Com
Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale, Paolo Stoppa, Romolo Valli, Rina
Morelli, Pierre Clémenti
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185
minutos
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Região
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Italiano (DD 1.0 mono)
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Português
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Sinopse
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Versatil Home Video orgulhosamente apresenta, pela
primeira vez no Brasil, a versão completa
restaurada e remasterizada de O Leopardo, a obra
máxima do mestre Luchino Visconti e um dos
filmes mais belos da historia do cinema. Este DVD
duplo traz mais de 2 horas de extras, incluindo um
documentário sobre a produção.
Baseando-se no romance de Lampedusa, Visconti conta
a história de Dom Fabrizio Salina (Burt Lancaster
no melhor papel de sua carreira), um refinado principe
da Sicilia que testemunha a decadência da nobreza
e
a ascensão da burguesia, durante a unificação
italiana, em 1860.
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Comentários
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“Pôs-se a olhar um quadro que estava
na sua frente: era uma boa cópia de Morte
do justo, de Greuze. O velho estava expirando no
seu leito, entre montanhas de travesseiros e lençóis
limpíssimos, cercado de netos aflitos e netas
que levantavam os braços para o teto. As mocinhas
eram bonitas, provocantes, a desordem de suas vestes
sugeria mais a libertinagem que a dor; compreendia-se
logo que eram elas o verdadeiro motivo do quadro.” (Giuseppe
Tomasi di Lampedusa, in O leopardo, romance de 1957).
A
cena mais significativa do pensamento expresso em
O leopardo (Il gattopardo; 1963), o filme de Luchino
Visconti, é aquela cena em que o príncipe
Salinas, afastando-se do tumulto do baile, passa
a contemplar um quadro de Greuze que trata da morte:
um velho está morrendo cercado das novas gerações.
O príncipe Salinas, preso em sua crise da
meia-idade (está com quarenta e cinco anos,
mas sente-se muito mais velho), vê ali, naquela
tela, o reflexo de sua própria morte; envolvido
pelo noivado de seu sobrinho Tancredi (um nobre)
com uma burguesa (a bela Angelica), o príncipe
parece estar no fim de seu tempo. À sua maneira,
Visconti, neste pequeno trecho, reflete sobre o fluir
das idades. E sobre o fim de uma classe social, a
aristocracia, que já nos anos 60 do século
XIX (época em que se ambienta a narrativa)
apresentava à sociedade sua decadência.
Luchino
Visconti, o realizador de O leopardo, é filho
da aristocracia italiana. Tomasi di Lampedusa, o
autor do romance de que Visconti extraiu o filme,
o é igualmente: trata-se do Duque de Parma.
Lampedusa é um desajustador da linguagem:
pontuação e liberdades sintáticas
vão jogá-lo na estrada aberta por James
Joyce. Visconti é um apaixonado do rigor clássico:
nascido de Jean Renoir, foi adotar um barroquismo
cenográfico e um refinamento de gestos das
personagens certamente único na história
do cinema; sua pretensão de retratar o fim
da aristocracia européia, muito bem caracterizada
na(s) longa(s) seqüência(s) do baile (os
quarenta minutos finais da realização),
o aproxima daquilo que foi Marcel Proust na literatura;
não foi acaso que Visconti sonhou durante
toda sua vida com adaptar para a tela o romance-rio
do escritor francês. Como Proust, Visconti
brilha ao unir os detalhes da vida pública
aos detalhes da vida privada de suas personagens:
o coletivo e o individual, o psicológico e
o social entrelaçam-se com perfeição
nas cenas do baile de noivado que é o ponto
alto de toda a armação ideológica
e estética de O leopardo.
Intrepretações no universo barroco
do cineasta. Burt Lancaster é muito bem colocado
por Visconti no seio rebuscado da linguagem: em cenários
cheios de adereços nobres, o americano Lancaster
interpreta um italiano melancólico, o que
se caracteriza mais fortemente no trecho em que a
personagem contempla o quadro da morte. Alguns anos
depois, em Violência e paixão (1974),
Lancaster voltaria às mãos de Visconti
para viver uma criatura não muito longe do
príncipe Salinas, um professor que vê desesperado
ruir o mundo cultural em que foi criado. Claudia
Cardinale e Alain Delon, jovens e exuberantes, igualmente
se enleiam nas malhas da linguagem de Visconti; Claudia
voltaria no filme seguinte do cineasta, Vagas
estrelas da ursa (1965), para mergulhar num caso de incesto
entre irmãos. Quer dizer: os atores são
brilhantes, minuciosamente dirigidos (nunca se deve
esquecer que Visconti é originário
do teatro), mas no corpo de um estilo de filmar tão
sobressalente as interpretações dissolvem-se
e nunca estão em primeiro plano, como no mais
característico cinema americano, por exemplo,
agora e sempre marcado pela época (passada)
do star system.
