LANÇAMENTO DE "CHICAGO"

Estivemos na cabine de imprensa do filme Chicago, o grande favorito ao Oscar de 2003. O filme realmente é brilhante, um musical como há muito tempo não se via. Os números musicais, extremamente bem coreografados, complementam o enredo do filme, fazendo alusão ao que os personagens pensam ou sentem, compondo com maestria o contra-ponto. Os atores estão ótimos, especialmente Catherina Zetha-Jonese e a surpresa Richard Gere (se bem que ele começou sua carreira em musicais...). René Zellwegger novamente está cotada para vencer o Oscar, prova do reconhecimento dessa atriz que vem a cada dia se superando. O filme é baseado no musical de Bob Fosse (All That Jazz), estreiado na Broadway em 1975, mas sem ter sido um grande sucesso. Favorito em quase todas as categorias em que foi indicado ao Oscar, deve levar quase todos.

Vejam abaixo o release distribuído à imprensa pela distribuidora Lumiere e algumas fotos do filme:

CHICAGO

De: Rob Marshall
Com: Richard Gere, Catherine Zeta-Jones, Renée Zellweger, Queen Latifah, Lucy Liu

SINOPSE

"Tudo é circo, pessoal. Tudo é picadeiro.
Esses julgamentos - o mundo inteiro - tudo é show business."

Billy Flynn

Chicago, 1929. Assassinato. Paixão. Fama. Sexo. E todo aquele jazz.
A promessa de aventura e oportunidades em Chicago fascina Roxie Hart, uma artista aparentemente ingênua que sonha em cantar e dançar, mudando sua vida monótona. Seu maior desejo é seguir os passos da famosa Velma Kelly, estrela de vaudeville.
Roxie consegue realizar seu sonho quando alguns passos mal dados colocam ambas, a estrela e a aspirante, na prisão, cada uma acusada de um assassinato.
Através da desonesta diretora da prisão Mama Morton, Roxie conhece o lendário advogado Billy Flynn, que concorda em defendê-la em troca de honorários exorbitantes. A carreira de Roxie explode, para desgosto de seu mentor. Mas a esperta Vilma Kelly guarda algumas surpresas para o segundo ato…
Baseado no premiado musical de John Kander, Fred Ebb e Bob Fosse, Chicago é um maravilhoso espetáculo, cheio de intrigas, amor, traição, rivalidade e amizade, um quadro vivo de música e dança que alterna realidade e fantasia, na medida em que o mundo de Roxie se transfere do tribunal para o palco.

