Estivemos na cabine de imprensa do filme Chicago, o grande
favorito ao Oscar de 2003. O filme realmente é brilhante,
um musical como há muito tempo não se via.
Os números musicais, extremamente bem coreografados,
complementam o enredo do filme, fazendo alusão ao
que os personagens pensam ou sentem, compondo com maestria
o contra-ponto. Os atores estão ótimos, especialmente
Catherina Zetha-Jonese e a surpresa Richard Gere (se bem
que ele começou sua carreira em musicais...). René
Zellwegger novamente está cotada para vencer o Oscar,
prova do reconhecimento dessa atriz que vem a cada dia se
superando. O filme é baseado no musical de Bob Fosse
(All That Jazz), estreiado na Broadway em 1975, mas sem
ter sido um grande sucesso. Favorito em quase todas as categorias
em que foi indicado ao Oscar, deve levar quase todos.
Vejam abaixo o release distribuído à imprensa
pela distribuidora Lumiere e algumas fotos do filme:
CHICAGO
De: Rob Marshall
Com: Richard Gere, Catherine Zeta-Jones, Renée Zellweger,
Queen Latifah, Lucy Liu
SINOPSE
"Tudo é circo, pessoal. Tudo é picadeiro.
Esses julgamentos - o mundo inteiro - tudo é show
business."
Billy Flynn
Chicago, 1929. Assassinato. Paixão. Fama. Sexo.
E todo aquele jazz.
A promessa de aventura e oportunidades em Chicago fascina
Roxie Hart, uma artista aparentemente ingênua que
sonha em cantar e dançar, mudando sua vida monótona.
Seu maior desejo é seguir os passos da famosa Velma
Kelly, estrela de vaudeville.
Roxie consegue realizar seu sonho quando alguns passos mal
dados colocam ambas, a estrela e a aspirante, na prisão,
cada uma acusada de um assassinato.
Através da desonesta diretora da prisão Mama
Morton, Roxie conhece o lendário advogado Billy Flynn,
que concorda em defendê-la em troca de honorários
exorbitantes. A carreira de Roxie explode, para desgosto
de seu mentor. Mas a esperta Vilma Kelly guarda algumas
surpresas para o segundo ato
Baseado no premiado musical de John Kander, Fred Ebb e Bob
Fosse, Chicago é um maravilhoso espetáculo,
cheio de intrigas, amor, traição, rivalidade
e amizade, um quadro vivo de música e dança
que alterna realidade e fantasia, na medida em que o mundo
de Roxie se transfere do tribunal para o palco.
SOBRE A PRODUÇÃO
"Iludam-nos com o velho espetáculo"
"Fico impressionado ao ver como esta história
se mantém há anos", diz o roteirista
Bill Condon sobre a relevância cultural de Chicago.
"A peça original de Maurine Dallas Watkins anunciou
uma geração de comédias cínicas
e divertidas. Na verdade, estreou poucos meses antes de
The Front Page. Em 1975, Bob Fosse deu um ar mais pesado
ao texto, tornando a corrupção do sistema
legal uma metáfora para o cinismo de todas as instituições
americanas. Como toda arte popular da época, sofreu
o reflexo dos traumas do Vietnã e de Watergate. Chicago
voltou à cena em 1996, logo depois do caso O. J.
Simpson, e a metáfora do espetáculo realmente
tornou-se o foco. Era uma nova forma de ver a peça.
Quanto ao filme, acho que a linha pouco clara entre notoriedade
e celebridade fará bastante sentido em nossa época
pós-Monika".
"É divertido, um grande espetáculo, mas
o que ele diz é bastante pesado", concorda o
diretor Rob Marshall. E completa: "É sobre a
perversidade da fama - e quem escolhemos para festejar."
Inspirado nos comentadíssimos julgamentos do Condado
de Cook, Maurine Watkins, repórter do Chicago Tribune
escreveu a primeira versão de Chicago. O título
original da peça era The Brave Little Woman, que
teve boas críticas quando foi produzida em 1926.
Seguiram-se duas adaptações para o cinema:
Chicago, filme mudo de 1927, e Roxie Hart, estrelado por
Ginger Rogers em 1942. Embora a sátira falasse de
lugar e época específicos, a história
de Maurine Watkins sobre assassinato e manipulação
da mídia provaria ser profética e atemporal.
