Com
Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau, Mônica Vitti, Bernhard Wicki
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122
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SOM & IMAGEM |
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EXTRAS & MENUS |
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Região
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Italiano (DD 2.0)
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Português
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Sinopse
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Dando continuidade ao lançamento de obras-primas
dos mestres italianos, a Versátil apresenta
A Noite, do mestre Michelangelo Antonioni, em versão
restaurada no formato widescreem letterbox. Esta
Edição Especial Limitada traz muitos
extras, incluido cinejornais, trailer original e
o documentário inédito Michelangelo
Antonioni, produzido para a RAI em que o cineasta
fala de todos os seus filmes. Após dez anos
de casamento, Lídia e Giovani passam uma noite
permeada de momentos de angústia e luxúria,
numa busca involuntária de respostas para
a crise de seu relacionamento. Segundo filme da célebre "trilogia
da incomunicabilidade", formada ainda por A
Aventura e O Eclipse, A Noite é um marco do
cinema moderno que não pode faltar em sua
coleção.
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Comentários
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Há cerca de dois anos meu amigo e crítico
de cinema Tuio Becker, diante da leitura de alguns
comentários cinematográficos que eu
habitualmente lhe enviava pelo correio, me incentivava,
por carta, a retomar a confecção de
livros, gesto começado e interrompido em 1999
com a publicação de Uma vida nos cinemas,
pela Editora Movimento de Porto Alegre, opúsculo
olimpicamente ignorado pela imprensa. A idéia
de Tuio era simples: compor uma narrativa que tivesse
por chão os filmes diferentes e fora de moda,
entre eles aquelas obras espirituais ou políticas
que hoje parecem interessar a um pequeno e envergonhado
grupo. (Lembro que o falecido historiador gaúcho
Décio Freitas costumava dizer isso do futuro
dos que lêem livros, terão de esconder-se
em catacumbas para entregar-se a seu culto –os
que amam determinados filmes talvez tenham de seguir
um caminho semelhante.)
Ao
rever A noite (1960), do italiano Michelangelo Antonioni,
penso que esta realização
poderia ser um bom ponto de partida para o hipotético
livro. Ao revelar meu assombro diante de cada visão
de A noite e exclamar que se trata de um dos maiores
filmes do mundo, estarei eu comunicando-me com algum
espectador de hoje? As preocupações
estéticas e morais de Antonioni estão
mesmo fora de moda, mas permanecem dentro de mim
numa colagem plástica em que a precisão
dos movimentos da película se abre para uma
autêntica memória cinematográfica
que é a mais extraordinária interioridade
jamais concebida pelo cinema.
Tudo é muito elaborado em A
noite. Casam-se
os gestos introspectivos dos atores, a articulação
dos cenários, a inquietação
das frases ditas pelos intérpretes. A simbologia
cênica é despojada e vigorosa: o tema
do tédio da burguesia (ou sua esterilidade
sentimental) é metaforizado na aparição
das paredes brancas, nas caminhadas elegantes de
Jeanne Moreau ou na face angustiada do romancista
vivido por Marcello Mastroianni.
Ao
longo das décadas, muitos analistas perceberam
as semelhanças temáticas de A
noite com A
doce vida (1960), de Federico Fellini. Não
surpreende: os co-roteiristas de Antonioni foram
os mesmos de Fellini. Tanto em Antonioni quanto em
Fellini está em cena um intelectual que oscila
entre sua sinceridade artística e vender a
alma ao mercado; em A noite a personagem de Mastroianni
(que também foi o protagonista de A doce vida) é tentada
pela figura dum industrial. No início de A
noite o casal Mastroianni-Moreau visita um amigo
doente num hospital, e, diante da janela do quarto,
um helicóptero sobrevoa, ecoando ali o helicóptero
que abre grandiloqüentemente A doce
vida. Porém
estas similitudes de assunto destas duas obras-primas
do cinema não conduzem a narrativas idênticas:
nada mais diverso do burlesco social de Fellini do
que as rugas espirituais de Antonioni; o espetáculo
dançado do estilo felliniano aparta-se integralmente
da ausência total de concessões ao espetáculo
erigida por Antonioni.
