis limpíssimos, cercado de netos aflitos e netas que levantavam os braços para o teto. As mocinhas eram bonitas, provocantes, a desordem de suas vestes sugeria mais a libertinagem que a dor; compreendia-se logo que eram elas o verdadeiro motivo do quadro.” (Giuseppe Tomasi di Lampedusa, in O leopardo, romance de 1957).

A cena mais significativa do pensamento expresso em O leopardo (Il gattopardo; 1963), o filme de Luchino Visconti, é aquela cena em que o príncipe Salinas, afastando-se do tumulto do baile, passa a contemplar um quadro de Greuze que trata da morte: um velho está morrendo cercado das novas gerações. O príncipe Salinas, preso em sua crise da meia-idade (está com quarenta e cinco anos, mas sente-se muito mais velho), vê ali, naquela tela, o reflexo de sua própria morte; envolvido pelo noivado de seu sobrinho Tancredi (um nobre) com uma burguesa (a bela Angelica), o príncipe parece estar no fim de seu tempo. À sua maneira, Visconti, neste pequeno trecho, reflete sobre o fluir das idades. E sobre o fim de uma classe social, a aristocracia, que já nos anos 60 do século XIX (época em que se ambienta a narrativa) apresentava à sociedade sua decadência.

Luchino Visconti, o realizador de O leopardo, é filho da aristocracia italiana. Tomasi di Lampedusa, o autor do romance de que Visconti extraiu o filme, o é igualmente: trata-se do Duque de Parma. Lampedusa é um desajustador da linguagem: pontuação e liberdades sintáticas vão jogá-lo na estrada aberta por James Joyce. Visconti é um apaixonado do rigor clássico: nascido de Jean Renoir, foi adotar um barroquismo cenográfico e um refinamento de gestos das personagens certamente único na história do cinema; sua pretensão de retratar o fim da aristocracia européia, muito bem caracterizada na(s) longa(s) seqüência(s) do baile (os quarenta minutos finais da realização), o aproxima daquilo que foi Marcel Proust na literatura; não foi acaso que Visconti sonhou durante toda sua vida com adaptar para a tela o romance-rio do escritor francês. Como Proust, Visconti brilha ao unir os detalhes da vida pública aos detalhes da vida privada de suas personagens: o coletivo e o individual, o psicológico e o social entrelaçam-se com perfeição nas cenas do baile de noivado que é o ponto alto de toda a armação ideológica e estética de O leopardo.

Intrepretações no universo barroco do cineasta. Burt Lancaster é muito bem colocado por Visconti no seio rebuscado da linguagem: em cenários cheios de adereços nobres, o americano Lancaster interpreta um italiano melancólico, o que se caracteriza mais fortemente no trecho em que a personagem contempla o quadro da morte. Alguns anos depois, em Violência e paixão (1974), Lancaster voltaria às mãos de Visconti para viver uma criatura não muito longe do príncipe Salinas, um professor que vê desesperado ruir o mundo cultural em que foi criado. Claudia Cardinale e Alain Delon, jovens e exuberantes, igualmente se enleiam nas malhas da linguagem de Visconti; Claudia voltaria no filme seguinte do cineasta, Vagas estrelas da ursa (1965), para mergulhar num caso de incesto entre irmãos. Quer dizer: os atores são brilhantes, minuciosamente dirigidos (nunca se deve esquecer que Visconti é originário do teatro), mas no corpo de um estilo de filmar tão sobressalente as interpretações dissolvem-se e nunca estão em primeiro plano, como no mais característico cinema americano, por exemplo, agora e sempre marcado pela época (passada) do star system.

As sutilezas da fotografia de Giuseppe Rotuno ajuda Visconti a compor esta sempre atual recriação de época das lutas de Giuseppe Garibaldi pela unificação italiana. As mudanças sociais e o fim de uma era, mesmo tratando de algo tão distante quanto os anos 60 do século XIX, têm uma contemporaneidade avassaladora para o espectador do início do terceiro milênio. O que comprova a genialidade de Visconti: acertar no ponto eterno de um evento histórico (quase proto-histórico para o mundo de hoje).

