Joana de
Domrémy, uma mulher do povo,na França
de 1431, que luta heroicamente contra a ocupação
do seu país, é presa, torturada e queimada
sob a acusação de blasfêmia. Transposto
ao cinema por vários cineastas, Mélies,
De Mille, Fleming, Uciky, Bresson, Rosslini e por
último a versão Luc Besson, ainda assim
a Joana D'Arc de Dreyer contínua como a mais
espetacular e sensível versão. Dreyer
usou a essência do cinema, a imagem, para mostrar
a tragédia humana em grandes closes. Cinema
em estado puro...
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A Paixão
de Joana D'arc é um clássico singular
na história do cinema. Em quase sua totalidade
o filme consiste em faces, ou seja, em closes extremados
dos rostos dos atores. Como o filme procura retratar
a alma humana, nada mais apropriado do que rostos
que expressam o ser interior. Os cenários,
os vestuários e demais valores da produção
são extremamente simples para não distrair
a atenção do público da meta
de Dreyer em retratar os sentimentos humanos.
A interpretação de Faconetti, a jovem
atriz de teatro que faz o papel de Joana, é
considerado como um dos melhores, senão o melhor
trabalho já realizado na frente das câmeras.
É simplesmente magistral. Alegria, tristeza,
agonia, esperança, medo e tantas outras emoções
humanas são perfeitamente caracterizadas por
Falconetti apenas por expressões de seu rosto.
O fato desse ter sido a única incursão
da atriz no cinema colabora em tornar única
a sua atuação, sem comparações
e, por infortúnio da atriz, a ligando eternamente
ao papel de Joana D'arc.
O lado humano de Joana é confrontado com o
lado desumano dos juízes que a julgam. Velhos,
autoritários, ameaçadores, dogmáticos,
cujo intuito é subjugar Joana, os juízes
representam a inflexibilidade da Igreja diante a ameaça
que ela representa aos seus interesses.
Nenhum ator do filme foi submetido a maquiagem, pois
Dreyer entendia que sua aplicação poderia
ocultar, ou até mesmo desvirtuar, a verdadeira
face dos atores. Como conseqüência, o realismo
do filme é impressionante.
Para dar maior autenticidade do filme, a maioria
dos textos nos intertítulos do filme, mais
precisamente os que aparecem durante o julgamento,
foram extraídos dos manuscritos originais do
julgamento de Joana.
Durante mais de 70 anos "A Paixão de
Joana D'arc" foi um dos clássicos mais
conhecidos, porém raramente visto, na história
do cinema. Rodado em 1928, os negativos originais
foram destruídos em um incêndio. O diretor
Dreyer, para reconstruir o filme, utilizou takes alternativos
e criou uma nova edição. Não
era tão boa como a original, mesmo porque os
takes alternativos não representam as melhores
cenas que foram para a edição original.
Por força do destino essa nova edição
também foi perdida em outro incêndio.
Nos anos 60, vários takes alternativos sobreviventes
que não foram usados por Dreyer na segunda
edição, foram reeditados por várias
distribuidoras resultando em edições
de péssima qualidade, feitas sem a supervisão
de Dreyer, e que em quase nada refletiam o filme original.
Só para citar como exemplo, uma dessas edições
"piratas" foi colorizada e dublada com vozes
de outros atores. Imaginem um filme mudo com inserção
de vozes mal sincronizadas. O resultado foi atroz.
Milagrosamente, no começo dos anos 90 foi
encontrada uma cópia do negativo da edição
original de 1928 em um hospício na Dinamarca.
Essa película estava em ótimo estado,
mas precisava de uma restauração para
melhor conservação. No final dos anos
90 a restauração foi concluída
e o filme passou a ser exibido em amostras de cinema.
Agora, finalmente, A Paixão de Joana D'arc
está disponível em DVD para que novas
gerações possam conhecer esse clássico
absoluto do cinema mudo.
Dreyer, quando da exibição do filme
em 1928, não queria que a projeção
fosse feita com música ao vivo (normalmente
piano), pois a música poderia distrair a atenção
do público e o silêncio era a melhor
forma de apreciar o lado humano da obra. Entretanto,
o DVD apresenta uma trilha sonora chamada "Voices
of Light", composta por Richard Einhorn em homenagem
ao filme e não, originariamente, para o filme.
Contudo, as músicas se mesclam com perfeição
às imagens e o resultado é uma fantástica
trilha sonora. Para os puristas, nada impede que se
assista o filme sem som. Curioso notar que assistir
com a música ou sem ela torna um tanto diferente
a experiência, pois o silêncio, muitas
vezes, funciona melhor nas cenas que exaltam o sofrimento
humano vivido por Joana.
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