Em trabalho universitário realizado por Jelline Dutra
sobre o planejamento estratégico de uma empresa, foi
escolhida uma locadora em Brasília, a LOC Filmes, fundada
em novembro de 1995, hoje funcionando em uma loja com 200 m²,
tem mais de 10 mil títulos (entre DVD e VHS), agregando
em seu ambiente uma cafeteria, uma revistaria e um espaço
infantil com brinquedoteca.
O que interessa para nós neste trabalho, foi a constatação
do seguinte cenário no mercado das locações
de vídeo em geral e suas possibilidades:
Ruim
|
Médio
|
Ótimo
|
• Facilidade de baixar filmes pela Internet – 40%
•
Grande acesso para compra de filmes piratas – 40%
•
Aumento do número de salas de cinema – 20% |
• Preço
do ingresso nos cinemas manter estável – 30%
•
Médio crescimento da indústria cinematográfica
e mundial – 40%
•
Manutenção do preço dos aparelhos
de DVD – 30%
|
• Crescimento
da indústria cinematográfica brasileira – 25%
•
Aumento da insegurança pública – 30%
•
Queda do preço do aparelho de DVD – 30%
•
Aumento do poder aquisitivo – 15% |
Para entender melhor este cenário, entre saber outros
detalhes a respeito do mercado doméstico de locação,
entrevistamos o proprietário de uma das maiores locadoras
de vídeo e DVD de Porto Alegre/RS, a E
o Vídeo
Levou, em agosto deste ano.
1 - Primeiramente, um breve histórico da
E O VIDEO LEVOU e o seu acervo atual de DVD e VHS.
Eu e minha irmã, recém-formados em Arquitetura
e Publicidade, respectivamente, iniciamos a vídeolocadora
em 1989, em uma loja alugada de 45 m² no Bairro Jardim
Botânico, com um acervo de 315 fitas. Aproximadamente
3 anos mais tarde abrimos uma filial no Bairro Bela Vista,
com acervo de 2.500 itens (na época VHS, games e Cds
musicais). No final de 1995, adquirimos o terreno da atual
sede e iniciamos a construção do prédio,
inaugurado em agosto de 1997, reunindo o acervo das 2 lojas.
Hoje a E O Vídeo Levou conta com um acervo de 17.000
fitas de vídeo, 5.500 DVDs e aproximadamente 3.000 Cds
musicais. Atualmente, estamos passando por nova reforma para
redistribuir os espaços, com maior valorização
na locação e venda de DVDs.
2- O que você aprendeu com o mercado de VHS dá para
aplicar pura e simplesmente com o de DVD, ou seja, em termos
de negócio, o tratamento é o mesmo?
De forma alguma. O novo formato de mídia gerou um novo
produto e, conseqüentemente, um novo tratamento. O DVD
reaqueceu o mercado, tornou o cliente mais exigente e colocou-o
no mercado de sell-thru (venda direta), até então
restrito à venda de fitas infantis. A infinita disponibilidade
de títulos a preços atraentes (para o consumidor
final) está gerando um novo mercado para as vídeo
locadoras, mesmo com a concorrência dos grandes magazines.
Os estúdios também mudaram sua política
de lançamento, diminuindo as janelas e relançando
mensalmente títulos de acervo, fato raro na época
do VHS.
3- Pensando num percentual estimado, como dá para dividir
o número de locações entre DVD e VHS hoje,
e a dois anos atrás?
Quando foi lançado o primeiro DVD no Brasil, “Era
Uma Vez na América”, adquirimos o título.
O segundo lançamento, se não me engano foi somente
dois mêses depois. A procura era pequena. Logo em seguida,
todos os estúdios começaram a lançar seus
títulos em DVD. Foi um período de muito investimento
e pouco retorno. Os últimos quatro anos é que
foram de consolidação do novo formato. De 30
%, passamos rapidamente para 50% das locações.
Neste patamar, houve uma estabilização e nos últimos
dois anos um novo crescimento, acredito que em função
da popularização do DVD player. Hoje a locação
de DVDs corresponde a 80% de nosso faturamento.
4- Uma fita de locação VHS tem o mesmo preço
do que um DVD? Podemos separar os preços pela finalidade "exclusivo
para locação" daqueles que são vendidos “diretamente
ao público”?
As produtoras criaram o chamado mercado de rental e sell-thru.