As
sutilezas da fotografia de Giuseppe Rotuno ajuda
Visconti a compor esta sempre atual recriação
de época das lutas de Giuseppe Garibaldi pela
unificação italiana. As mudanças
sociais e o fim de uma era, mesmo tratando de algo
tão distante quanto os anos 60 do século
XIX, têm uma contemporaneidade avassaladora
para o espectador do início do terceiro milênio.
O que comprova a genialidade de Visconti: acertar
no ponto eterno de um evento histórico (quase
proto-histórico para o mundo de hoje).
Se
a cena da visão do quadro de Greuze é a
mais significativa, certamente as do baile são
as mais belas e melhor construídas. Poucas
vezes no cinema se filmou a dança com tanta
volúpia. Lembro as seqüências dançadas
de A valsa do imperador (1947), de Billy Wilder,
visto há alguns anos na televisão a
cabo; talvez Wilder, austríaco de nascimento
(terra da música, a Áustria) seja o
que tenha chegado mais próximo de Visconti
no captar os movimentos dos pares num salão
de dança.
Mesmo
as cenas de batalha campal, que jogam o visual do
filme para um enfrentamento físico, são
rodadas com tanta finura estética que fazem
permanecer O leopardo nos limites
daquelas reflexões
filosóficas estabelecidas na biblioteca diante
do quadro que mostra uma visão barroca, gritada
da morte.
(Eron Fagundes)
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Extras
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Todos os extras estão no segundo disco. Há uma
divisão entre o Making of e o restante, logo
no menu inicial.
- "Uma
Casta Agonizante": O Making Of: ótimo
documentário de uma hora, com depoimentos
importantes e atuais, como o de Claudia Cardinale,
Sidney Pollack, dos roteiristas do filme (Enrico
Medioli e Suso Cechi D’Amico), dando várias
informações
importantes sobre a produção do filme
e seu roteiro, como foi a adaptação
do livro para o cinema, sobre Visconti, os marcantes
personagens do filme, a direção de
arte, a relação do “Astro de
Hollywwod”, Burt Lancaster, com o diretor Italiano,
os figurinos, e até da dublagem de Lancaster.
Com cenas e fotos do filme e de bastidores, é bom
complemento para se saber os bastidores de um filme
cujo princípio não é mostrar “os
efeitos especiais” e sim, estórias de
bastidores em “carne e osso”.
-
Uma Viagem na Memória: breve documentário
dirigido por Bruno Restuccia, com quase 21 minutos,
mostrando mais curiosidades sobre a produção
do filme, entremeado com trechos do livro comparados
suas cenas respectivas e imagens das locações
nos anos 90, há importantes informações
sobre a fotografia e locações, finalizando
com o sucesso do filme, sempre contando com depoimentos
importantes (neste caso há um depoimento de
Delon).
-
Entrevista com Goffredo Lombardo: entrevista com
o produtor da Titanus, uma das mais importantes produtoras
de cinema da Itália. Um dos principais temas
da entrevista é a escolha polêmica da
Burt Lancaster para o papel principal. Mas há outros
detalhes interessantes, principalmente sobre Visconti
e sua genialidade. Tem 19 minutos e meio. Não
cenas externas, “apenas” o testemunho
do produtor. Produzido especialmente para a edição
em DVD.
-
Trailers de Cinema: são 3, um italiano
e dois em americanos, devidamente legendados.
-
Cinejornais da Época: também são
três, um contando como foi a “Estréia
do Filme” em Roma (3 minutos, com a presença
dos atores e do diretor, na verdade, uma pré-estréia
que antecedeu a premiação importante
na época, chamada “Nastri”, de
1962), outro chamado “Apresentação
do Elenco e Premiação” (com 3
minutos, outro documento de época de outra
produtora, mostrando os atores do filme e também
a premiação anterior) e “Uma
Medalha Para Visconti” (neste, de 44 segundos,
mostra como foi a cerimônia da entrega da medalha
de “honra ao mérito” do ano ao
diretor por uma associação de Milão).
São três interessantes documentos históricos,
jornalísticos, onde podemos comparar com os
famosos jornais de cinema apresentados também
no Brasil, um deles o famoso “Canal 100”.
Uma época em que o cinema, além de
entreter, era responsável também por
noticiários, já que era uma fonte de
formação mais importante do que a própria
TV.
-
Especial Sobre a Restauração: interessantíssimo
documentário sobre a restauração,
realizada em 1991, do filme, com muitas explicações
técnicas. Para os estudantes de cinema e fotografia,
uma pequena aula, mesmo em se tratando de técnicas
mais antigas, Mas história também faz
parte do conhecimento. Com 11 minutos.