Em 1975, os veteranos da Broadway John Kander, Fred Ebb
e Bob Fosse adaptaram Chicago, que se tornou um musical
de sucesso. As lendas do palco Gwen Verdon e Chita Rivera
deram vida a Roxie e Velma, respectivamente. Mais uma vez
funcionou o apelo do casamento de sedução
e assassinato.
Mas a história de Chicago é mais que uma história
atemporal. As letras e melodias de Kander e Ebb realçaram
a universalidade da inteligente peça. A coreografia
de Fosse trouxe a marca registrada da sensualidade. "John
Kander e Fred Ebb são heróis americanos no
campo do teatro", afirma o produtor executivo Neil
Meron ao falar da importância da colaboração
do trio para Chicago. E continua: "Uma boa canção,
com uma bela letra e uma bela melodia consegue passar no
teste do tempo. Acho que esses adjetivos se encaixam bem
nas letras e melodias de Chicago: são alegres, inteligentes,
sarcásticas, sensuais e ácidas. Funcionam
agora, funcionarão no futuro, funcionarão
daqui a muito tempo e vão funcionar quando se distribuir
o vídeo por todo o mundo".
A Miramax Films comprou do produtor Martin Richards os direitos
para filmar o musical de John Kander, Fred Ebb e Bob Fosse
em 1994, e iniciou o árduo processo de transformar
a festejada produção teatral em filme. Apesar
da popularidade e do sucesso da adaptação
e do elenco, o trabalho se mostrou mais difícil do
que o imaginado. "Toda a produção de
palco foi criada como um vaudeville. Essa era a maior dificuldade
de trazer a ação para o cinema, pois um canta
para o outro. Na maioria dos musicais você vê
os atores cantando um para o outro. Não cantam para
a platéia, não há platéia. Há
a quarta parede", explica Rob Marshall.
Mas Marshall pensou numa maneira de eliminar a quarta parede.
Ele já tinha experiência com musicais, já
havia trabalhado com os produtores executivos de Chicago
Neil Meron e Craig Zadan nas aclamadas e premiadas produções
para a televisão Cinderella e Annie, pela qual Marshall
ganhou um Emmy. Ele também co-dirigiu e coreografou
a nova versão da Broadway de Cabaret (vencedor de
um Tony), de John Kander e Fred Ebb, com o diretor de Beleza
Americana, Sam Mendes.
Marshall reuniu-se com Meryl Poster, co-presidente de produção
da Miramax, para discutir a possibilidade de trabalhar com
o estúdio numa possível adaptação
para o cinema de Rent. Mas o ousado diretor e coreógrafo
aproveitou para expor suas idéias sobre Chicago.
Meryl Poster recorda: "Ele estava confiante no nosso
primeiro encontro, mostrou-se interessado". Depois
de ouvir a concepção de Marshall para o filme,
Meryl Poster o levou ao escritório de Harvey Weinstein
para uma reunião de duas horas. Meryl Poster conta:
"Ele conseguiu a solução. Tínhamos
falado com tantos roteiristas e diretores, mas caíamos
nos mesmos problemas. Num instante, Ron descobriu a fórmula".
Ao mesmo tempo, Rob Marshall esteve com a produtora Mary
Richards, que apoiara fortemente sua carreira teatral e
gostou de suas idéias.
A idéia de Rob Marshall era transformar os números
musicais em projeções imaginárias da
protagonista, Roxie Hart. O filme existiria em dois planos:
a realidade da Chicago da "era proibida" e o que
Marshall chama o "surrealismo" da interpretação
que Roxie faz desse mundo.
"Tínhamos de conceber uma forma de envolver
a platéia sem quebrar a quarta parede, como acontece
no teatro. Roxie é quem sonha no filme. Ela é
aquela que "quer ser", que faria qualquer coisa
para estar em cena. Vê sua vida nas seqüências
musicais. Torna-se uma história linear que vai e
vem entre essas duas realidades. Assume-se o fato de que
todos esses números acontecem no palco em vez de
se tentar disfarçar", ele esclarece.
Impressionados com a idéia, Weinstein e Richards
mandaram seguir adiante. A Miramax e Rob Marshall começaram
a difícil busca pelo melhor roteirista para essa
nova visão de Chicago. "Entrevistamos gente
de teatro, do cinema e da TV. Quando estive com Bill Condon,
sabia ter encontrado uma pessoa como eu, que ama musicais.
