Alguém
ainda acredita em Shyamalan? Ele que parecia um gênio
depois do sucesso de O Sexto Sentido (1999),
foi perdendo a reputação com as sucessivas
besteiras de Corpo Fechado (2000)
e principalmente Sinais (2002).
Finalmente quebrou a cara. Este A Vila foi
massacrado pela crítica americana e depois
de uma estréia brilhante (mais de US$ 50 milhões
no fim de semana inicial) caiu 70% na segunda semana.
Sinal de que o público ficou insatisfeito
e não gostou nada do final surpresa, uma resolução
que nega tudo que foi mostrado antes. Mas de que
não podemos falar mais para não estragar
o prazer de quem quiser se arriscar. Basta lembrar
que já apareceu uma escritora acusando-o de
plágio (ele teria se inspirado no livro Running
Out of Time, que tem o mesmo final). Shyamalan é bom
mesmo em fazer trailers intrigantes e misteriosos.
Quando chega a hora de decifrá-los, já não é tão
esperto. Porque, no fundo, A Vila é um
blefe, não chega nem a ser fita de terror.
O que deixa todo mundo irritado. Mas não achei
tão ruim. É uma alegoria, um apólogo
e não tem muito a ver com outras fitas do
gênero. Parece um pouco aqueles contos de fadas
antigos, com sabor de Rússia ou Polônia.
É sobre
uma aldeia (meio Amish) que vive atormentada pela
presença de um Povo de que não se diz
o nome, Criaturas que os atacam de vez em quando,
mas têm que ser mantidos fora de suas fronteiras
por tochas e respeito mútuo. Tem até sentinelas,
já que em determinado momento elas aparecem
e são figuras altas com roupa vermelha (uma
cor que é proibida na aldeia), unhas longas
e afiadas.
A
trama central é sobre uma garota cega (a promissora
Bryce Dallas Howard, que é ruiva e sardenta
como o pai, o diretor Ron Howard) que está para
casar com Joaquin Phoenix, mas este é apunhalado
por Adrien Brody (que está desperdiçado
no papel do Bobo da Aldeia), apaixonado por ela.
Bryce
tem que ir então até a cidade mais
próxima em busca de ajuda (e remédios).
E mais não digo.
A
moral da história é de que se mantém
o povo calado através do medo. Basta concluir
que o filme é bem dirigido (nada de câmera
na mão, planos discretos e distantes, entrecortados
com alguns detalhes). Mas sempre bem eficiente como,
por exemplo, quando Phoenix é apunhalado,
o que vemos através de seu rosto. E temos
a surpresa depois. Enfim, não chega a ter
grandes sustos e vai decepcionar os que esperavam
outra invasão de Ets. Mas é uma fita
sóbria e discreta, até interessante.
Vamos
mencionar também no elenco: William Hurt (como
o pai de Bryce, melhor do que de costume) e Sigourney
Weaver (como a mãe de Joaquin). Mal aproveitados.
O diretor indiano desta vez faz uma pontinha bem
pequena, como um chefe policial, que é visto
apenas no reflexo de um vidro (no fundo isso é o
auge do ego, porque se mostra, mas obriga as pessoas
a prestarem atenção). Lembram-se de
quando Adrien Brody ganhou o Oscar® e comentei
que infelizmente não ia adiantar nada, porque
ele não teria papéis à sua disposição,
que iria cair em tipos esquisitos e virar coadjuvante
de luxo. Pois já aconteceu: aqui neste filme
ele faz o papel do village idiot, do bobo da aldeia,
um deficiente mental que entra na história
sem maior aprofundamento, puro clichê, que
podia ter sido feito por qualquer um.
Na
verdade, o problema aqui é que posso falar
muito pouco do filme sem estragar sua proposta.