Se a cena da visão do quadro de Greuze é a mais significativa, certamente as do baile são as mais belas e melhor construídas. Poucas vezes no cinema se filmou a dança com tanta volúpia. Lembro as seqüências dançadas de A valsa do imperador (1947), de Billy Wilder, visto há alguns anos na televisão a cabo; talvez Wilder, austríaco de nascimento (terra da música, a Áustria) seja o que tenha chegado mais próximo de Visconti no captar os movimentos dos pares num salão de dança.

Mesmo as cenas de batalha campal, que jogam o visual do filme para um enfrentamento físico, são rodadas com tanta finura estética que fazem permanecer O leopardo nos limites daquelas reflexões filosóficas estabelecidas na biblioteca diante do quadro que mostra uma visão barroca, gritada da morte. (Eron Fagundes)

Extras

Todos os extras estão no segundo disco. Há uma divisão entre o Making of e o restante, logo no menu inicial.

- "Uma Casta Agonizante": O Making Of: ótimo documentário de uma hora, com depoimentos importantes e atuais, como o de Claudia Cardinale, Sidney Pollack, dos roteiristas do filme (Enrico Medioli e Suso Cechi D’Amico), dando várias informações importantes sobre a produção do filme e seu roteiro, como foi a adaptação do livro para o cinema, sobre Visconti, os marcantes personagens do filme, a direção de arte, a relação do “Astro de Hollywwod”, Burt Lancaster, com o diretor Italiano, os figurinos, e até da dublagem de Lancaster. Com cenas e fotos do filme e de bastidores, é bom complemento para se saber os bastidores de um filme cujo princípio não é mostrar “os efeitos especiais” e sim, estórias de bastidores em “carne e osso”.

- Uma Viagem na Memória: breve documentário dirigido por Bruno Restuccia, com quase 21 minutos, mostrando mais curiosidades sobre a produção do filme, entremeado com trechos do livro comparados suas cenas respectivas e imagens das locações nos anos 90, há importantes informações sobre a fotografia e locações, finalizando com o sucesso do filme, sempre contando com depoimentos importantes (neste caso há um depoimento de Delon).

- Entrevista com Goffredo Lombardo: entrevista com o produtor da Titanus, uma das mais importantes produtoras de cinema da Itália. Um dos principais temas da entrevista é a escolha polêmica da Burt Lancaster para o papel principal. Mas há outros detalhes interessantes, principalmente sobre Visconti e sua genialidade. Tem 19 minutos e meio. Não cenas externas, “apenas” o testemunho do produtor. Produzido especialmente para a edição em DVD.

- Trailers de Cinema: são 3, um italiano e dois em americanos, devidamente legendados.

- Cinejornais da Época: também são três, um contando como foi a “Estréia do Filme” em Roma (3 minutos, com a presença dos atores e do diretor, na verdade, uma pré-estréia que antecedeu a premiação importante na época, chamada “Nastri”, de 1962), outro chamado “Apresentação do Elenco e Premiação” (com 3 minutos, outro documento de época de outra produtora, mostrando os atores do filme e também a premiação anterior) e “Uma Medalha Para Visconti” (neste, de 44 segundos, mostra como foi a cerimônia da entrega da medalha de “honra ao mérito” do ano ao diretor por uma associação de Milão). São três interessantes documentos históricos, jornalísticos, onde podemos comparar com os famosos jornais de cinema apresentados também no Brasil, um deles o famoso “Canal 100”. Uma época em que o cinema, além de entreter, era responsável também por noticiários, já que era uma fonte de formação mais importante do que a própria TV.

- Especial Sobre a Restauração: interessantíssimo documentário sobre a restauração, realizada em 1991, do filme, com muitas explicações técnicas. Para os estudantes de cinema e fotografia, uma pequena aula, mesmo em se tratando de técnicas mais antigas, Mas história também faz parte do conhecimento. Com 11 minutos.

- Lembranças dos Bastidores: não citado na embalagem, mostrando mais detalhes sobre a produção, em 4 bem produzidos minutos, misturando imagens do filme com suas locações. Há várias imagens de bastidores e um importante depoimento de Burt Lancaster. Mas seu término meio “abrupto” sugere que haveria mais material. Mas é mais um importante documento sobre o filme.