Ele adorava o texto e sabia instintivamente como fazer dele
cinema", relata Marshall.
Meryl Poster completa: "Em última análise,
estava claro que Bill era o nome certo para Chicago. Ele
abraçou a idéia de Rob ao mesmo tempo que
deixava nela sua marca. O conceito era muito criativo. Não
era um musical à moda antiga".
"Era interessante em todos os aspectos e o mais engraçado
é que eu jamais escrevera um roteiro", Bill
Condon lembra. E prossegue: "Tratava-se de escrever
um musical para o cinema e trabalhar com Rob, que tem uma
carreira de peso. Ele trabalhou com lendas como Jerome Robbins
e Harold Prince. Aprende-se muito cada vez que se escreve
e eu tinha a chance de aprender com um mestre que aprendera
com outros mestres, tornando-se, assim, um mestre também".
Condon se sentia desafiado com a idéia de redesenhar
totalmente a adaptação da Broadway, mas sabia
que o projeto demandava um toque delicado. Ele comenta:
"Decidido que criaríamos dois mundos, o desafio
era dar à personagem de Roxie Hart uma complexidade
psicológica, sem atenuar a personagem ou trair seu
modo de ser. Ela é ambiciosa, centrada em si mesma,
mas há algo nela que irradia simpatia".
A inovação também deu ao escritor a
oportunidade de realçar personagens de apoio e pincelar
o musical com impressionantes seqüências visuais.
"A lanterna agressiva de um detetive se torna um suave
ponto de luz. Repórteres gritando numa entrevista
se tornam marionetes que dançam, comandados pelo
matreiro advogado de Roxie", revela Bill Condon. E
ressalta: "É um conceito simples, mas podia
ter dado errado se Rob não o tivesse executado de
forma tão hábil".
Para os envolvidos no projeto, Chicago é um triunfo
do amor, uma produção de quase 80 anos. O
roteirista observa: "Como adoro teatro e Rob é
um profissional da área, não acho que o resultado
será uma 'hollywoodização'" de
um grande texto teatral. Foi feito com o mesmo amor e respeito
da gente de teatro".
Apesar de suas várias versões e das alterações
que ocorreram, os temas originais de Chicago vão
parecer verdadeiros para a platéia. Basta lembrar
os diversos julgamentos de celebridades para que se veja
que Roxie, Billy e Velma são parte do nosso ambiente
legal contemporâneo. "A corrupção
de nossas instituições legais e a patologia
da adoração das celebridades são temas
que encontram sua expressão ideal no desespero e
na alegria de seduzir o público", diz Condon.
"No caso de você querer começar de
novo
todo aquele Jazz"
Uma vez resolvido que se usaria o engenhoso texto de Bill
Condon, teve início a busca por Roxie. Embora as
brilhantes alterações de Condon e Marshall
tenham feito com que Chicago passasse a fluir, as mudanças
também tornaram o papel de Roxie mais complexo. Seus
desejos, sonhos e monólogos internos tinham de ser
mostrados. "O melhor é que tínhamos Renée
Zellweger para o papel. Ela preenchia os diversos aspectos
que queríamos para Roxie", afirma Condon.
Em sua carreira tão diversificada, Renée Zellweger
foi mãe solteira em Jerry Maguire ? A Grande Virada,
uma garçonete obcecada por novelas em Enfermeira
Betty, uma jornalista que por um golpe do destino tem de
voltar a morar com os pais em Um Amor Verdadeiro, uma mãe
adotiva suicida em White Oleander, e a divertida solteira
de O Diário de Bridget Jones. Rennée Zellweger
não estava marcada pelo mesmo tipo de papel. "Os
produtores e o diretor de Chicago não ficaram surpresos
em descobrir que a pequena texana tinha uma voz potente
e sabia dançar muito bem.
Meryl Poster declara: "Renée era a escolha certa
e pronto. Temos um ótimo relacionamento e eu sabia
que ela podia cantar e dançar. Já sabia que
era uma atriz brilhante. Tinha de tê-la no filme".
O diretor Rob Marsahll é só elogios para a
atriz: "Ela adora um desafio, adora trabalhar duro
e experimentar pela primeira vez algo novo. Ela é
assim, uma moça corajosa e é uma atleta. Sabe
usar o corpo e tem movimentos graciosos. O vocabulário
da dança era um tanto novo para ela, mas o estilo,
a sensibilidade e a coordenação ela já
possuía".