SOBRE A PRODUÇÃO

"Iludam-nos com o velho espetáculo"
"Fico impressionado ao ver como esta história se mantém há anos", diz o roteirista Bill Condon sobre a relevância cultural de Chicago. "A peça original de Maurine Dallas Watkins anunciou uma geração de comédias cínicas e divertidas. Na verdade, estreou poucos meses antes de The Front Page. Em 1975, Bob Fosse deu um ar mais pesado ao texto, tornando a corrupção do sistema legal uma metáfora para o cinismo de todas as instituições americanas. Como toda arte popular da época, sofreu o reflexo dos traumas do Vietnã e de Watergate. Chicago voltou à cena em 1996, logo depois do caso O. J. Simpson, e a metáfora do espetáculo realmente tornou-se o foco. Era uma nova forma de ver a peça. Quanto ao filme, acho que a linha pouco clara entre notoriedade e celebridade fará bastante sentido em nossa época pós-Monika".
"É divertido, um grande espetáculo, mas o que ele diz é bastante pesado", concorda o diretor Rob Marshall. E completa: "É sobre a perversidade da fama - e quem escolhemos para festejar."
Inspirado nos comentadíssimos julgamentos do Condado de Cook, Maurine Watkins, repórter do Chicago Tribune escreveu a primeira versão de Chicago. O título original da peça era The Brave Little Woman, que teve boas críticas quando foi produzida em 1926. Seguiram-se duas adaptações para o cinema: Chicago, filme mudo de 1927, e Roxie Hart, estrelado por Ginger Rogers em 1942. Embora a sátira falasse de lugar e época específicos, a história de Maurine Watkins sobre assassinato e manipulação da mídia provaria ser profética e atemporal.
Em 1975, os veteranos da Broadway John Kander, Fred Ebb e Bob Fosse adaptaram Chicago, que se tornou um musical de sucesso. As lendas do palco Gwen Verdon e Chita Rivera deram vida a Roxie e Velma, respectivamente. Mais uma vez funcionou o apelo do casamento de sedução e assassinato.
Mas a história de Chicago é mais que uma história atemporal. As letras e melodias de Kander e Ebb realçaram a universalidade da inteligente peça. A coreografia de Fosse trouxe a marca registrada da sensualidade. "John Kander e Fred Ebb são heróis americanos no campo do teatro", afirma o produtor executivo Neil Meron ao falar da importância da colaboração do trio para Chicago. E continua: "Uma boa canção, com uma bela letra e uma bela melodia consegue passar no teste do tempo. Acho que esses adjetivos se encaixam bem nas letras e melodias de Chicago: são alegres, inteligentes, sarcásticas, sensuais e ácidas. Funcionam agora, funcionarão no futuro, funcionarão daqui a muito tempo e vão funcionar quando se distribuir o vídeo por todo o mundo".
A Miramax Films comprou do produtor Martin Richards os direitos para filmar o musical de John Kander, Fred Ebb e Bob Fosse em 1994, e iniciou o árduo processo de transformar a festejada produção teatral em filme. Apesar da popularidade e do sucesso da adaptação e do elenco, o trabalho se mostrou mais difícil do que o imaginado. "Toda a produção de palco foi criada como um vaudeville. Essa era a maior dificuldade de trazer a ação para o cinema, pois um canta para o outro. Na maioria dos musicais você vê os atores cantando um para o outro. Não cantam para a platéia, não há platéia. Há a quarta parede", explica Rob Marshall.
Mas Marshall pensou numa maneira de eliminar a quarta parede. Ele já tinha experiência com musicais, já havia trabalhado com os produtores executivos de Chicago Neil Meron e Craig Zadan nas aclamadas e premiadas produções para a televisão Cinderella e Annie, pela qual Marshall ganhou um Emmy. Ele também co-dirigiu e coreografou a nova versão da Broadway de Cabaret (vencedor de um Tony), de John Kander e Fred Ebb, com o diretor de Beleza Americana, Sam Mendes.
Marshall reuniu-se com Meryl Poster, co-presidente de produção da Miramax, para discutir a possibilidade de trabalhar com o estúdio numa possível adaptação para o cinema de Rent. Mas o ousado diretor e coreógrafo aproveitou para expor suas idéias sobre Chicago. Meryl Poster recorda: "Ele estava confiante no nosso primeiro encontro, mostrou-se interessado". Depois de ouvir a concepção de Marshall para o filme, Meryl Poster o levou ao escritório de Harvey Weinstein para uma reunião de duas horas. Meryl Poster conta: "Ele conseguiu a solução. Tínhamos falado com tantos roteiristas e diretores, mas caíamos nos mesmos problemas. Num instante, Ron descobriu a fórmula". Ao mesmo tempo, Rob Marshall esteve com a produtora Mary Richards, que apoiara fortemente sua carreira teatral e gostou de suas idéias.
A idéia de Rob Marshall era transformar os números musicais em projeções imaginárias da protagonista, Roxie Hart. O filme existiria em dois planos: a realidade da Chicago da "era proibida" e o que Marshall chama o "surrealismo" da interpretação que Roxie faz desse mundo.
"Tínhamos de conceber uma forma de envolver a platéia sem quebrar a quarta parede, como acontece no teatro. Roxie é quem sonha no filme. Ela é aquela que "quer ser", que faria qualquer coisa para estar em cena. Vê sua vida nas seqüências musicais. Torna-se uma história linear que vai e vem entre essas duas realidades. Assume-se o fato de que todos esses números acontecem no palco em vez de se tentar disfarçar", ele esclarece.
Impressionados com a idéia, Weinstein e Richards mandaram seguir adiante. A Miramax e Rob Marshall começaram a difícil busca pelo melhor roteirista para essa nova visão de Chicago. "Entrevistamos gente de teatro, do cinema e da TV. Quando estive com Bill Condon, sabia ter encontrado uma pessoa como eu, que ama musicais. Ele adorava o texto e sabia instintivamente como fazer dele cinema", relata Marshall.
Meryl Poster completa: "Em última análise, estava claro que Bill era o nome certo para Chicago. Ele abraçou a idéia de Rob ao mesmo tempo que deixava nela sua marca. O conceito era muito criativo. Não era um musical à moda antiga".
"Era interessante em todos os aspectos e o mais engraçado é que eu jamais escrevera um roteiro", Bill Condon lembra. E prossegue: "Tratava-se de escrever um musical para o cinema e trabalhar com Rob, que tem uma carreira de peso. Ele trabalhou com lendas como Jerome Robbins e Harold Prince. Aprende-se muito cada vez que se escreve e eu tinha a chance de aprender com um mestre que aprendera com outros mestres, tornando-se, assim, um mestre também".
Condon se sentia desafiado com a idéia de redesenhar totalmente a adaptação da Broadway, mas sabia que o projeto demandava um toque delicado. Ele comenta: "Decidido que criaríamos dois mundos, o desafio era dar à personagem de Roxie Hart uma complexidade psicológica, sem atenuar a personagem ou trair seu modo de ser. Ela é ambiciosa, centrada em si mesma, mas há algo nela que irradia simpatia".
A inovação também deu ao escritor a oportunidade de realçar personagens de apoio e pincelar o musical com impressionantes seqüências visuais. "A lanterna agressiva de um detetive se torna um suave ponto de luz. Repórteres gritando numa entrevista se tornam marionetes que dançam, comandados pelo matreiro advogado de Roxie", revela Bill Condon. E ressalta: "É um conceito simples, mas podia ter dado errado se Rob não o tivesse executado de forma tão hábil".
Para os envolvidos no projeto, Chicago é um triunfo do amor, uma produção de quase 80 anos. O roteirista observa: "Como adoro teatro e Rob é um profissional da área, não acho que o resultado será uma 'hollywoodização'" de um grande texto teatral. Foi feito com o mesmo amor e respeito da gente de teatro".
Apesar de suas várias versões e das alterações que ocorreram, os temas originais de Chicago vão parecer verdadeiros para a platéia. Basta lembrar os diversos julgamentos de celebridades para que se veja que Roxie, Billy e Velma são parte do nosso ambiente legal contemporâneo. "A corrupção de nossas instituições legais e a patologia da adoração das celebridades são temas que encontram sua expressão ideal no desespero e na alegria de seduzir o público", diz Condon.

