28ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO

A pré-estréia este ano deu-se no velho Cine Ipiranga, hoje dilapidado, mas que durante anos foi uma das melhores salas da cidade. Tudo começou em abril de 1946. O cinema foi inaugurado com o hoje clássico Seis Destinos (Tales of Manhattan), da Fox, dirigido pelo grande cineasta francês Julian Duvivier (Carnet de Baile), que anos depois conheceria grande sucesso popular com a série Don Camilo. E com elenco de superestrelas: Charles Boyer, Rita Hayworth, Henry Fonda, Ginger Rogers, Charles Laughton, Edward G.Robinson). Estrear a Mostra num cinema popular em decadência teria alguma coisa a ver com o plano de revitalização do centro, como a recuperação do Cine Olido? Soubemos que isso vai acontecer, mas não temos detalhes. Por uma noite o velho cinema perto da esquina do Caetano ganhou status, com a exibição de Terra da Fartura, de um cineasta cult como Wim Wenders. E por sua vez este, por uma noite se popularizou. Gênio! Com tantos e tantos filmes em oferta, como sempre, assistir é uma questão de escolha.

Exemplo, qual deles assistir: o mongol Camelos Também Choram ou o tailandês Mal dos Trópicos? (Esta semana, nas reapresentações escolhemos um deles, pois passavam no mesmo horário - e achamos que fizemos a escolha errada ! Mas, como se disse num programa de TV, faz parte). Deixar de assistir algum dos filmes já com distribuição nem sempre dá certo, podem custar a serem lançados. O impiedoso, cruel Lilia 4Ever, exibido em 2002, prometido para o fim de fevereiro de 2003 parece, só vai estrear, até o fim do ano. A 28ª Mostra exibiu este ano um punhado de filmes argentinos. Dos que assistimos, o favorito é o cativante Convesaciones Con Mamá, nada de filme cabeça, alegoria político social, mas sobre relações humanas, com personagens definidos, sem ambigüidades, uma narrativa clássica e bons atores liderados pela veterana China Zorrilha.

Da extensa seleção brasileira, nos despertou maior curiosidade Lost Zweig, de Silvio Back. Um anti-Olga: no filme do diretor catarinense menos é mais. Nos desapontou porém, a modesta freqüência de público na sessão em que o assistimos. Seu tom sombrio, seu ritmo sem pressa e o fato de Zweig ser um tanto longínquo - e estrangeiro - para as novas gerações, não deverá ajudá-lo em termos de bilheteria.

Je tàime, moi non plus

O documentário de Maria de Medeiros é uma delícia sobre o velho desencontro entre críticos e diretores. São diversos depoimentos, inclusive de nossos Leon Cakoff, Luís Carlos Merten e Rubens Ewald Filho. Foi rodado durante o festival de Cannes de 2003. No que se refere ao assunto Pedro Almodovar e David Cronenberg foram os que mais mal falaram dos críticos. Os dois ingratos parecem ignorar que são cult, que os críticos sempre o elogiaram. Ou estamos enganados, eles na verdade são péssimos cineastas? Maria de Medeiros dirigiu também um dos segmentos de Bem-vindo a São Paulo, sequência de vinhetas sobre a terra da garoa e que termina de forma brilhante no episódio do alemão Wolfgang Becker.

Já o mexicano @festivbercine.ron é uma súmula do cinema latino-americano envolvendo as andanças de diretor e atriz em festivais latinos e outros, levando seu filme. O problema é que está falado em inglês e ninguém quer perder seu tempo. Só que depois que ele recebe um e-mail (falso) de Spielberg é que o tratamento a eles dispensado muda completamente.

Outros destaques da Mostra: o alemão Contra a Perede; o polonês Tempo de Amanhã; o israelense A Noiva da Síria; o inglês Aye Fond Kiss (de Ken Loach), todos dramas sobre etnias em conflito. Terra de Fartura, discutindo a paranóia pós 11 de setembro; o uruguaio Whisky. O brasileiro Quase Dois Irmãos; o italiano Doppo la Mezzanotte e o documentário (alemão) Olga Bennario.

Carlos Motta