Grande parte da imprensa de São Paulo e Rio
falaram mal deste projeto desde quando foi anunciado
até finalmente ser exibido. As resenhas realmente
foram duras. Talvez o formato “acústico” não
tenha sido o melhor para apresentar ao resto do país
três bandas e mais um cantor que fazem grande
sucesso no Rio Grande do Sul. A BidêouBalde e
a Cachorro Grande são reconhecidas por apresentações
energéticas, o que não aconteceu entre
banquinhos e violões. A restrição
do número de canções a cinco apenas
(exceto Wander Wildner, com 6) também não
esclarece em muito a diversidade musical de cada banda.
Para uma mídia como o DVD, que armazena muito
mais conteúdo, não há explicação
plausível. Mesmo assim, temos em mãos
um produto inédito e de excelente qualidade
sonora.
Não há vencedores ou vencidos entre as
bandas. É fato que até hoje não
houve outro conjunto gaúcho como os Engenheiros
do Hawaii com a exposição que teve. Nem
mesmo o Nenhum de Nós conseguiu manter uma carreira
entre os maiores vendedores de discos e arrecadação
de público em shows individuais no país.
Alguns movimentos isolados tiveram alguma repercussão,
como um na década de 80 (TNT, Replicantes, Garotos
da Rua) e outro em 2000 (Video Hits e a própria
BidêouBalde) apenas para citar os mais expressivos.
Aqui está o interesse nesta reunião de
estilos diferentes. A tal “cena do Sul” realmente
existe, como se tem também em BH e Brasília.
O
primeiro show é da BidêouBalde. A banda
já ganhou prêmio da MTV, lançou
o primeiro disco numa gravadora com alcance nacional
(a extinta Abril), teve seus minutos de fama no centro
do país, perdeu seu principal colaborador, o
guitarrista Rossatto, e acabou voltando para Porto
Alegre. Agora está novamente na mídia
devido à letra de E Porque Não?, acusados
de incitar a pedofilia. O pior é que o refrão
foi modificado e passou a incitar também o incesto. “O
pop não poupa ninguém” já dizia
Humberto Gessinger... E o melhor do show não é a
mais conhecida, Melissa, mesmo com a ajuda (a participação
mais fraca do evento) do Roger do Ultraje a
Rigor,
o que ficou por conta da queridinha Mesmo que Mude.
A
próxima atração, pela ordem
alfabética, a Cachorro Grande tem o seu “momento” justamente
na ilustre presença do titânico Paulo
Miklos em Dia Perfeito com banjo e tudo. Com o terceiro
disco lançado pela Deck Discos e moradia em
Sampa, é a banda mais prejudicada pelo formato
acústico, já que a falta de guitarras
e toda a sujeira característica do seu som perdem
um pouco da alma. Mesmo assim, Que Loucura! ficou ainda
bacana.
Ao
contrário da anterior, a Ultramen está em “casa” com
o seu samba-rock-funk-reggae, incluindo dois percussionistas
e um DJ. Santo Forte, Máquina do Tempo e Dívida,
esta última, com a oportuna (e melhor) participação
de Falcão do O Rappa, são candidatas
a “hit” pelas rádios brasileiras.
Se alguém tirou a sorte grande neste projeto,
foi a Ultramen.
E,
por fim, o solitário e baladeiro, o Ex-Replicantes
Wander Wildner, cuja canção Bebendo
Vinho,
gravada pelo Ira! foi bem executada nas rádios
do centro do país. Como suas canções
são simples no sentido de valorizar o violão,
foi outro quem se beneficiou com o formato acústico.
A participação de João Vicente
no acordeon, do Nenhum de Nós, deu uma grande
força para a voz de Wander. A nova e emocionante
No Ritmo da Vida, música em homenagem ao produtor
Tom Capone, é o destaque entre as mais conhecidas
como Eu não Consigo ser Alegre o Tempo Inteiro.
Não sei se teremos outras experiências
pela MTV na divulgação de bandas regionais,
mas é inegável a força da emissora
com seus formatos “acústico” e “ao
vivo” no mercado nacional. Apresentar excelentes
bandas e cantores que têm dificuldades de exposição
mais abrangente, independente da região, somada
a entresafra das estrelas do rock ou que já esgotaram
os formatos da emissora, é realmente um serviço
social (leia-se “musical”) para todos nós.
Se a intenção das bandas era dar às
caras no cenário do rock brasileiro, só o
tempo dirá.
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- MAKING OF (22 min.). Subdividido em oito capítulos,
um reservado para cada banda e para o Wander, um “como
tudo começou”, “cenário”, “participações
especiais” e “vai começar”.
Muitos depoimentos, cenas de ensaio, montagem dos cenários.
Programação normal para um making of.
-
MÚSICO REPÓRTER (3 min.). Uma câmera
na mão, e algumas intimidades entre os componentes
das bandas. Parece um grupo de adolescentes numa excursão.
Engraçado.
-
COMEMORAÇÃO (quase 3 min.). Saída
das bandas e rápidos comentários após
as apresentações individuais.
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Para um produto que serve de cartão de visita
para três bandas e um cantor do Sul, a ausência
de uma discografia e uma rápida biografia,
mesmo em texto, foi uma falta de sensibilidade dos
produtores do DVD. No mais, a falta de legendas nas
canções sempre incomoda. Por outro
lado, a qualidade da imagem e áudio é excelente,
como a emissora vem mantendo nos seus lançamentos
em DVD. Para quem gosta de boa música, é uma ótima
pedida.
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