"No caso de você querer começar de novo
todo aquele Jazz"

Uma vez resolvido que se usaria o engenhoso texto de Bill Condon, teve início a busca por Roxie. Embora as brilhantes alterações de Condon e Marshall tenham feito com que Chicago passasse a fluir, as mudanças também tornaram o papel de Roxie mais complexo. Seus desejos, sonhos e monólogos internos tinham de ser mostrados. "O melhor é que tínhamos Renée Zellweger para o papel. Ela preenchia os diversos aspectos que queríamos para Roxie", afirma Condon.
Em sua carreira tão diversificada, Renée Zellweger foi mãe solteira em Jerry Maguire ? A Grande Virada, uma garçonete obcecada por novelas em Enfermeira Betty, uma jornalista que por um golpe do destino tem de voltar a morar com os pais em Um Amor Verdadeiro, uma mãe adotiva suicida em White Oleander, e a divertida solteira de O Diário de Bridget Jones. Rennée Zellweger não estava marcada pelo mesmo tipo de papel. "Os produtores e o diretor de Chicago não ficaram surpresos em descobrir que a pequena texana tinha uma voz potente e sabia dançar muito bem.
Meryl Poster declara: "Renée era a escolha certa e pronto. Temos um ótimo relacionamento e eu sabia que ela podia cantar e dançar. Já sabia que era uma atriz brilhante. Tinha de tê-la no filme".
O diretor Rob Marsahll é só elogios para a atriz: "Ela adora um desafio, adora trabalhar duro e experimentar pela primeira vez algo novo. Ela é assim, uma moça corajosa e é uma atleta. Sabe usar o corpo e tem movimentos graciosos. O vocabulário da dança era um tanto novo para ela, mas o estilo, a sensibilidade e a coordenação ela já possuía".
"Pensei que nunca haveria outra Roxie Hart", admite o produtor Martin Richards. E continua: "Ninguém se igualou a Gwen Verdon até Renée, e agora ela dá uma nova e diferente dimensão ao papel. Estou profundamente impressionado. De verdade".
Richard Gere, que faz o desonesto advogado Billy Flynn , credita o sucesso da personagem a Renée. Embora Roxie viva quase o tempo todo no mundo da fantasia, é o toque de humanidade que Renée lhe dá que faz a personagem plausível. "Renée traz algo de comovente a Roxie e o faz de modo inexplicável. Todos ficarão emocionados", diz Gere.
"Não cresci assistindo a musicais", diz a modesta Renée Zellweger. E acrescenta: "Não tinha por que cantar, a não ser no chuveiro, com meu irmão me implorando para calar a boca".
Renée, porém, não deixou escapar a chance de usar as ligas de Roxie. "Ela é tão determinada e ao mesmo tempo tão desesperada e trágica. Procura a fama a todo custo pelo que acha que pode lhe proporcionar - auto-estima, auto-respeito, autovalorização, amor. Tudo o que ela não tem. Pensa que será adorada pelo público como Velma, que será uma pessoa mais completa. A triste realidade é que isso é uma ilusão".
A atriz não economiza elogios ao diretor: "Seu entusiasmo era contagiante. Ele nos encorajava, era positivo e tinha um ótimo humor. Sua bondade fazia com que todos tivessem prazer em trabalhar. Você realmente queria dar o melhor de si para agradá-lo".

