Durante a 27ª Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo tivemos a oportunidade de assistir vários
filmes da Alemanha, que esteve bem representada
com mais de 20 filmes, é pouco provável
que entrem no circuito comercial. Quem
conhece um pouco os alemães com sua cultura, sua
severidade, vai se deliciar com um tipo de
humor bem diferente. Na maioria, são
atores desconhecidos do grande público. A
qualidade técnica de todos os filmes nos surpreende.
Já tivemos opoturnidade de conhecer,
neste ano, no 14º Festival de
Curtas. Alguns destaques:
ADEUS, LENIN (Wolfgang Becker): é o
melhor representante deste país. Uma senhora tem um
enfarte ao ver se filho sendo preso numa manifestaçao
política
e entra em coma antes da queda do muro de
Berlim. Acorda 8 meses depois e o médico
previne que ela não pode sofrer grandes emoções,
então os filhos resolvem esconder tudo o que aconteceu
neste período.
O que poderia parecer um drama acaba se trnasformando numa
deliciosa comédia com toques de humor negro.
TIRANDO A ROUPA (Doris Dörrie): é sobre
três casais
em crise existencial.Tirar a roupa aqui é se
desnudar de suas dúvidas, problemas financeiros, inseguranças,
etc. Fazem um jogo de
tirar a roupa só para ver se conseguem se identificar
despidos. Quase todos com a mesma idade, jovens
e bonitos, se mostram decididos a mudar sua vidas. Com
esse título, poderia se pensar em sacanagem, mas
não é o caso. Aliás, as cenas de nudez são bem discretas. Não é filme
brasileiro.
LUZES DISTANTES (Hans Christian Schmid): na fronteira
da Alemanha e Polônia pessoas de outros países
tentam entrar clandestinamente, para isso fazem pequenas loucuras
como atravessar o rio nadando num frio em que pessoas morrem
de hipotermia. Não estamos acostumados
com esses problemas de fronteira e choca essa
barreira para passar de um país a outro, ficando
a tensão até o final: será que
eles conseguem?
APRENDENDO A MENTIR (Hendrik Handldegten): numa
Alemanha ainda dividida, nos anos 80, Helmut se apaixona por Britta
que vai morar nos EUA. Muitas coisas se passam-cai o muro de
Berlim-mas a paixão continua, até perceber que
foi usado... O filme entusiasma, mas perde o ritmo (como numa
música)
e passa a se repetir nas mesmas situações,
ir e vir com a mesma paixão sem mudanças, outros namoros. O ator principal não muda físicamente - se passam
20 anos.
ANGÚSTIA (Oskar Roenler): um casal com dois mundos
diferentes- ela: pediatra organizada, ele: diretor de teatro exigente
e confuso. Assuntos não resolvidos com o pai
e outros con
flitos fazem dele neurótico e insatisfeito, faz terapia
e mesmo amando sua mulher acaba procurando
prostitutas... O filme é angustiante, curioso, algumas
cenas são
bem chocantes, o problema é que depois
disso os personagens se comportam como se nada
tivesse acontecido.
MENINAS
NÃO CHORAM (Marie Von Heland):
duas amigas
inseparáveis, mesmo com altos e baixos. Quando
se deparam com uma cena de traição
paterna, Steffi começa
a ficar vingativa e vai perdendo bom senso
até abalar a amizade. E Kati
não pode ajudá-la.
APRENDENDO A PERDER (Marco Krenzpaintner):
Torge, um adolescente cheio de si conquista todas garotas, é simpático
e atrai pessoas.Nun acidente perde uma perna, se torna amargurado
e egoísta, não lidando bem com a perda: sua namorada
se afasta, ele vai perdendo amigos...
ACHADOS E PERDIDOS (Georg Maas): Robert, com
a perda da mulher, resolve mudar de vida, morando num trailer
e instalando telescópios no leste do país.
Conhece uma mulher, Christiane, que se parece
com a falecida. Ela trabalha com máquinas
de fotos automáticas,
mas quer recuperar algo que lhe
roubaram.
SCHULTZE GETS THE BLUES (Michael Schorr):
numa pequena cidade do leste da Alemanha, Schultze é aposentatado precocemente,
e sem trabalho passa seu tempo no pub local com os amigos.
Ouvindo uma musica na rádio(Blues), se entusiasma,
e descobre uma maneira diferente de tocá-la
no acordeon. Seu sonhoé ir para os
Estados Unidos conhecer de perto os Blues. O
ator que faz o Schultze (Horst Krause) é o próprio,
gordo e bonachão, que parece com algum tio de Santa
Catarina, e muitas músicas
também lembram o sul do Brasil. Ele nos EUA navegando
num rio estranho conhecendo músicos, tocando seu acordeon..é delicioso. Algumas
cenas são ralentadas - como plano parado numa
estrada - com o personagem desaparecendo ao longe.
A ALMA DE UM HOMEM (Wim Wenders-Alemanha/EUA):
interessante viagem sobre três "bluesmen" Blind
Willie Johnson, Skip James e J.B.Lenoir. Embora fale de músicos americanos é dirigido
por esse conceituado diretor alemão
que é o Wim Wenders. O filme alterna
imagens de arquivos originais, em branco e preto, com
algumas reinterpretaçoes, em cores, com bons momentos
de blues.
Rosemar Schick