De certa forma é um meio de proteger o mercado de locação,
que ainda proporciona alta rentabilidade aos estúdios.
No mercado de rental , VHS e DVD possuem o mesmo preço. É uma
equação difícil de resolver, afinal cada
título é um produto diferente, alguns com grande
apelo para rental, outros para o sell-thru . O importante é que
enquanto estivermos dando lucro para os estúdios, teremos
a garantia de janelas para o lançamento nos 2 mercados
, e o preço diferenciado é uma exigência
do próprio mercado.
5- Os valores de um DVD "exclusivo para locação" dependem
da distribuidora (estúdio)? Do apelo comercial (propaganda)?
Do sucesso ou fracasso nos cinemas? Do elenco e diretor? Do
gênero do filme? E os DVDs “musicais” têm
o mesmo preço?
Parte da pergunta está respondida acima. Cada estúdio
antes de lançar um filme, avalia seu potencial para
cada um dos dois mercados e só então decide em
qual deles prefere lançá-lo e que estratégia
vai usar para obter maior rentabilidade com aquele produto.
Nem sempre a estratégia usada é a mais sábia.
A meu ver, um dos maiores erros ocorridos em alguns lançamentos, é quando
o título disponibilizado no mercado de sell-thru vêm
com duas versões: “Exclusivamente para locação”-contendo
unicamente o filme e “diretamente ao público”-geralmente
composto por um DVD extra, recheado de informações.
Não vejo razão para esta diferenciação.
6- Dá para afirmar um gênero predominante nas
locações?
Claro. Os 3 gêneros predominantes são os filmes
de ação, comédia e suspense.
7- Que tipo de influência é mais decisiva para
quem está na dúvida de um título: dica
de funcionário da locadora? Banner ou cartaz promocional
do DVD na locadora? Preço promocionais de locação?
Propaganda boca-a-boca? Crítica de jornal, site ou revista
especializada?
Toda forma de divulgação ajuda. Para o cliente
desinformado, uma citação no jornal ou o simples
comentário de um amigo funciona como estímulo.
Para outros que mantém maior contato com a produção
cinematográfica, a indicação na vídeo-locadora é mais
importante. No entanto, em ambos os casos, acredito que a
boa orientação no momento da locação é o
fator preponderante. Conhecer o gosto do cliente é o
segredo.
8- O site da E O VIDEO LEVOU (www.eovideolevou.com.br) ajuda
de alguma forma para quem loca ou compra? Outros sites ajudam
ou podem ajudar?
Atualmente o site da E O Vídeo Levou está totalmente
voltado para a locação de fitas e tem obtido
grande êxito neste objetivo. Principalmente entre os
clientes que buscam filmes de acervo. O próximo passo
será a implantação da divulgação
do ponto de venda no site e tenho certeza absoluta que será a
ferramenta mais importante nesta atividade. Em relação
aos outros sites, acredito que sejam também uma ótima
forma de divulgação dos filmes, mas não
tenho como aferir sua influência.
9- Há muito dúvida ainda a respeito do DVD entre
os clientes? Afinal, as pessoas preferem o formato de "tela
cheia" a do "widescreen"? Conhecem as informações
que as caixas dos DVDs expressam?
O cliente não costuma conferir as informações
contidas na embalagem. Não há o hábito
de conferir, formatos de tela, disponiblidade de legendas ou
idiomas. Uma pequena parcela (em crescimento) preocupa-se com
os “extras”. Quanto ao formato de tela, é normal,
em virtude de uma tradição de décadas,
que boa parte dos clientes prefira a tela cheia. Mas a tendência é predominar
o Widescreen.
10- Para finalizar, quais as tuas perspectivas
para o mercado doméstico de aluguel e venda de discos de DVD. O que
ameaça este mercado e o que dá esperança
de ser melhor do que o “antigo” mercado de VHS.
Apesar de ser um amante incondicional do VHS, rendo-me ao
mercado de DVDs que já supera em muito o formato antigo.
Repetir aqui suas vantagens, parece-me desnecessário.
Sua única desvantagem e que pode transformar-se na maior
ameaça ao mercado é a cópia pirata. O
formato facilita a pirataria em escala industrial e num País
como o Brasil, com pouca fiscalização, legislação
debilitada e uma economia informal gigantesca , a indústria
ilegal pode encontrar o local ideal para desenvolver suas atividades.
©
DVD Magazine – 2004