"Simplesmente não posso
fazer isso sozinho"

A primeira atriz escalada foi a entusiasta de musicais da Broadway Catherine Zeta-Jones, como a diabólica cúmplice Velma Kelly. A primeira a ser convidada, a atriz dividiu com o diretor o entusiasmo na reunião de um grupo de atores diversificados e talentosos. Ela recorda: "Foi fantástico ser a primeira do elenco. Robby telefonou dizendo, 'Adivinhe quem eu acho que conseguimos: Renée Zellweger!' E eu respondi, 'Meu Deus!' 'Adivinhe quem mais conseguimos: Richard Gere!' 'Meu Deus!' 'Adivinhe quem talvez trabalhe no filme: Queen Latifah!' 'Meu Deus!' É um elenco fantástico".
Para a atriz, Chicago foi a realização de um sonho de infância. "Quando era menina, sempre quis atuar no teatro, cantando e dançando. Era obcecada pelos musicais da época de ouro de Hollywood. Adoraria ter vivido na época de Fred Astaire e Ginger Rogers".
"Ela está à vontade aqui, pois canta e dança muito bem. Quando aprendemos as coreografias, eu ficava um pouco atrás e copiava seus passos, prestando atenção ao que fazia. Ela tem muita vivacidade e sua energia é contagiante. Quando ela entra é impossível não notar. Ela brilha em toda a tela", diz Renée Zellweger da companheira de elenco.
O fato de Catherine Zeta-Jones apreciar musicais e seus anos de estudo a levaram ao West End londrino, onde ainda bem jovem desempenhou um papel em 42nd Street. Embora familiarizada com o mundo do teatro, tinha de aprimorar seus talentos. "Catherine trabalhou à exaustão para dar o seu melhor, assegurando-se que tudo ficaria perfeito. Machucou-se e se arranhou, assim como todos os outros", revela Martin Richards.
Catherine ficou feliz em ver seu amor por musicais contagiar os demais. "Era interessante ver a equipe quando filmávamos os números. Eu via os câmeras, os assistentes e os carpinteiros acompanhando com a cabeça, assoviando e cantando junto. Acho que musicais levantam o astral das pessoas", diz ela.
Contudo, a atriz observa que Chicago não se parece muito com os musicais que amava na infância. Ela comenta: "O que gosto em Chicago é que ele é perigoso, sensual e morbidamente engraçado. Existe a noção de que todo musical é bonitinho e superficial. A longevidade de Chicago se deve à sua agudeza e profundidade, que o tornam diferente. A história permanece atual porque todo o mundo luta por aqueles quinze minutos de fama. Todos são fascinados pelo culto à celebridade e há pessoas tão ávidas que farão qualquer coisa para atingi-la".