"Pensei que nunca haveria outra Roxie Hart", admite
o produtor Martin Richards. E continua: "Ninguém
se igualou a Gwen Verdon até Renée, e agora
ela dá uma nova e diferente dimensão ao papel.
Estou profundamente impressionado. De verdade".
Richard Gere, que faz o desonesto advogado Billy Flynn ,
credita o sucesso da personagem a Renée. Embora Roxie
viva quase o tempo todo no mundo da fantasia, é o
toque de humanidade que Renée lhe dá que faz
a personagem plausível. "Renée traz algo
de comovente a Roxie e o faz de modo inexplicável.
Todos ficarão emocionados", diz Gere.
"Não cresci assistindo a musicais", diz
a modesta Renée Zellweger. E acrescenta: "Não
tinha por que cantar, a não ser no chuveiro, com
meu irmão me implorando para calar a boca".
Renée, porém, não deixou escapar a
chance de usar as ligas de Roxie. "Ela é tão
determinada e ao mesmo tempo tão desesperada e trágica.
Procura a fama a todo custo pelo que acha que pode lhe proporcionar
- auto-estima, auto-respeito, autovalorização,
amor. Tudo o que ela não tem. Pensa que será
adorada pelo público como Velma, que será
uma pessoa mais completa. A triste realidade é que
isso é uma ilusão".
A atriz não economiza elogios ao diretor: "Seu
entusiasmo era contagiante. Ele nos encorajava, era positivo
e tinha um ótimo humor. Sua bondade fazia com que
todos tivessem prazer em trabalhar. Você realmente
queria dar o melhor de si para agradá-lo".
"Simplesmente não posso
fazer isso sozinho"
A primeira atriz escalada foi a entusiasta de musicais da
Broadway Catherine Zeta-Jones, como a diabólica cúmplice
Velma Kelly. A primeira a ser convidada, a atriz dividiu
com o diretor o entusiasmo na reunião de um grupo
de atores diversificados e talentosos. Ela recorda: "Foi
fantástico ser a primeira do elenco. Robby telefonou
dizendo, 'Adivinhe quem eu acho que conseguimos: Renée
Zellweger!' E eu respondi, 'Meu Deus!' 'Adivinhe quem mais
conseguimos: Richard Gere!' 'Meu Deus!' 'Adivinhe quem talvez
trabalhe no filme: Queen Latifah!' 'Meu Deus!' É
um elenco fantástico".
Para a atriz, Chicago foi a realização de
um sonho de infância. "Quando era menina, sempre
quis atuar no teatro, cantando e dançando. Era obcecada
pelos musicais da época de ouro de Hollywood. Adoraria
ter vivido na época de Fred Astaire e Ginger Rogers".
"Ela está à vontade aqui, pois canta
e dança muito bem. Quando aprendemos as coreografias,
eu ficava um pouco atrás e copiava seus passos, prestando
atenção ao que fazia. Ela tem muita vivacidade
e sua energia é contagiante. Quando ela entra é
impossível não notar. Ela brilha em toda a
tela", diz Renée Zellweger da companheira de
elenco.
O fato de Catherine Zeta-Jones apreciar musicais e seus
anos de estudo a levaram ao West End londrino, onde ainda
bem jovem desempenhou um papel em 42nd Street. Embora familiarizada
com o mundo do teatro, tinha de aprimorar seus talentos.
"Catherine trabalhou à exaustão para
dar o seu melhor, assegurando-se que tudo ficaria perfeito.
Machucou-se e se arranhou, assim como todos os outros",
revela Martin Richards.
Catherine ficou feliz em ver seu amor por musicais contagiar
os demais. "Era interessante ver a equipe quando filmávamos
os números. Eu via os câmeras, os assistentes
e os carpinteiros acompanhando com a cabeça, assoviando
e cantando junto. Acho que musicais levantam o astral das
pessoas", diz ela.
Contudo, a atriz observa que Chicago não se parece
muito com os musicais que amava na infância. Ela comenta:
"O que gosto em Chicago é que ele é perigoso,
sensual e morbidamente engraçado. Existe a noção
de que todo musical é bonitinho e superficial. A
longevidade de Chicago se deve à sua agudeza e profundidade,
que o tornam diferente. A história permanece atual
porque todo o mundo luta por aqueles quinze minutos de fama.
