MAIS UM POUQUINHO DA 27ª MOSTRA DE CINEMA DE SP... ANTES QUE TERMINE

A maratona de filmes continua e eu corro contra o tempo para não perder um dia sem ver pelo menos dois filmes.

Quinta-feira e Domingo foram meu recorde, quatro filmes e para isso minha rotina foi logo cedo.

Vou começar pela produção francesa, Tiresia, que foi a fita mais chocante que vi por enquanto. O filme é baseado na mitologia Grega de Tiresia que nasce cega, sem sexo definido. Na versão Francesa, do diretor Bertrand Bonello, a história é sobre um travesti brasileiro que vive clandestinamente em Paris com o irmão, trabalhando como prostituta. Ao ser abordada por um belo rapaz chamado Terranova, que supostamente iria fazer um programa com o belo travesti que não se diz que é homem, muito pelo contrário, uma mulher perfeita, ele acaba a seqüestrando e mantendo-a em cativeiro por diversos dias.

Conforme o tempo vai passando Tiresia tenta a todo custo sair do cativeiro, mas ela é amarrada todos os dias por Terranova e sua verdadeira identidade vai aparecendo quando sua barba vai crescendo, sua voz se modificando por falta de hormônio. Os sofrimentos de Tiresia não param por aí, quando menos ela esperava é pega desprevenida pela loucura de Terranova que lhe fura os olhos (umas cena de arrepiar) e a carrega para o meio do mato.

Cega e completamente desacordada Tiresia é salva por Anna que a recolhe em sua casa. Após recuperar-se Tiresia, mesmo sem enxergar começa a Ter premonições ajudando pessoas necessitadas. Muitos até começam a vir de muito longe para conhecer a nova santa. O que ela não imaginava é que o destino mais uma vez irá coloca-lá de frente com o homem que lhe tirou a visão, mas Terranova está com uma nova identidade que jamais se imagina que um homem daqueles faria tamanha barbaridade com Tiresia. A fita choca por isso é bom ir bem preparado, e desprovido de preconceitos. O incrível é que todos os travestis que trabalharam no filme eram brasileiros, será que só no Brasil existe travesti? O papel principal de Tiresia foi interpretado por dois atores, a primeira parte do filme em que Tiresia conhece Terranova é feito por Clara Choveaux e a Segunda parte por Thiago Teles, ambos brasileiros.

Documentários

Como fã de documentários eu não poderia perder três produções fantásticas.

Os admiradores de ópera e de Montserrat Caballé, não podem perder o documentário Caballé Além da Música, que fala sobre a carreira da soprano espanhola. Nos 98 minutos é de admirar o número de apresentações, viagens e parcerias, além da simpatia que a soprano demonstra e que segundo pessoas que a conheceram disseram que ela é uma pessoa maravilhosa, mesmo sendo considerada uma estrela ela é de grande simplicidade.

 

 


O segundo documentário é do Alemão Wim Wenders que mais uma vez faz um belo trabalho em A Alma de um Homem, que retrata a vida de três Bluesmen, que são: Blind Willie Jonhson, Skip James e J.B. Lenoir.

Wenders conseguiu reunir imagens de época e atuais com diversos interpretes da música moderna, cantando composições desse maravilhoso músicos. O diretor frisa bem que apesar da influência que esses três artistas realizaram morreram pobres e esquecidos o que é uma pena, mas suas composições ficaram para sempre na história do Blues.

 

 

O terceiro documentário é uma produção Alemã, Filandesa, Francesa e Brasileira, do diretor Filandês Mika Kaurismaki, chamada Moro no Brasil que retrata diferentes ritmos musicais do Brasil, desde o Maracatu, o Afoxé até o samba, o funk. Para isso Kaurismaki realizou uma grande viagem pelo país, começando pelo nordeste e terminando no Rio de Janeiro.

