Em 94 os
então
remanescentes dos Beatles - Paul, George e Ringo -
resolveram chamar seu ex-produtor George Martin pra
produzirem duas músicas que tinham conseguido
através de Yoko Ono, com John Lennon ao piano.
Nessa fita tinha "Real Love" e "Free
as a Bird". Em 95 essas músicas foram trabalhadas
e gravadas no, óbvio, Abbey Road, templo sagrado
da revolução musical do século
XX (e acredito de todos os outros que virão).
Daí Paul McCartney tocou baixo, George Harrison
tocou guitarra e Ringo Starr tocou bateria. Junto com
a já gravada voz de John Lennon, ousou-se dizer
que os Beatles teriam se reunido para lançar
um "disco novo". Mas não, o que houve
foi nada mais nada menos que a produção
do que viria a ser o "Beatles Anthology",
o maior e mais completo documentário sobre os
cabeludos de Liverpool, que foi ao ar na televisão
brasileira pela Globo no mesmo ano em cinco capítulos
depois da novela das oito. Junto seriam lançados
3 CDs duplos da banda com versões inéditas
e outakes com erros e curiosidades nos estúdios
- ou seja, vamos ser honestos, um belo caça-níquel,
mas que pra alguém que, como eu, é louco,
fanático, absolutamente viciado em Beatles,
não faz a menor diferença - um livro
e oito fitas de vídeo com o Anthology na íntegra.
Sim, pois o que foi ao ar na TV era uma versão
reduzida, mesmo em cinco capítulos...
Deu que agora, em abril, nós beatlemaníacos
somos brindados com o lançamento da obra em
DVD. Em cinco DVDs, pra ser mais preciso - um box com
todo o Anthology em 4 DVDs e mais um com extras.
Comprei, óbvio! E acabei de ver! Comecei ontem
de noite, fui dormir tarde e recomecei hoje às
sete da manhã. Terminei há pouco, duas
da tarde, e devo dizer que é, sem a menor sombra
de dúvida, o oásis de todo aquele que
curte o fab four!
O Anthology traz tudo, tudo, TUDO que você acha
que existe e o que não existe sobre os Beatles.
Bem, pra falar a verdade não há menção
do famoso caso da falsa morte do Paul, boato que foi
iniciado em 66 por uma rádio de motoqueiros
dos EUA, mas também não faz a menor diferença.
O documentário é completo e sem pressa.
Eles esmiúçam todas as entrelinhas desde
a infância dos caras até a separação
em 69. Tem praticamente todos os clipes, todos os detalhes
das pré e pós produções
de seus álbuns e filmes. Tem um tratamento digital
de imagem e som que chega a arrepiar - como no momento
em que toca "A Day in The Life" e o relógio
da música toca num canal do surround. Ah, além
do estéreo normal, tem em digital 5.1 e DTS,
ou seja, Beatles no Home Theater!
Momentos impagáveis
O documentário traz muitas curiosidades e momentos
interessantes, como em 1963, quando fizeram uma aparição
no famoso programa de televisão da época "The
Morecambe and Wise Show", falando besteiras e
provocando muitas risadas, seguido da apresentação
bizarra de "Moonlight Bay", cantada com
os apresentadores Eric Morecambe e Ernie Wise.
A primeira viagem aos EUA, onde foram recepcionados
no aeroporto JFK, NY, por uma multidão absurda.
A legendária apresentação no Ed
Sullivan Show (uma espécie de Silvio Santos
de lá), uma escapadinha até Miami, com
fotos coloridíssimas dos quatro em iates e em
mansões dos ricaços da praia da Flórida
e o retorno não menos festejado à Inglaterra.
O inesquecível concerto no She Stadium em NY
em 1965, pra cerca de 60 mil rabudos que levam certamente
esta experiência pro resto da vida - inclusive
em tal show os Beatles não conseguiam se ouvir,
tamanha era a gritaria vinda da platéia, o que
provocou cenas interessantes, como a de John chamando
George para mostrar a ele como estava propositalmente
tocando as notas erradas no piano, pois não
fazia diferença nenhuma naquela loucura.
A turnê nas Filipinas, onde eles recusaram gentilmente
participar de uma janta oferecida por Imelda Marcos,
o que causou uma situação insuportável,
tendo a banda que praticamente fugir do país
pela tangente. Stg Pepper's e seu verdadeiro marco
na indústria fonográfica em 1967. A experiência
com Mararishi Yogy na Índia. Paul confessando
que já tinha usado LSD, John dizendo que os
Beatles eram maiores que Jesus Cristo e todo o furor
que essa declaração causou entre os cristãos
fundamentalistas do sul dos EUA.
Meus momentos preferidos
são as cenas das
gravações do Álbum Branco, de
68, onde os gênios arregaçaram as mangas
e mostraram como se faz um disco de rock de verdade.
No DVD de extras tem o vídeo de Real Love,
o making of do Free as a Bird, entrevistas com Jeff
Lynne (líder da ELO e produtor do Anthology
e de alguns discos dos ex-beatles), Neil Aspinal
(produtor das turnês), George Martin e os próprios
Beatles sobreviventes (ainda com George Harrison).Causou-me
curiosidade que Phil Spector não aparece e
nem é mencionado no documentário todo,
sérá que foi porque ele produziu o
Let It Be, um disco que não agradou aos Beatles,
ou porque recentemente foi acusado de assassinato?
Fica a incógnita.
Então, meus caros, resta adquirir o que considero
um belo investimento. Honestamente não acho
que 170 reais seja um preço tão absurdo
por um box de 5 DVDs impecáveis, vale guardar
uma grana - se você é beatlemaníaco,
claro...
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