Todos são fascinados pelo culto à celebridade
e há pessoas tão ávidas que farão
qualquer coisa para atingi-la".
"Queremos Billy,
nos dêem Billy"
"Foi horrível ficar quatro dias no colo de Richard.
Detestei", brinca Renée ao falar do filme que
fizeram juntos, Both Reached For The Gun. E completa: "Ele
canta, sapateia, é um ator fantástico, bonito
de se olhar, e toca piano. Tem tantos talentos que isso
chega a ser ridículo".
Richard Gere, assim como Catherine Zeta-Jones, também
era familiarizado com musicais e com as produções
do West End, tendo estrelado no papel de Danny Zuko uma
produção do West End de Grease.
"Gostei do trabalho de Rob", diz Gere quanto à
decisão de assinar contrato para o filme. E acrescenta:
"Recebi o roteiro que Bill Condon escreveu e o achei
inteligente. Achei interessante usar a fantasia de Roxie
justaposta à dura realidade de um assassinato em
Chicago nos anos 20. E ainda havia a música fantástica".
"Acho que a parte mais interessante, no entanto, é
a viagem dessa moça", ele continua. "Ela
realizou tudo a que se propôs, mas está completamente
sozinha. Essa é a parte mais tocante da história.
As pessoas lidam com raiva, cobiça, inveja e solidão.
São temas eternos".
Rob Marshall lembra: "Confiei nele. 'É o perfeito
Billy Flynn', pensei. E tinha razão, ele é
mesmo. Dei sorte, ele foi incrível. E ele também
adorou. Gostou da alegria e do companheirismo". Meryl
Poster concorda: "É um papel talhado para Gere,
caiu como uma luva".
Rob Marshall convidou a coreógrafa Cynthia Onrubia
para treinar Gere no sapateado do personagem. Marshall já
trabalhara com ela em produções como Damn
Yankees, Victor ou Victoria e Cabaret.
"Cynthia foi uma grande professora. É uma das
grandes sapateadoras da Broadway e ensinou muitos dançarinos
ruins como eu. Começamos aos poucos e ela foi sensacional.
Quando conseguimos o ponto certo, nos divertimos muito",
conta Gere.
"Nunca vi ninguém suar tanto em toda minha vida.
Foi como em 'A Força do Destino'. Mais flexões!",
brinca Marshall.
"Quando você é bonzinho com a mamãe,
mamãe é boazinha com você"
"Adorava ver antigos musicais quando era criança.
Vi A Noviça Rebelde e mil outros filmes desse tipo",
diz Queen Latifah, que faz o papel da diretora Morton. E
prossegue: "Era como fazer uma viagem na filmagem de
uma outra terra. Acho que o último filme musical
que me impressionou foi The Wiz. Fiz o papel de uma cantora
em Living Out Loud, mas nunca estive num musical. Quando
soube que Chicago ia virar filme e quem iria trabalhar nele,
quis tentar conseguir o papel. Não tinham pensado
em mim para interpretar a personagem, mas lutei pelo papel".
Depois de três testes, Latifah estava no elenco. "Tudo
com Mama é na base do 'toma lá dá cá'
Ela é durona, mas consegue o que quer", diz
Latifah sobre a personagem.
Embora tivesse experiência em canto e dança,
havia desafios a vencer. "Tínhamos ensaiado
o número 'When You're Good To Mama'. No dia anterior
à filmagem, eu disse a ela, 'Estou refazendo o número.
Em vez de colocar você no palco, vou colocá-la
na casa. Vai ficar mais lascivo.' Ela me olhou atravessado
e disse, 'Isso é sério, não é?'
E eu confirmei", ri Marshall ao lembrar. "Ela
agiu com a disciplina de um soldado e deu conta do recado".
"Queen Latifah é uma atriz surpreendente. Está
dando nova dimensão ao papel, reinventando-o sem
quebrar o ritmo. Ela é totalmente convincente e traz
seu humor, talento e brilho a Mama Morton", diz Neil
Meron, um dos produtores executivos.
"Porque você pode ver através de mim,
caminhar ao meu lado,
e nunca saber que estou ali"
Acerca da escolha de John C. Reilly para o papel de Amos,
Neil Meron comenta: "Ele nos mandou sua versão
de 'Mr. Cellophane' e conseguiu o papel. É a escolha
perfeita".
