A maratona de filmes continua e eu corro contra o tempo para
não perder um dia sem ver pelo menos dois filmes.
Quinta-feira e Domingo foram meu recorde, quatro filmes e
para isso minha rotina foi logo cedo.
Vou começar pela produção francesa,
Tiresia,
que foi a fita mais chocante que vi por enquanto. O filme é baseado na mitologia Grega de Tiresia que
nasce cega, sem sexo definido. Na versão Francesa, do diretor Bertrand Bonello, a história é sobre
um travesti brasileiro que vive clandestinamente em Paris com
o irmão, trabalhando como prostituta. Ao ser abordada
por um belo rapaz chamado Terranova, que supostamente iria
fazer um programa com o belo travesti que não se diz
que é homem, muito pelo contrário, uma mulher
perfeita, ele acaba a seqüestrando e mantendo-a em cativeiro
por diversos dias.
Conforme o tempo vai passando Tiresia tenta a todo custo
sair do cativeiro, mas ela é amarrada todos os dias por Terranova
e sua verdadeira identidade vai aparecendo quando sua barba
vai crescendo, sua voz se modificando por falta de hormônio.
Os sofrimentos de Tiresia não param por aí, quando
menos ela esperava é pega desprevenida pela loucura
de Terranova que lhe fura os olhos (umas cena de arrepiar)
e a carrega para o meio do mato.
Cega e completamente desacordada Tiresia é salva por
Anna que a recolhe em sua casa. Após recuperar-se Tiresia,
mesmo sem enxergar começa a Ter premonições
ajudando pessoas necessitadas. Muitos até começam
a vir de muito longe para conhecer a nova santa. O que ela
não imaginava é que o destino mais uma vez irá coloca-lá de
frente com o homem que lhe tirou a visão, mas Terranova
está com uma nova identidade que jamais se imagina que
um homem daqueles faria tamanha barbaridade com Tiresia. A fita
choca por isso é bom ir bem preparado, e desprovido
de preconceitos. O incrível é que todos os travestis
que trabalharam no filme eram brasileiros, será que
só no Brasil existe travesti? O papel principal de Tiresia
foi interpretado por dois atores, a primeira parte do filme em
que Tiresia conhece Terranova é feito
por Clara Choveaux e a Segunda parte por Thiago Teles, ambos
brasileiros.
Documentários
Como fã de documentários eu
não poderia
perder três produções fantásticas.
Os admiradores de ópera e de Montserrat Caballé,
não podem perder o documentário Caballé Além
da Música, que fala sobre a carreira da soprano espanhola.
Nos 98 minutos é de admirar o número de apresentações,
viagens e parcerias, além da simpatia que a soprano
demonstra e que segundo pessoas que a conheceram disseram que
ela é uma pessoa maravilhosa, mesmo sendo considerada
uma estrela ela é de grande simplicidade.
O segundo documentário é do Alemão Wim
Wenders que mais uma vez faz um belo trabalho em A
Alma de um Homem, que retrata a vida de três Bluesmen, que são:
Blind Willie Jonhson, Skip James e J.B. Lenoir.
Wenders conseguiu reunir imagens de época e atuais com
diversos interpretes da música moderna, cantando composições
desse maravilhoso músicos. O diretor frisa bem que apesar
da influência que esses três artistas realizaram
morreram pobres e esquecidos o que é uma pena, mas suas
composições ficaram para sempre na história
do Blues.
O terceiro documentário é uma produção
Alemã, Filandesa, Francesa e Brasileira, do diretor
Filandês Mika Kaurismaki, chamada Moro no Brasil que
retrata diferentes ritmos musicais do Brasil, desde o Maracatu,
o Afoxé até o samba, o funk. Para isso Kaurismaki
realizou uma grande viagem pelo país, começando
pelo nordeste e terminando no Rio de Janeiro.
É
incrível a quantidade de ritmos que temos no Brasil,
os próprios brasileiros desconhecem e acham que nossa
música fica apenas a popular Brasileira e na Bossa Nova,
mas nossa cultura é uma das mais ricas do mundo que
precisa ser valorizada por estrangeiros que realizam trabalhos
tão grandes como esse documentário que serve
de aula para nosso povo.
