LOLA (Lola)

 

Com Barbara Sukowa, Armin Mueller-Stahl, Mario Adorf, Mathias Fuchs

 

Diretor

Duração

Produção

Rainer Werner Fassbinder

115 minutos

1981, Alemanha

Gênero(s)

Distribuidora

Data de Lançamento

Drama

New Line Home Video

16/11/2004

SOM & IMAGEM
FILME
EXTRAS & MENUS
GERAL
Áudio
Legendas
Vídeo
Região

Alemão (DD 1.0)
Inglês, Português

Sinopse

Lola (Barbara Sukowa) é dançarina de um bordel freqüentado pelas principais figuras da sociedade local. Em meio a toda luxuria causada por este ambiente, são arquitetados grandes negócios e verdadeiras tramas de corrupção que envolvem a elite que dirige a cidade. Um honesto funcionário público (Armin Mueller-Stahl) se apaixona por Lola, símbolo do submundo e da corrupção, criando um caos nos bastidores políticos e sociais da cidade. Uma obra-prima do espetacular diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, com grande poder de persuasão, questionando através de ícones e colocando em verdadeiro xeque-mate as bases da sociedade contemporânea.

Comentários

O deslumbramento cromático de Lola (Lola; 1981), do alemão Rainer Werner Fassbinder, vai atingir fortemente o espectador desde as primeiras imagens, quando, após uma cena fotográfica em preto-e-branco sublinhada por uma canção-off, surge uma exótica e colorida apresentação de créditos em que se precisa aguçar a vista e a atenção para entender o que vai escrito na tela. O cromatismo de Lola está na própria raiz da linguagem de Fassbinder neste filme: a tensão de cores e iluminação chega a ser mágica quando, ali mesmo pelo início da narrativa, Lola está cantando no cabaré; seu figurino extravagantemente vermelho combina com as demais cores e luzes deste quadro que nos arrebata.

O cinema alemão tem perdido seu espaço nas discussões cinematográficas de hoje e os realizadores revelados por aqui estão longe daqueles soberbos artistas que dirigiriam filmes a partir das décadas de 60 e 70. Fassbinder é um dos grandes cineastas desta geração. Seu Lola está dedicado a Alexander Kluge, talvez o maior cérebro produzido pela sétima arte na Alemanha.

Na verdade a história contada em Lola se parece com aquela que o francês Robert Bresson transformou em imagens em As damas do bosque de Bolonha (1944). No filme de Fassbinder, um administrador público recém-chegado e com muita vontade de pôr ordem na casa passa a flertar com uma garota e vem a apaixonar-se por ela; entra em pânico quando descobre que ela é Lola, uma prostituta que dança e canta e se vende num bordel. Se Bresson desvia a reflexão de sua narrativa para a salvação espiritual, Fassbinder dá a seu filme uma conclusão cínica e perversa. A lama do espírito de Fassbinder é muito maior.

Fassbinder não se relaciona de maneira alguma com a arte de Bresson. Os pontos de contato entre as tramas analisadas no parágrafo anterior devem ser tidos por coincidência. Um certo barroquismo, o refinamento de cenários, o próprio título do filme, a identidade da protagonista, tudo conduz a Lola de Fassbinder a situar sua obra-prima nas ilustres sombras de Lola Montès (1955), de Max Ophüls, um dos mais agudos retratos de meretriz que o cinema trouxe à luz. Fassbinder refaz os melodramas de Ophüls, repassados por influências mais fáceis de assimilar herdadas do alemão radicado em Hollywood Douglas Sirk. Lola é este conjunto desvairado de estéticas que se superpõem, se entrecruzam e se dilaceram nas mãos exasperadas de Fassbinder. Exasperação que ele passa ao espectador.

A alemã Bárbara Sukowa (que seria a Rosa Luxemburgo de Margarethe von Trotta) dá uma potência admirável à protagonista de Fassbinder. Armin Mueller-Stahl, que viveria para Alexander KLuge o cineasta cego num episódio perturbador de O ataque do presente contra o restante do tempo (1985), compõe um complexo servidor público, cuja resistência à corrupção se converte num projeto quixotesco. E também Mario Adorf como o chefe de polícia despudorado (o Mario Adorf de O tambor, 1979, de Volker Schloendordd) é uma interpretação exemplar, vigorosa. Vigor é o que há de sobra em Lola.

O filme de Fassbinder é uma visão extremamente lúcida e bem-sucedida dos caminhos da sociedade contemporânea. Quando a película passou por aqui em 1986, as anotações que fiz foram evasivas, reticentes, revelando incompreensão para com as intenções cinematográficas do realizador. Revendo Lola em dvd, o rumo de meu pensamento mudou; compreendi Fassbinder e deliciei-me com sua salada de cores.

Fassbinder sempre soube expor em imagens a força íntima da mulher alemã. Effi Briest (1974) é seu trabalho mais radical e belo, Hanna Schygulla desfila ali uma personagem impagável contracenando com espelhos. Lola é do mesmo naipe. (Eron Fagundes)

Extras

- Biografias: textos sobre a atriz Barbara Sukowa e o diretor Fassbinder.

- Sinopse: tela com texto dispensável.

- Entrevista com Barbara Sukowa: entrevista relativamente recente (não há a informação da data) da importante atriz alemã, contando em pouco mais de 19 minutos a sua relação com Fassbinder, seu papel em Lola, com curiosidades sobre os bastidores do filme e o contexto do filme e do cineasta no cinema mundial. Bem interessante.

- Entrevista com Peter Märthesheimer: o roteirista comenta vários detalhes sobre o filme, seu relacionamento profissional com Fassbinder, o papel do Diretor no roteiro e muitas outras curiosidades, com imagens de fotos de bastidores. Imperdível para quem quer conhecer um pouco da história do cinema alemão, nos seus 33 minutos.

Críticas ao DVD

Há de se elogiar esta distribuição deste importante filme do cineasta alemão Fassbinder, por vários motivos. A New Line é uma distribuidora pequena, mas que tem se destacado pela qualidade de seus títulos e do esforço em nos trazer a melhor qualidade possível. Neste caso, a tela em widescreen com uma ótima qualidade de imagem se destaca, com áudio regular original apenas em mono. Não há a dublagem em Português, mas até certo ponto dispensável para um “filme de arte”. Os menus são muito bem produzidos, animados, e os extras de bom tamanho, talvez pela escassez de materiais originais. Mas um trailer seria ao menos bem vindo. No geral, um DVD importante de um cineasta que talvez ainda não seja totalmente conhecido pelo grande público, mas que nos trás um filme quase que indispensável pelo seu histórico e contexto. Para um público especial, imperdível para quem quer saber mais sobre a história do cinema.

Menus
Resenha publicada em 17/07/2005
Por Eron Fagundes (filme) e Edinho Pasquale

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