Reilly, que destaca o fato de ser o único ator que
é realmente de Chicago, diz que seu amor por musicais
vem da infância. "Há algo de puro quando
se conta uma história pela música. Adoro musicais
e parece que estou voltando para casa, pois aprendi a ser
ator através dos musicais".
O ator, contudo, ficou receoso em relação
ao personagem. "Deu um pouco de medo porque, mesmo
tendo feito vários musicais quando criança,
nunca tinha feito profissionalmente. Era uma tarefa e tanto.
Você tem de ter habilidades diversas para fazer um
bom trabalho", admite ele.
Em última análise, a confiança de Marshall
em Reilly lhe deu condições para fazer o papel.
"O bacana em Rob era sua confiança inabalável
e seu incrível bom gosto. Ele consegue tirar o melhor
das pessoas. Ele nos deixava à vontade, o que era
importante, pois alguns de nós não éramos
profissionais em musicais. Com sua experiência de
coreógrafo ele compreende a linguagem da dança,
do movimento, da música e dos atores, além
de ter uma grande noção visual", elogia
Reilly.
"A confusão da conferência de imprensa"
Rob Marshall escalou para o papel de Mary Sunshine a amiga
de longa data Christine Baranski, que ele dirigira na montagem
teatral de Promises, Promises. Tradicionalmente, nas versões
para o teatro de Chicago, um homem em andrajos fazia o papel
do repórter Sunshine. Marshall justifica a mudança:
"Mary Sunshine tem de existir de forma verossímil
tanto na realidade do filme quanto no mundo surrealista
de Roxie. Não ia funcionar se fosse do mesmo modo
que aconteceu no palco. E Christine Baranski é fabulosa
e perfeita para o papel. Nós dois tivemos de criar
a maneira de fazê-lo. Ela, Bill e eu criamos essa
repórter sensata que escreve histórias sentimentais
para jornais. Mas trabalhamos com a idéia de ela
ser tão corrupta quanto todos os outros".
"Vá para o inferno!"
"Perguntaram se eu faria um papel pequeno e eu disse
que sim, naturalmente", diz Lucy Liu sobre sua decisão
de participar do filme. Ela é Kitty, socialite que
se torna uma assassina e cujas ações ameaçam
roubar a publicidade de Roxie e Velma. "Eu vi a montagem
teatral e a achei incrível. Fiquei impressionada
com o quanto era sensual e atual, mesmo escrita há
tanto tempo. Assassinato, crime, amor, fama. Tudo isso é
atual. Misturar música a isso não pode dar
errado!", ela completa.
Em papéis menores estão Colm Feore, Dominic
West, e Taye Diggs. Em 2002, Diggs teve o prazer de participar
da montagem de Chicago na Broadway como Billy Flynn.
"Ele sabia o que estava por vir
E só podia culpar a si mesmo"
Embora Richard Gere, Christine Baranski e Catherine Zeta-Jones
tivessem bastante experiência em musicais, todo o
elenco concordou em ter um intenso período de ensaios
e treinos. Na verdade, os dois meses de ensaio antes do
início das filmagens foram um pouco como um acampamento
musical de soldados.
"Tínhamos professores de dança para nos
ajudar com a coreografia. Íamos de ensaios de dança
aos de canto e para os ensaios de texto", lembra Latifah.
"Foi um bocado de trabalho no início, mas tornou
tudo mais fácil".
"Era como estar na escola. Havia o primeiro tempo,
que era a aula de canto. Eu me encontrava com Elaine na
sala de piano, onde Richard treinava sapateado e enquanto
Catherine estava ensaiando 'All That Jazz' no outro andar.
Fazíamos um rodízio. Era fantástico",
descreve Renée Zellweger.
Rob Marshall comenta: "Trabalhamos duro no processo
de ensaios. Eles se empenharam, todos eles. Catherine queria
voltar a suas raízes. Estava inteiramente à
vontade em frente a um espelho com bailarinos em toda parte.
Ela estava no paraíso. Para Renée tudo era
novidade, mas ela trabalhava duro. Foi um intensivo relâmpago
para ela, que estava maravilhada. Richard também
foi incrível. Ele adorou fazer. Adorou a alegria
e o companheirismo existentes".
