10 de abril de 2005
William
Wyler, Laurence Olivier e Jennifer Jones têm
em comum a fama e a importância em determinados
anos de Hollywood. Os três estão em Perdição
por Amor (Carrie, 1952), lançamento
da Paramount. Trata-se de um drama nos Estados Unidos
de 1890, extraído de um livro de Theodore Dreiser
(1871-1945), o notável escritor americano que
soube como poucos retratar de forma precisa e comovente
os conflitos íntimos e amorosos acirrados pelas
diferenças de classe e pressões econômicas
que eram bem fortes em seu país. Dele é
o livro que serviu de base para o também clássico
Um Lugar ao Sol (1951).
A
história não poderia ter caído
em melhores mãos. Vencedor em três das
12 ocasiões em que foi indicado ao Oscar de
melhor diretor, Wyler (1902-1981) já era um
cineasta consagrado, já tinha demonstrado a
sua impressionante sensibilidade em romances perturbados
por nível social, preconceitos e pobreza, pela
preocupação com as aparências.
Haja visto O Morro dos Ventos Uivantes
(1939) e Tarde Demais (1949). Claro
que ele se saia bem em outros tipos de filmes. Como
Os Melhores Anos de Nossas Vidas
(1946) e Ben-Hur (1959).
Em
Perdição Por Amor,
Wyler acompanha a jovem Carrie desde que ela sai de
sua pequena cidade e vai para Chicago onde mora uma
irmã casada. As coisas não fáceis
e ela, premiada pelas circunstâncias, acaba
indo morar com o inconseqüente Charles (Eddie
Albert). A situação de concubinato não
a agrada e em meio dessa angustia conhece George Hurstwood,
o refinado maitre de um restaurante elegante. Embora
haja acentuada diferença de idades, nasce forte
atração entre ambos. Mas ela ignora
que George é casado e tem dois filhos A relação
se acentua, mas acaba tendo um alto preço,
em especial para George, sempre oprimido pela esposa
arrogante (Mirian Hopkins).
A
trama, algo folhetinesca, permite a Wyler mostrar
a força predatória do preconceito, em
especial do preconceito íntimo, daqueles que
as pessoas carregam dentro de si. Mas, as vezes, o
filme em preto e branco perde em romantismo, menos
por culpa de Olivier (1907-1989). O ator de Hamlet
está contido e se saí melhor nos momentos
de fraqueza de George, quando este toma consciência
de seu declínio, do peso da idade. Porém,
ele não encontrou a química perfeita
com Jennifer Jones, então com 33 anos. Revendo-a,
fica claro que ela era fraca. Mas converteu-se em
estrela por empenho de David O’Selznick, seu
protetor desde a sua chegada em Hollywood em 1939
e, mais tarde, seu marido legítimo.
O
curioso é que a vida de Jennifer teve rumos
melodramáticos semelhantes ao do filme. A relação
amorosa da atriz de A Canção
de Bernardette (que lhe valeu o Oscar de
1943) com o famoso produtor de ...E o Vento
Levou foi tempestuosa, criou crises no casamento
dele com Irene B. Mayer e dela com Robert Walker,
de Pacto Sinistro, de Hitchcock.
“Minha vida foi completamente destruída
pela obsessão do sr. Selznick por minha mulher”,
costumava dizer esse ator em público. Ele a
amava, mesmo depois do divórcio em 1944. Casou-se
com outra em 1948 e seis meses depois separou-se.
Alcoólatra, morreu em agosto de 1951, vitima
de overdose de remédios. Na ocasião,
foi levantada a hipótese de um suicídio.
Em 1976, nova tragédia. Cinco anos depois de
Jennifer ter se casado novamente após ficar
viúva de Selznick em 1965, a filha Mary Jennifer
Selznick se matou, atirando-se de um penhasco. Anos
depois, consta que a própria Jennifer tentou
fazer o mesmo e no mesmo local. Hoje, ela se dedica
a caridade na Califórnia e preside o museu
Norton Simon, nome de seu terceiro e falecido marido.
Mas apesar dos pontos em comum entre a vida de Jennifer
e a trama, há uma certa ausência de verdade
e carisma na atriz. Mesmo assim, Perdição
por Amor é um belíssimo filme.
Com seu final algo inconclusivo, com o seu clima amargo,
Wyler fez mais uma notável criação.
Um importante lançamento, não obstante
a ausência de extras.
Por
Alfredo Sternheim