10
de outubro de 2005
Embora
tenha dirigido poucos longas desde a sua estréia
em 1984 com Laços de Ternura (cerca de cinco),
James L. Brooks tem demonstrado coerência com
o título daquela realização
que lhe deu o Oscar®: expor com ternura os conflitos
que aborda. O cineasta, que faz muitos trabalhos
para a TV (é o produtor da série Os
Simpsons), e que já escreveu e produziu realizações
de outros diretores, confirma essa tendência
em Espanglês (Spanglish, 2004), onde, a exemplo
do que fez em seus outros filmes, alterna drama e
comédia. No caso, para mostrar as conseqüências
da relação que se estabelece entre
a mexicana Flor (Paz Vega) e a família americana
Clasky, a partir do momento em que ela vai trabalhar
como empregada doméstica. Uma situação
muito comum em Los Angeles. Ao mesmo tempo que Flor
enfrenta dificuldades por não saber nada de
inglês, os Clasky vivem problemas de relações
entre pais e filhos e marido e mulher. A senhora
Clasky (Téa Leoni, divertida em sua histeria)
parece que não satisfaz a sua libido com o
dedicado marido (Adam Sandler), um bem conceituado
chef de cusine. E este custa a perceber o que, de
verdade, está rolando com a sua esposa.
Há algumas inventivas pouco convincentes no
roteiro original escrito pelo próprio diretor.
Como o fato de Paz não ter a menor noção
do idioma do país onde foi morar com a sua
filha Cristina (Shelbie Bruce). O mesmo se pode dizer
de certos rumos dados ao romance previsível
que se estabelece. Mas apesar desses pon tos fracos,
Brooks, no geral, faz um bom apanhado do choque de
culturas e, como em Laços de Ternura e Melhor é Impossível,
retrata com profunda delicadeza as barreiras que
surgem no dia-a-dia de pessoas que se amam, independente
das ligações familiares e/ou amorosas.
Mostra ainda o cuidado que se deve ter para não
criar expectativas nos espíritos mais cândidos,
mais infanto-juvenis. No caso, Cristina, que se vê em
um contexto que não é o seu, que não
pode ser o seu para sempre. Enfim, atos inconseqüentes
que podem ser conseqüentes, podem ter um peso
bem maior na vida.
Espanglês pode não ser um filme extraordinário,
empolgante. Mas, com o seu ótimo elenco (que
inclui a veterana Cloris Leachman como a lúcida
avó) e a sensibilidade de seu realizador que
evita o melodrama fácil, este lançamento
da Sony enternece de forma natural, franca.
Por
Alfredo Sternheim