E ele acrescenta: "O que você consegue com ensaios
dessa natureza por seis semanas é uma verdadeira
companhia. Uma companhia com Queen Latifah, John C. Reilly,
Christine Baranski e todos aqueles bailarinos maravilhosos.
Poderíamos levá-los para o palco!"
"É bom. Não é sensacional?
Não é o máximo? Não é
alegre?
Não é
?"
"Gravamos todos os vocais de quinze canções
em uma semana, o que não é muito. Cada um
trouxe seu estilo específico às canções
de seus personagens e suas experiências como atores.
Foram todos excelentes. Trabalhar com tantos talentos era
o sonho de um supervisor musical", diz Maureen Crowe,
coordenadora musical da frenética sessão de
pré-gravação de Chicago.
O elenco aprimorou a coreografia de Rob Marshall durante
os fatigantes dias de 14 horas. O treinamento não
tinha terminado quando a filmagem principal começou.
Os ensaios, durante a produção, eram inclusive
aos sábados, quando o elenco se reunia para trabalhar
os números a serem filmados na semana seguinte. Marshall
coreografava meticulosamente cada dança para dar
a ela a natureza da cena e conectá-la sem emendas
à "realidade" que a precedia.
"Cada número tinha seu caráter e personalidade.
Fizemos pesquisa para incorporar danças dos anos
20. Alguns números foram inspirados em peças
de vaudeville e mesmo em filmes", conta o coreógrafo
Joey Pizzi. E exemplifica: "Vocês verão
o Charleston em 'Reach for the Gun', o tango em 'Cell Block
Tango', Ziegfeld Follies em 'All He Cares About Is Love',
Sophie Tucker no número de Queen Latifah 'When You're
Good To Mama', Showboat no número de Renée
'Funny Honey', e King of Jazz na última cena com
Catherine and Renée, 'Nowadays'".
Todos os números de dança são composições
originais de Rob Marshall. Pizzi e seus colegas, a coreógrafa
assistente Denise Faye e a coreógrafa associada Cynthia
Onrubia, junto com o supervisor de dança John DeLuca,
têm trabalhado com Marshall há muitos anos.
"Onde o gim é gelado, mas o piano é quente"
Compondo a maior parte do vaudeville de Roxie, as fantasias
do showbiz se passam num palco imaginário chamado
Onyx Club. O desenhista de produção John Myhre
criou um cenário original, ricamente detalhado para
funcionar como peça central do filme.
Ele conta: "Sabíamos que o Onyx seria um cenário
importante, já que ali aconteceriam todos os números
musicais. Rob tem um fantástico conhecimento dos
teatros de Nova York; mandou-me ir a alguns teatros e notei
que vários tinham similaridades arquitetônicas
que Rob e eu apreciávamos. Eram apertados, com balcões
que quase se projetavam sobre o palco. Rob me mostrou o
trabalho de um artista chamado Reginald Marsh, que fez as
belas pinturas dos teatros de Nova York nos anos 30. Eram
pinturas compactas. Em todos os níveis, compactas
e cheias de detalhes".
Com os camarotes dourados, as cortinas carmim com barra
de ouro e as luzes âmbar piscando e oscilando à
volta de mesas de ébano, Myhre criou o ambiente perfeito
para dar vida à imaginação de Roxie.
Mas o Onyx era um cenário prático, com um
palco largo o suficiente para acomodar uma trupe de bailarinos
e com o espaço para o diretor de fotografia Dion
Beebe acomodar sua equipe de câmeras, manejar trilhos
de carrinhos, mover-se numa grua etc.
"Como todos os números musicais refletem a imaginação
de Roxie, tínhamos um meio de sobrepor esses dois
mundos. Tentamos fazê-los o mais sem costura possível.
Uma virada de cabeça ou um acender de luzes levarão
você ao outro mundo. A imaginação de
Roxie é como se fosse uma fuga através do
sonho. Ela oferece a oportunidade única para traduzir
a visão do diretor de maneira livre", observa
o diretor de fotografia.
O trabalho de câmera de Beebe tem fontes diversas,
dos filmes clássicos ao vaudeville e ao teatro experimental.
Ele e Marshall deliberadamente tentaram evitar o formato
wide-screen típico dos filmes musicais. "Houve
muitos debates sobre se deveria ou não ser anamórfico.