É incrível a quantidade de ritmos que temos no Brasil, os próprios brasileiros desconhecem e acham que nossa música fica apenas a popular Brasileira e na Bossa Nova, mas nossa cultura é uma das mais ricas do mundo que precisa ser valorizada por estrangeiros que realizam trabalhos tão grandes como esse documentário que serve de aula para nosso povo.

Ao final da sessão que estava lotada o público aplaudiu o documentário, foi a primeira vez que vejo isso acontecer de todas as sessões da mostra desse ano.

Retrospectiva

O cineasta português João César Monteiro morto em fevereiro desse ano, vítima de câncer ganhou uma retrospectiva nessa 27 Mostra, mas eu só tive a oportunidade de ver um filme que é As Bodas de Deus, com 2h30, e essa não é a mais longa de suas fitas. Monteiro é um cineasta que se tornou polêmico, chegou a ganhar fama de tarado, pedófilo, e seus filmes são extremamente complicados. O próprio cineasta interpreta seus personagens. Em Bodas de Deus ele é João de Deus, um sem teto que recebe uma fortuna de um enviado de Deus e acaba mudando de vida. Instalado em uma bela casa ele recebe o príncipe Omar Rachid e sua mulher., que acaba servindo de aposta para os dois e acaba casando com João de Deus. Feliz e apaixonado por sua nova mulher, ele não imaginava que seria abandonado depois da noite de núpcias e ainda por cima perder toda sua fortuna e ser internado em um hospital psiquiátrico, complicado né? Complicado ele realmente é, o filme é lento, os planos seqüências enormes, mas vale para conhecer o trabalho desse polêmico diretor.

O Cinema Brasileiro

O Brasil não poderia ficar de fora das minhas escolhas, consegui ver duas fitas interessantes.

A primeira, Celeste & Estrela, da cineasta Betse de Paula, que antes havia realizado outra fita muito divertida no qual tive a oportunidade de ver, que se chama O Casamento de Louise. Ambos esse dois longas se passam em Brasília onde a cineasta reside. Em Celeste & Estrela, Betse aproveita para mostrar as dificuldades de se fazer cinema no Brasil. Uma jovem cineasta Celeste (interpretada pela excelente atriz Dira Paes) tenta realizar seu primeiro longa depois de ter ganho alguns prêmios com um curta. Junto com um amigo Paulo Estrela, (Fábio Nassar) que é funcionário do Ministério da Cultura em Brasília, ela sai em busca de patrocínio, mas sente que realmente fazer cinema no Brasil é difícil. Em, meio a tantas tentativas ela acaba se apaixonando por Estrela que desde que a conheceu foi amor a primeira vista pela cineasta. Disposta a realizar seu sonho do primeiro longa ela acaba conseguindo unir o útil ao agradável, casar com Estrela e pedir de presente de casamento todos os equipamentos necessários para realizar o longa. Celeste & Estrela conta também com a participação de Ana Paula Arósio, que faz a funcionária de uma companhia área, no qual Estrela conta sua história de amor com Celeste.

O que mais achei interessante foi o modo como a diretora abordou as dificuldades de se realizar um filme no país de forma criticando de forma divertida colocando como fundo de pano o romance e sendo narrado em flashbacks pelo protagonista Paulo Estrela.

Celeste & Estrela recebeu o prêmio de melhor filme do Júri popular no Cinesul (Festival Latino Americano de Cinema e Vídeo de 2003).

Do livro para as telas do cinema, é o que acontece no filme Benjamim baseado da obra de Chico Buarque e dirigido por Monique Gardenberg, Benjamim (Paulo José) um ex-modelo fotográfico é um homem que vive a sombra do passado, principalmente quando conhece Ariela Mazè (Cléo Pires) uma mulher bonita que encanta todos os homens e que lembra muito seu antigo amor. Com o objetivo de conquistar Ariela, Benjamim faz de tudo para te-lá, mesmo que isso tenha que custar sua vida, ele acha que vale a pena por uns minutos de felicidade.