Ao final da sessão que estava lotada o público aplaudiu o documentário,
foi a primeira vez que vejo isso acontecer de todas as sessões da mostra
desse ano.
Retrospectiva
O cineasta português João César Monteiro
morto em fevereiro desse ano, vítima de câncer
ganhou uma retrospectiva nessa 27 Mostra, mas eu só tive
a oportunidade de ver um filme que é As
Bodas de Deus, com
2h30, e essa não é a mais longa de suas fitas.
Monteiro é um cineasta que se tornou polêmico,
chegou a ganhar fama de tarado, pedófilo, e seus filmes
são extremamente complicados. O próprio cineasta
interpreta seus personagens. Em Bodas de Deus ele é João
de Deus, um sem teto que recebe uma fortuna de um enviado de
Deus e acaba mudando de vida. Instalado em uma bela casa ele
recebe o príncipe Omar Rachid e sua mulher., que acaba
servindo de aposta para os dois e acaba casando com João
de Deus. Feliz e apaixonado por sua nova mulher, ele não
imaginava que seria abandonado depois da noite de núpcias
e ainda por cima perder toda sua fortuna e ser internado em
um hospital psiquiátrico, complicado né? Complicado
ele realmente é, o filme é lento, os planos seqüências
enormes, mas vale para conhecer o trabalho desse polêmico
diretor.
O Cinema Brasileiro
O Brasil não poderia ficar de fora das minhas escolhas,
consegui ver duas fitas interessantes.
A
primeira, Celeste & Estrela,
da cineasta Betse de Paula, que antes havia realizado outra
fita muito divertida no qual
tive a oportunidade de ver, que se chama O Casamento de Louise.
Ambos esse dois longas se passam em Brasília onde a
cineasta reside. Em Celeste & Estrela, Betse aproveita
para mostrar as dificuldades de se fazer cinema no Brasil.
Uma jovem cineasta Celeste (interpretada pela excelente atriz
Dira Paes) tenta realizar seu primeiro longa depois de ter
ganho alguns prêmios com um curta. Junto com um amigo
Paulo Estrela, (Fábio Nassar) que é funcionário
do Ministério da Cultura em Brasília, ela sai
em busca de patrocínio, mas sente que realmente fazer
cinema no Brasil é difícil. Em, meio a tantas
tentativas ela acaba se apaixonando por Estrela que desde que
a conheceu foi amor a primeira vista pela cineasta. Disposta
a realizar seu sonho do primeiro longa ela acaba conseguindo
unir o útil ao agradável, casar com Estrela e
pedir de presente de casamento todos os equipamentos necessários
para realizar o longa. Celeste & Estrela conta também
com a participação de Ana Paula Arósio,
que faz a funcionária de uma companhia área,
no qual Estrela conta sua história de amor com Celeste.
O que mais achei interessante foi o modo como a diretora
abordou as dificuldades de se realizar um filme no país de forma
criticando de forma divertida colocando como fundo de pano
o romance e sendo narrado em flashbacks pelo protagonista Paulo
Estrela.
Celeste & Estrela recebeu o prêmio de melhor filme
do Júri popular no Cinesul (Festival Latino Americano
de Cinema e Vídeo de 2003).
Do livro para as telas do cinema, é o que acontece
no filme Benjamim baseado da obra de Chico Buarque e dirigido
por Monique Gardenberg, Benjamim (Paulo José) um ex-modelo
fotográfico é um
homem que vive a sombra do passado, principalmente quando conhece
Ariela Mazè (Cléo Pires) uma mulher bonita que
encanta todos os homens e que lembra muito seu antigo amor.
Com o objetivo de conquistar Ariela, Benjamim faz de tudo para
te-lá, mesmo que isso tenha que custar sua vida, ele
acha que vale a pena por uns minutos de felicidade.