Resolvemos que não. Os cenários foram inspirados
nas pinturas de Reginald Marsh, que são mais verticais
que horizontais. Os cenários eram compactos e cheios
de gente. Queríamos manter essa superlotação,
a atmosfera condensada. Essa sensação se refletiu
também no palco, braços, pernas e corpos dos
bailarinos entrelaçados. Tentamos capturar toda essa
sexualidade no fotograma", comenta Beebe.
"Dion Beebe foi o meu braço direito. É
um verdadeiro artista, com surpreendente noção
de cor e luz. Ele sabe como encantar, mas também
sabe como contar uma história", diz Marshall.
Rob Marshall chamou seus colegas do mundo do teatro, os
famosos iluminadores Jules Fisher e Peggy Eisenhauer para
colaborar com Beebe na iluminação do "palco"
do Onyx. Fisher, que já recebeu sete prêmios
Tony, fez a iluminação de mais de150 montagens
da Broadway e do circuito off-Broadway.
Entre seus créditos está a produção
original da Broadway para Chicago. Sua parceira Peggy Eisenhauer
colaborou com Marshall numa nova versão de Cabaret
e ambos emprestaram sua mágica para o filme Chicago.
"Os técnicos de iluminação eram
uma boa parte da nossa equipe e o trabalho deles deu uma
nova dimensão ao filme. O design da iluminação
foi muito específico e complexo", elogia Beebe.
Jules Fisher e Peggy Eisenhauer também trabalharam
junto com Marshall, Beebe e Myhre não apenas para
e decidir sobre uma série de movimentos de luz, como
também quanto à paleta de cores. Peggy Eisenhauer
comenta: "Escolher cores, para nós, é
meio intuitivo. Muito vem de trabalhos que fizemos anteriormente,
sabendo quando o rosa devia ser um pouco mais intenso porque
traduz um certo sentimento. Tentamos realmente não
usar cores modernas, escolhendo tons que teriam sido comuns
naquela época".
E Fisher acrescenta: "Houve também a influência
de Reginald Marsh. Tentamos captar aquela espécie
de brilho teatral, quente, com pouca luz, que se vê
numa pintura de Degas. Dion usou isso para dar mais efeito
todo o tempo. Ele era capaz de tomar o que fizemos e adequar
ao filme, de modo a captar as nuances e sutilezas da luz
teatral".
"Alise o cabelo e
use seus sapatos de fivela"
A figurinista Colleen Atwood pesquisou a arte e o estilo
dos anos 20, selecionando elementos de moda, art déco,
Bauhaus e cubismo para criar os deslumbrantes e sensuais
figurinos de Chicago. "Embora se trate de um filme
de época, também é teatral. Nós
interpretamos a época com uma sensibilidade moderna",
ela explica.
Collen Atwood enfrentou, ainda, o desafio especial de desenhar
as roupas "reais" e "imaginárias"
e cada número exigiu um guarda-roupa em sincronia
com o tema da rotina correspondente.
"Depois de falar com Rob, entendi que o principal objetivo
era separar o mundo da imaginação do mundo
no qual os personagens viviam. Minha direção
inicial e minha inspiração vieram da observação
do ensaio de cada número de dança, para ver
que espécie de movimento combinava com cada canção.
O que é interessante sobre Chicago e o que é
interessante para mim como figurinista é que cada
número é uma entidade em si mesmo", diz
Atwood.
Porém, os figurinos não eram só específicos
em relação a cada número musical: as
roupas também espelhavam a personalidade de cada
personagem. "Os perfis na história são
revelados e expostos de diferentes maneiras. A personalidade
de Roxie era mais complexa porque a vemos no mundo real
e vemos depois todos os outros através de seus olhos
nas fantasias. Para seu mundo real, usei uma paleta de tons
quase cor da pele. Mas as cores de sua fantasia eram mais
fortes e vibrantes", diz a figurinista.
"Velma começa o filme como uma personagem muito
forte e permanece assim; então, suas cores são
intensas. Ela é completamente destemida", ela
completa.
Rob Marshall conclui: "Colleen Atwood fez figurinos
surpreendentes. Ela possui uma visão sensacional,
específica, que era exatamente o que eu queria. Entendeu
a liberdade e a sexualidade da época. Ela sabia o
quanto de pele tinha de ser mostrado".
"Boa noite, pessoal"
Por Edinho Pasquale
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