- O Leopardo em Cannes: dividido em duas partes: um texto explicativo sobre o festival, com algumas fotos e pôsteres (6 páginas) e um trecho de uma reportagem de época, com 30 segundos, mostrando a premiação do filme e seus atores fazendo a divulgação do filme.

- O Leopardo e a Arte Italiana de Sec. XIX: também dividido em duas partes, uma com um depoimento do Professor Renato Brolezzi, historiador e professor de arte no Brasil, com quase 8 minutos, produzido especialmente para a edição em DVD brasileira, com importantes informações históricas. A segunda parte, quase que enciclopédica, em 85 páginas de textos e imagens, uma aula de arte, também escrito pelo Professor Renato. Uma produção que chega a surpreender, não pela sua qualidade técnica, mas sim histórica.

- II Risorgimento - A Unificação da Itália: também em duas partes, “O Processo de Unificação” (11 páginas bem explicativas, em texto, sobre o tema) e “Galeria de Imagens” (8 páginas com pinturas ilustrativas sobre o período).
- O Romance de Lampedusa: dois textos, “Biografia do Autor” (com 9 páginas) e “’Do Romance ao Filme’, de Emilio Cechi” (18 páginas escritas pelo crítico de arte e historiador italiano em 1963). Mesmo para quem não gosta de textos em DVD, mais um complemento histórico e importante.

- Sobre a Produção: mais um texto histórico, de 9 páginas, na verdade um documento expedido pela Fox em 1993.
- Fortuna Critica: 16 páginas em texto de críticas realizadas na época da exibição dói filme pelos principais jornalistas do mundo todo: Roger Ebert, Peter Bradshaw, Marcel Martin, entre outros, inclusive brasileiros.

- Textos & Ensaios: “Crítica de Alberto Moravia” (13 páginas, publicado originalmente em 1963), “Crônica de Arnaldo Jabor” (13 páginas, publicado originalmente em 1994) e “ Carta de Luchino Visconti” (carta enviada ao New York Times, em 1963, pelo próprio Diretor do filme, importante documento histórico. Leia e saiba o porquê).

- Galeria de Fotos e Pôsteres: divididos em “Fotos de Cena” (16), “Fotos de Bastidores” (30), “Figurinos” (11) e “Pôsteres” (15). Farto material iconográfico.

- Vida e Obra de Visconti: 14 páginas com uma boa biografia e filmografia selecionada do diretor.
- Biografia e Filmografia: dos principais atores, Burt Lancaster (18 páginas, entre biografia e filmografia selecionada), Claudia Cardinale (17) e Alain Delon (14).

- Créditos do DVD: duas páginas sobre os responsáveis por esta excelente versão em DVD.

Todos os extras estão em Português (legendas ou textos).

Críticas ao DVD

Excepcional versão em DVD de um dos mais importantes retratos da cultura italiana. Tecnicamente muito bem realizado, com formato de imagem (adaptado para quem tem TV em widescreen) e áudio originais de cinema (o áudio é o único “senão”: está apenas em 1 canal, para quem tem home theater o áudio está apenas no canas central, poderia ao menos estar nos canais laterias, mas felizmente está em italiano).

Mas além do excelente filme, o que devemos destacar é a impecável produção da Versátil neste DVD para o Brasil. Depois de um acordo firmado com a “Hollywood Classics”, que fez com que a distribuidora possa lançar verdadeiras obras-primas como esta, é notável o esforço de se ter material extra além do “disponível” no exterior, com produções também realizadas no Brasil. Não há nenhum extra que se possa chamar de “dispensável”. Tem de tudo, desde documentos históricos até aula de cinema, história e história da arte. Todos notavelmente bem cuidados, apesar das várias fontes de informação. Até os textos, que muitos nem os lêem, são bastante interessantes e complementares.

Não perca, uma verdadeira história de cinema europeu, especialmente o italiano, numa rica e exuberante produção em DVD. Nem só de efeitos especiais e cine-pipoca (que também tem seu espaço) é o mercado de DVDs. Um dos poucos lançamentos em DVD no Brasil melhor do que os encontrados no exterior.

Menus
Resenha publicada em 28/07/2004
Por Eron Fagundes (filme) e Edinho Pasquale (DVD)

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