Benjamim é um filme cheio de surpresas
que me surpreendeu, eu esperava bem menos e a atuação
de Cléo
Pires realmente merece destaque, além de esbanjar sensualidade
a triz prova que realmente puxou o talento da mãe Glória
Pires. Quanto a Paulo José não há o que dizer
ele é um ator que consegue encarnar qualquer papel e
mais ainda, ele emociona.
Para os que viveram na entre as década de 60 e 70 vão
se deliciar com a trilha sonora do filme.
Infelizmente vou ficar devendo um filme que gostaria muito
de ver e dar minha opinião mas que não consegui
porque havia esgotado ingressos que é Narradores
de Javé.
O novo cinema Russo
As produções Russas no qual eu esperava filmes
melhores me decepcionaram. Primeiro, A Pipa,
de de Alexei Muradov, além de parado
ele transmite um estado de depressão
profundo. É triste ver um pai de família que
trabalha como um guarda em uma prisão lutar para conseguir
quardar dinheiro durante dois anos para poder realizar a operação
de seu filho que vive em uma cadeira de rodas. Tudo bem um
drama que pode ser passar em qualquer filme, mas forma como
o diretor aborda é depressiva e exaustiva. De qualquer
forma o título se refere um desejo que o filho paralítico
tem de Ter uma pipa e poder impina-lá. Um desejo tão
simples para um país que está longe do consumismo
que conhecemos, que vive numa grande pobreza, mas que um pequeno
desejo se torna algo grandioso para um criança sofrida.
Para quem viu A Arca Russa, de Aleksandr Sukúrov,
não
espere que o mais novo trabalho do diretor Russo Pai e Filho
se assemelhe na história. Para os preceituosos então
vão querer sair logo nos primeiros dez minutos que começa
o filme. É difícil entender a relação
entre um pai e um filho que moram sozinhos em um apartamento,
mas que parecem mais amantes do que outra coisa. Um amor possessivo,
neurótico, que só os psicólogos podem
explicar. Outro filme parado mas que pela bela trilha sonora
compensa e serve para mostrar como existe de tudo nesse mundo,
principalmente na Rússia em que os homens não
demonstram seu sentimentos, mas que o diretor conseguiu expressar
na fita.
Se tem um filme que me divertiu muito foi Garotas
do Calendário,
a típica comédia inglesa inteligente, com um
humor requintado. Imagine 12 mulheres da terceira idade posando
nuas para um calendário. Um trabalho considerado vulgar,
mas que se tornou popular para essas o12 mulheres que abraçaram
o trabalho por uma bela causa, ajudar o hospital local., da
pequena cidade da Inglaterra onde viviam. A idéia partiu
de uma dos membros do instituto da Mulher Local, que depois
de ver sua melhor amiga sofrer por causa da perda do marido
resolve arrecadar fundos para melhorar as condições
do hospital.
A priori a idéia pareceu maluca, mas depois o esforço
compensou e sem imaginar elas conseguiram ser alvo de interesse
para Hollywood.
Garotas do Calendário arranca muitas risadas, só pela
atuação das atrizes já compensa o ingresso.
Outros filmes
Surpreender e emocionar, é o que se define para o filme
Húngaro, Eddie. Uma história que mostra como
o mundo muitas vezes é feito de injustiças, principalmente
com os menos favorecidos. Até agora a fita já foi
uma das mais votadas na Mostra pelo júri popular.
Edi é um catador de rua, que apesar de pouco estudo
adora os livros que encontra pelos lixos. Ao ajudar uma garota
de 17 anos a estudar e a protege-la a pedido dos irmãos
dela acaba sendo acusado injustamente por Ter engravidado a
menina. Não se conformando com a situação
os irmãos de Princesa resolvem castigar Edie e ainda
por cima eles entregam o bebê de Princesa para ele criar.
Mesmo sabendo que não tem culpa, Edie acaba levando
a criança para um lugar longe da cidade, na casa de
uns amigos. Conforme o tempo vai passando Edie vai se afeiçoando
ao Bebê e acaba vivendo uma intensa relação
de pai e filho.
Bom por hoje chega, mas eu volto com mais novidades na reta
final da Mostra.
Por Clarissa Kuschnir
(para maiores informações, não deixe de acessar o site da
MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP)