Um matemático crê que a matemática serve de medida para todas as coisas, conseguindo enxergar padrões por toda a natureza. Sinais esquizofrênicos começam a surgir quando ele tem contato com estudiosos da cabala, que explicam a ele que a origem divina da escritura judaica é relacionada à matemática. Intrigado com tudo isso, ele parte numa busca intelectual desesperada para encontrar um padrão em um número que representaria a perfeição, já que diz respeito à circunferência, a forma mais perfeita, tentando assim, encontrar um sentido para o Universo. Encontrando a mesma seqüência de números nas escrituras judaicas, ele se vê imerso numa teia de significações e correlações que beiram a insanidade. Porém, para ele, paranóico e fechado em seu próprio mundo, ele está a um passo de uma descoberta de extrema importância que está à espreita no mundo dos números, que pode levar a raça humana a romper finalmente suas limitações sensíveis.

Fora "Supermarket Sweep", o qual Darren Aronofsky realizou para conclusão de seu curso de Arte Dramática e Animação em Harvard, "Pi" pode ser considerado seu primeiro filme, antes do aclamado "Réquiem Para Um Sonho". Nome emergente do cinema independente americano, Aronofsky é um cineasta que chega em boa hora, trazendo um estilo próprio que enriquece a gama temática explorada pelos cineastas de seu meio, o que pode ser visto em "Pi". O ótimo Sean Gullete, que interpreta o matemático, co-escreveu o roteiro com o próprio Aronofsky. Realizado inteiramente em preto e branco, com câmeras de formatos diversos que exploram, cada uma, uma linguagem própria, "Pi" traz uma história complexa e perturbadora, apresentando progressivamente a relação entre a genialidade e a loucura.

Outros filmes podem ter trilhado o mesmo caminho, o que faz desta relação um lugar comum no cinema, vide o próprio oscarizado "Uma Mente Brilhante" (A Beautiful Mind). Mas, enquanto este último recai sobre um fino e suspeito substrato emocional, "Pi" remete ao desejo intrínseco, e patológico, do homem, de querer superar os seus limites corpóreos. Será possível, pela matemática e pelas ciências exatas, descobrir um padrão escondido que revele algo para o qual nossos sentidos não estão preparados? Pode o homem contentar-se com seus próprios limites, ocupando-se do mundo em que habita, ao invés de explorar caminhos impossíveis? Há matemática que possa dar conta do encantamento que a natureza causa no homem? "Pi" suscita muitas questões e é pano para manga de discussões acerca do assunto, uma prova de que o cinema independe de grandes recursos, se os poucos de que se utiliza são utilizados de maneira inteligente e inventiva.

O DVD traz o trailer de cinema, o trailer realizado pelo próprio diretor, cenas dos bastidores, e ainda cenas adicionais, incluindo um teste de câmera fixa no ator com comentários do diretor. Traz ainda consideráveis notas de produção, um clip musical, e ainda um texto sobre o número Pi, explicando suas peculiaridades.

Para um filme independente, a qualidade surpreende, ainda mais porque os efeitos visuais do menu fogem à regra, colocando números e mais números e gráficos animados que inundam a tela, quase como simulando uma tempestade cerebral. Os extras são muito bons, mesmo que desprovidos de closed-captions e legendas, as quais só são habilitadas durante o filme em si. As notas de produção são bastante esclarecedoras e o texto sobre o número Pi mata a curiosidade de qualquer interessado no assunto. Todo o DVD foi bastante bem cuidado, é realmente uma soma das características do cinema independente atual, a união da criatividade à tecnologia.