-
Lembranças dos Bastidores: não citado
na embalagem, mostrando mais detalhes sobre a produção,
em 4 bem produzidos minutos, misturando imagens do
filme com suas locações. Há várias
imagens de bastidores e um importante depoimento
de Burt Lancaster. Mas seu término meio “abrupto” sugere
que haveria mais material. Mas é mais um importante
documento sobre o filme.
-
O Leopardo em Cannes: dividido em duas partes: um
texto explicativo sobre o festival, com algumas
fotos e pôsteres (6 páginas) e um trecho
de uma reportagem de época, com 30 segundos,
mostrando a premiação do filme e seus
atores fazendo a divulgação do filme.
-
O Leopardo e a Arte Italiana de Sec. XIX: também
dividido em duas partes, uma com um depoimento do
Professor Renato Brolezzi, historiador e professor
de arte no Brasil, com quase 8 minutos, produzido
especialmente para a edição em DVD
brasileira, com importantes informações
históricas. A segunda parte, quase que enciclopédica,
em 85 páginas de textos e imagens, uma aula
de arte, também escrito pelo Professor Renato.
Uma produção que chega a surpreender,
não pela sua qualidade técnica, mas
sim histórica.
-
II Risorgimento - A Unificação da
Itália: também em duas partes, “O
Processo de Unificação” (11 páginas
bem explicativas, em texto, sobre o tema) e “Galeria
de Imagens” (8 páginas com pinturas
ilustrativas sobre o período).
- O Romance de Lampedusa: dois textos, “Biografia
do Autor” (com 9 páginas) e “’Do
Romance ao Filme’, de Emilio Cechi” (18
páginas escritas pelo crítico de arte
e historiador italiano em 1963). Mesmo para quem
não gosta de textos em DVD, mais um complemento
histórico e importante.
-
Sobre a Produção: mais um texto histórico,
de 9 páginas, na verdade um documento expedido
pela Fox em 1993.
- Fortuna Critica: 16 páginas em texto de
críticas realizadas na época da exibição
dói filme pelos principais jornalistas do
mundo todo: Roger Ebert, Peter Bradshaw, Marcel Martin,
entre outros, inclusive brasileiros.
-
Textos & Ensaios: “Crítica de
Alberto Moravia” (13 páginas, publicado
originalmente em 1963), “Crônica de Arnaldo
Jabor” (13 páginas, publicado originalmente
em 1994) e “ Carta de Luchino Visconti” (carta
enviada ao New York Times, em 1963, pelo próprio
Diretor do filme, importante documento histórico.
Leia e saiba o porquê).
-
Galeria de Fotos e Pôsteres: divididos em “Fotos
de Cena” (16), “Fotos de Bastidores” (30), “Figurinos” (11)
e “Pôsteres” (15). Farto material
iconográfico.
-
Vida e Obra de Visconti: 14 páginas com
uma boa biografia e filmografia selecionada do diretor.
- Biografia e Filmografia: dos principais atores,
Burt Lancaster (18 páginas, entre biografia
e filmografia selecionada), Claudia Cardinale (17)
e Alain Delon (14).
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Créditos do DVD: duas páginas sobre
os responsáveis por esta excelente versão
em DVD.
Todos
os extras estão em Português (legendas ou textos).
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Críticas
ao DVD
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Excepcional versão em DVD de um dos mais importantes
retratos da cultura italiana. Tecnicamente muito
bem realizado, com formato de imagem (adaptado para
quem tem TV em widescreen) e áudio
originais de cinema (o áudio é o único “senão”:
está apenas em 1 canal, para quem tem home
theater o áudio está apenas no canas
central, poderia ao menos estar nos canais laterias,
mas felizmente está em italiano).
Mas
além do excelente filme, o que devemos
destacar é a impecável produção
da Versátil neste DVD para o Brasil. Depois
de um acordo firmado com a “Hollywood Classics”,
que fez com que a distribuidora possa lançar
verdadeiras obras-primas como esta, é notável
o esforço de se ter material extra além
do “disponível” no exterior, com
produções também realizadas no Brasil. Não
há nenhum
extra que se possa chamar de “dispensável”.
Tem de tudo, desde documentos históricos até aula
de cinema, história e história da arte.
Todos notavelmente bem cuidados, apesar das várias
fontes de informação. Até os
textos, que muitos nem os lêem, são
bastante interessantes e complementares.
Não
perca, uma verdadeira história
de cinema europeu, especialmente o italiano, numa
rica e exuberante produção em DVD. Nem
só de efeitos especiais e cine-pipoca (que também
tem seu espaço) é o mercado de DVDs. Um
dos poucos lançamentos em DVD no Brasil melhor do
que os encontrados no exterior.
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Menus
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Resenha
publicada em
28/07/2004
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Por
Eron Fagundes (filme) e Edinho
Pasquale (DVD)
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