Benjamim é um filme cheio de surpresas que me surpreendeu, eu esperava bem menos e a atuação de Cléo Pires realmente merece destaque, além de esbanjar sensualidade a triz prova que realmente puxou o talento da mãe Glória Pires. Quanto a Paulo José não há o que dizer ele é um ator que consegue encarnar qualquer papel e mais ainda, ele emociona.

Para os que viveram na entre as década de 60 e 70 vão se deliciar com a trilha sonora do filme. Infelizmente vou ficar devendo um filme que gostaria muito de ver e dar minha opinião mas que não consegui porque havia esgotado ingressos que é Narradores de Javé.

 

O novo cinema Russo

As produções Russas no qual eu esperava filmes melhores me decepcionaram. Primeiro, A Pipa, de de Alexei Muradov, além de parado ele transmite um estado de depressão profundo. É triste ver um pai de família que trabalha como um guarda em uma prisão lutar para conseguir quardar dinheiro durante dois anos para poder realizar a operação de seu filho que vive em uma cadeira de rodas. Tudo bem um drama que pode ser passar em qualquer filme, mas forma como o diretor aborda é depressiva e exaustiva. De qualquer forma o título se refere um desejo que o filho paralítico tem de Ter uma pipa e poder impina-lá. Um desejo tão simples para um país que está longe do consumismo que conhecemos, que vive numa grande pobreza, mas que um pequeno desejo se torna algo grandioso para um criança sofrida.

Para quem viu A Arca Russa, de Aleksandr Sukúrov, não espere que o mais novo trabalho do diretor Russo Pai e Filho se assemelhe na história. Para os preceituosos então vão querer sair logo nos primeiros dez minutos que começa o filme. É difícil entender a relação entre um pai e um filho que moram sozinhos em um apartamento, mas que parecem mais amantes do que outra coisa. Um amor possessivo, neurótico, que só os psicólogos podem explicar. Outro filme parado mas que pela bela trilha sonora compensa e serve para mostrar como existe de tudo nesse mundo, principalmente na Rússia em que os homens não demonstram seu sentimentos, mas que o diretor conseguiu expressar na fita.

Se tem um filme que me divertiu muito foi Garotas do Calendário, a típica comédia inglesa inteligente, com um humor requintado. Imagine 12 mulheres da terceira idade posando nuas para um calendário. Um trabalho considerado vulgar, mas que se tornou popular para essas o12 mulheres que abraçaram o trabalho por uma bela causa, ajudar o hospital local., da pequena cidade da Inglaterra onde viviam. A idéia partiu de uma dos membros do instituto da Mulher Local, que depois de ver sua melhor amiga sofrer por causa da perda do marido resolve arrecadar fundos para melhorar as condições do hospital.

A priori a idéia pareceu maluca, mas depois o esforço compensou e sem imaginar elas conseguiram ser alvo de interesse para Hollywood.

Garotas do Calendário arranca muitas risadas, só pela atuação das atrizes já compensa o ingresso.

Outros filmes

Surpreender e emocionar, é o que se define para o filme Húngaro, Eddie. Uma história que mostra como o mundo muitas vezes é feito de injustiças, principalmente com os menos favorecidos. Até agora a fita já foi uma das mais votadas na Mostra pelo júri popular.

Edi é um catador de rua, que apesar de pouco estudo adora os livros que encontra pelos lixos. Ao ajudar uma garota de 17 anos a estudar e a protege-la a pedido dos irmãos dela acaba sendo acusado injustamente por Ter engravidado a menina. Não se conformando com a situação os irmãos de Princesa resolvem castigar Edie e ainda por cima eles entregam o bebê de Princesa para ele criar. Mesmo sabendo que não tem culpa, Edie acaba levando a criança para um lugar longe da cidade, na casa de uns amigos. Conforme o tempo vai passando Edie vai se afeiçoando ao Bebê e acaba vivendo uma intensa relação de pai e filho.

 

Bom por hoje chega, mas eu volto com mais novidades na reta final da Mostra.

Por Clarissa Kuschnir

 

(para maiores informações, não deixe de acessar o site da MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP)