Quando
quebramos algo, mandamos consertar. Quando não é o
caso, podemos aperfeiçoar. O problema é que algumas
coisas não devem ser mexidas, nem aprimoradas e muito
menos copiadas. Psicose do mestre Alfred Hitchcock
não tá quebrado. O que o diretor Gus Van Sant quis
fazer com o filme ninguém entendeu? Ele queria aperfeiçoar
a perfeição? É impossível e assim ficou provado com
essa refilmagem à risca do clássico de 1960. Nada
foi mudado, além é claro do filme ganhar cores, cores
aonde a fotografia em preto e branco era (é) um espetáculo
no filme original. Fotografia em preto e branco que
fazia você olhar para a casa de Bates e sentir um
frio na espinha. Com o tom colorido isso não acontece.
A trama
todo mundo sabe, porém foi adaptada aos anos 90.
Mulher rouba 400 mil dólares (no original 40 mil
dólares) da imobiliária aonde trabalha. Foge para
encontrar o namorado que mora em outro estado e no
caminho resolve se hospedar em um motel fora da estrada.
Norman é controlado por sua mãe, que é duro com o
filho em relação às mulheres. Cena do chuveiro, facada...
bem, o resto vocês devem saber. Van Sant faz uma
cópia do original, não simplesmente a história, mas
os diálogos, posicionamento das câmeras e algumas
poucas inovações usando a tecnologia dos dias de
hoje. Compare o vôo da câmera depois da abertura
sobre Phoenix. Como é uma cópia colorida e já que
o original é clássico; pergunta-se: o filme não é ruim?
Certo? Certo, o filme não é ruim. Ele é desnecessário.
Você não
viu 'Psicose' original? Bem, esse filme um tédio.
Diálogos chatos, cansativos. Vivemos em dias de assassinos
em serial que usam facas, machados, revólveres, etc...
tudo a base de muito derramamento de sangue. Não
que esses filmes sejam um espetáculo, mas fez com
que fosse a cara do gênero dos anos 90. Quando assistimos
ao filme original de Hitchcock nos colocamos na época
em que foi lançado e nos adaptamos a tudo nele. É o
forte da fotografia em P&B é lembrarmos da época
em que foi feito o filme e simplesmente o aceitarmos,
o que não acontece com essa refilmagem a cores.
O elenco:
Norman Bates é interpretado pelo Vince Vaughn, péssima
escolha. Anthony Perkins do original fazia com que
sentíssemos pena dele e até uma certa confiança,
o que não acontece quando vemos o Vince Vaughn pela
primeira vez. Aqui encontramos um Bates, de cara,
perturbado. Assim como o resto do elenco que simplesmente
tentou copiar, sem sucesso, os gestos, olhares, afeições
do elenco original. Até mesmo a Julianne Moore, que é uma
atriz altamente versátil, não se sai bem. Quase não
a percebemos.
A casa
de Bates no original é muito, mas muito sinistra.
Aqui, na versão colorida do Gus é apenas uma casa
velha caindo aos pedaços. A questão de o filme agradar
ou não fica a cargo de cada um. Se você viu a versão
de 1960 sentirá na pele a cópia, porém não detestará essa
nova versão. Já aqueles que não viram a versão original,
ou assistirem primeiro a versão de 1998, vão sentir
culpa por não ter visto a obra de Hitchcock antes.
A música,
a abertura, os diálogos, está tudo em perfeito lugar,
mas, falo novamente, não se adapta aos anos 90. |