(Por Rubens Ewald Filho, publicado em 04
de setembro de 2004 na coluna Clássicos)
Em A
vila (The village; 2004) o realizador
indo-americano Manoj Night Shyamalan atreve-se
a contrariar as regras do cinema comercial em que
se insere seu esquema de produção
para chegar a um nível plástico e
místico bastante pessoal. Em sua filmografia
já conhecida por aqui (o idolatrado O
sexto sentido, 1999; e os igualmente triviais Corpo
fechado, 2000, e Sinais,
2002), o cineasta já exercitava uma lentidão
indiana e preocupações com discussões
religiosas mais sérias; mas os compromissos
com a indústria o empurravam para concessões
capazes de agradar ao público, como a visão
de mundo superficial e a contemplação
banal de episódios curiosos.
Não
direi que ele se tenha libertado inteiramente dos
pecados comerciais em A vila. Mas
ousou artisticamente muito mais: daí o fracasso
nas bilheterias já anunciado. A incisiva plasticidade
e um vagar narrativo cheio de símbolos e detalhes
são o que de mais notável o espectador
pode desfrutar no novo trabalho de Shyamalan; finalmente,
ele merece a referência que alguns faziam ao
cinema refinado do inglês Alfred Hitchcock,
pois há em A vila uma metafísica
de filmar meio hitchcokiana na maneira como o cineasta
se aproxima do tema do medo e da culpa sem motivos,
tal como ocorria em Os pássaros (1963),
de Hitch: uma pequena comunidade fechada é assombrada
por criaturas trevosas; uma garota cega, um “bobo
da aldeia” e um jovem destemido que é um
pouco uma espécie de consciência narrativa
são os entes centrais dum universo às
vezes surrealista que mereceria outra aproximação,
com o cineasta espanhol Luis Buñuel; uma cruzada
de amor e morte entre os entes centrais aludidos
vai iluminar um pouco os mistérios de almas
que o filme quer expor.
É bem
verdade que no tratamento dos mistérios o
diretor escorrega com relativa facilidade para saídas
ingênuas; mas talvez ele queira com isto aproximar
suas intenções da inocência primitiva
do ser que é um dos assuntos circundantes
de sua câmara nesta realização.
De
qualquer maneira, com este belo A vila,
Shyamalan logra vencer o preconceito que se vinha
formando, o de que ele, apesar de sua elaboração
visual indiana, não passava de um artesão
de Hollywood. A vila revela o autor
por trás desta máscara.
(por Eron Fagundes, publicado em 13 de setembro de 2004 na coluna Cinemania)
|
- A Vila em Detalhes: um completo making of, dividido
em 6 partes, abordando todos os aspectos, desde a
concepção até os dados mais
técnicos do filme (como direção
de arte, trilha sonora, efeitos especiais etc.),
com depoimentos, cenas de bastidores e algumas curiosidades.
No total (há a opção de assisti-lo
de uma só vez), tem 25 minutos.
-
Cenas Cortadas: num total de 4 cenas, comentadas
pelo diretor em 11 minutos no total.
-
Diário de Bryce: um extra diferente, original,com
um depoimento da atriz Bryce Dallas Howard contando,
com imagens de fundo, seu dia-a-dia nas filmagens,
com trechos como se fosse de um diário. 5
minutos que valem a curiosidade do inusitado.
-
Filme Caseiro de M. Night:uUm curta-metragem
de 3 minutos realizado por Shyamalan quando era criança,
com uma introdução. Interessante, mas
bem distante de um Spielberg...
-
Galeria de Fotos: 38 fotos de bastidores.
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Um filme que agrada a alguns e desagrada em muito
a outros. Talvez o sucesso de “O Sexto Sentido” nos
faça assistira este com um pouco mais de boa
vontade. O DVD, o mesmo para venda e locação,
salvo algumas modificações na embalagem,
tem todos os requisitos desejáveis de um ótimo
produto, como uma excelente qualidade de imagem (as
imagens mais escuras não apresentam granulação)
e som, com seus bem distribuídos 5.1 canais
nos três idiomas. Menus animados, extras de
bom tamanho, ou seja, bastante coerente com o tipo
de filme, até com uma inovação.
Talvez falte um trailer. No geral, para quem gosta
deste tipo de filme e aprecia a obra de Shyamalan,
vale sua locação e aquisição
para os mais interessados em ter uma DVDteca. Mas
um conselho: nada como esperar uma boa promoção
de R$ 19,90...
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