De
que trata mesmo A noite? Da crise de um casal burguês de Milão, Itália, nos
moldes dos começos dos anos 60. O amor-desamor
de Giovanni e Lídia é a base da narrativa
metafísica de Antonioni, um autêntico
cineasta da alma, coisa que no cinema, tido por uma
arte física, é uma raridade. A grua
descritiva que abre o filme descendo pelos andares
de um prédio de onde se vê Milão
(enquanto os créditos iniciais desfilam na
tela) vai corresponder-se com a panorâmica
breve e precisa que fecha a fita circundando um gramado
para onde se retiraram os protagonistas no amanhecer
depois da festa em casa de alguns aristocratas.
A
crise de Giovanni—Lídia vai acentuar-se
durante a festa, em que um e outro topam pessoas
que lhes despertam interesse embora o desejo de voltar
para o parceiro original nunca se ausente. O momento
em que falta energia elétrica, mergulhando
as imagens em sombras, agrava o caráter tétrico
do universo antonioniano. A carta final lida por
Lídia, com a câmara invocando as expressões
dos atores, e a constatação de que
Giovanni, autor da carta, não se vê no
que ali está expresso, provoca cortes amargos
nas relações estabelecidas pelo filme.
Ainda
A noite permite observar o auge duma época
cinematográfica em que o star system era mesmo
capaz de produzir atores de verdade, à margem
do puro estrelismo, ou eram de fato os excelentes
e pessoais diretores de atores que faziam das estrelas
atores? Mastroianni e Moreau sempre estiveram soberbos
diante das câmaras; mas Antonioni logra inventar
uma notável Monica Vitti, então sua
esposa e musa e que estaria em O eclipse (1961) e
na realização em vídeo O
mistério
de Oberwald (1980). Antonioni confere a marca de
seu estilo de filmar a cada modo de atuar de um ator.
Por
estas razões, e por outras mais que talvez
o livro sonhado por Tuio pudesse esclarecer, A
noite é tão
fora de moda e diferente que deixa perplexo o observador
ainda capaz de amá-lo. Como diz Giovanni/Mastroianni
do ser do escritor no universo pragmático
estabelecido a partir da metade do século
XX, o assistente que devora A noite se
questiona: não serei eu um tipo antiquado?
Assim, o filme é um
bom começo para teorizar ou contar a história
do diferente e o fora de moda. (Eron Fagundes)
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Extras
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- Filme “Michelangelo Antonioni: O Olhar Que
Mudou o Cinema”: com a direção
de Sandro Lai, este documentário com 55 minutos
de duração, é uma excelente
oportunidade de se conhecer a vida e a obra deste
magnífico gênio do cinema mundial. Com
muitas cenas de bastidores, costurado por entrevistas
e depoimentos de Antonioni, este é um espetáculo
raro. Há cenas de entregas de prêmios,
de sua intimidade, enfim, um perfil excepcional de
suas idéias e de toda uma vida. Não
perca.
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Trailer de Cinema
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Cinejornal: espécie de informativo, muito
comum na época (inclusive no Brasil), que
eram exibidos sobre as produções da época.
Este, de cerca de um minuto, realizado em 1960, mostra
os bastidores da filmagem do filme.
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A Estréia em Milão: idem, com as
imagens dos atores, do diretor, enfim, uma reportagem
de época (1961), com 44 segundos.
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Galeria de Pôsteres: diversos pôsteres
de 11 filmes do diretor, em várias versões
e idiomas. -
Vida e Obra de Antonioni: um ótimo texto
contendo a biografia e sua filmografia completa,
em 27 páginas de textos.
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Biografias: Marcello Mastrioanni (22 páginas,
biografia e filmografia selecionada), Jeanne Moreau
(26, idem) , Mônica Vitti (14, idem).
Todos
os extras estão com legendas ou com textos em Português.
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Críticas
ao DVD
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Temos aqui um exemplo de um DVD realmente para colecionadores.
Trata-se de um grande filme, devidamente restaurado,
com excelente qualidade de imagem (mantendo o formato
original de cionema e anamórfico, ou seja, otimizado
para quem tem uma TV Wide) e áudio.
Os extras estão igualmente impecáveis,
na medida perfeita, fazendo jus ao filme, com filmes
e imagens de arquivo igualmente restaurados. Nota-se
o grande cuidado de produção e realização
deste DVD, desde a qualidade técnica até a embalagem,
com um box (chamamos de "luva") protetor. Quem dera
todos os filmes europeus dos grandes cineastas
que
fizeram
a história
do cinema tivessem esta qualidade. Um DVD imperdível,
como dito, para colecionadores e amantes do cinema.
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Menus
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Resenha
publicada em
08/07/2004
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Por
Eron Fagundes (filme) e Edinho
Pasquale (DVD)
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Seu comentário
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