"Queremos Billy,
nos dêem Billy"

"Foi horrível ficar quatro dias no colo de Richard. Detestei", brinca Renée ao falar do filme que fizeram juntos, Both Reached For The Gun. E completa: "Ele canta, sapateia, é um ator fantástico, bonito de se olhar, e toca piano. Tem tantos talentos que isso chega a ser ridículo".
Richard Gere, assim como Catherine Zeta-Jones, também era familiarizado com musicais e com as produções do West End, tendo estrelado no papel de Danny Zuko uma produção do West End de Grease.
"Gostei do trabalho de Rob", diz Gere quanto à decisão de assinar contrato para o filme. E acrescenta: "Recebi o roteiro que Bill Condon escreveu e o achei inteligente. Achei interessante usar a fantasia de Roxie justaposta à dura realidade de um assassinato em Chicago nos anos 20. E ainda havia a música fantástica".
"Acho que a parte mais interessante, no entanto, é a viagem dessa moça", ele continua. "Ela realizou tudo a que se propôs, mas está completamente sozinha. Essa é a parte mais tocante da história. As pessoas lidam com raiva, cobiça, inveja e solidão. São temas eternos".
Rob Marshall lembra: "Confiei nele. 'É o perfeito Billy Flynn', pensei. E tinha razão, ele é mesmo. Dei sorte, ele foi incrível. E ele também adorou. Gostou da alegria e do companheirismo". Meryl Poster concorda: "É um papel talhado para Gere, caiu como uma luva".
Rob Marshall convidou a coreógrafa Cynthia Onrubia para treinar Gere no sapateado do personagem. Marshall já trabalhara com ela em produções como Damn Yankees, Victor ou Victoria e Cabaret.
"Cynthia foi uma grande professora. É uma das grandes sapateadoras da Broadway e ensinou muitos dançarinos ruins como eu. Começamos aos poucos e ela foi sensacional. Quando conseguimos o ponto certo, nos divertimos muito", conta Gere.
"Nunca vi ninguém suar tanto em toda minha vida. Foi como em 'A Força do Destino'. Mais flexões!", brinca Marshall.

"Quando você é bonzinho com a mamãe,
mamãe é boazinha com você"

"Adorava ver antigos musicais quando era criança. Vi A Noviça Rebelde e mil outros filmes desse tipo", diz Queen Latifah, que faz o papel da diretora Morton. E prossegue: "Era como fazer uma viagem na filmagem de uma outra terra. Acho que o último filme musical que me impressionou foi The Wiz. Fiz o papel de uma cantora em Living Out Loud, mas nunca estive num musical. Quando soube que Chicago ia virar filme e quem iria trabalhar nele, quis tentar conseguir o papel. Não tinham pensado em mim para interpretar a personagem, mas lutei pelo papel".
Depois de três testes, Latifah estava no elenco. "Tudo com Mama é na base do 'toma lá dá cá' Ela é durona, mas consegue o que quer", diz Latifah sobre a personagem.
Embora tivesse experiência em canto e dança, havia desafios a vencer. "Tínhamos ensaiado o número 'When You're Good To Mama'. No dia anterior à filmagem, eu disse a ela, 'Estou refazendo o número. Em vez de colocar você no palco, vou colocá-la na casa. Vai ficar mais lascivo.' Ela me olhou atravessado e disse, 'Isso é sério, não é?' E eu confirmei", ri Marshall ao lembrar. "Ela agiu com a disciplina de um soldado e deu conta do recado".
"Queen Latifah é uma atriz surpreendente. Está dando nova dimensão ao papel, reinventando-o sem quebrar o ritmo. Ela é totalmente convincente e traz seu humor, talento e brilho a Mama Morton", diz Neil Meron, um dos produtores executivos.

"Porque você pode ver através de mim,
caminhar ao meu lado,
e nunca saber que estou ali"

Acerca da escolha de John C. Reilly para o papel de Amos, Neil Meron comenta: "Ele nos mandou sua versão de 'Mr. Cellophane' e conseguiu o papel. É a escolha perfeita".
Reilly, que destaca o fato de ser o único ator que é realmente de Chicago, diz que seu amor por musicais vem da infância. "Há algo de puro quando se conta uma história pela música. Adoro musicais e parece que estou voltando para casa, pois aprendi a ser ator através dos musicais".
O ator, contudo, ficou receoso em relação ao personagem. "Deu um pouco de medo porque, mesmo tendo feito vários musicais quando criança, nunca tinha feito profissionalmente. Era uma tarefa e tanto. Você tem de ter habilidades diversas para fazer um bom trabalho", admite ele.
Em última análise, a confiança de Marshall em Reilly lhe deu condições para fazer o papel. "O bacana em Rob era sua confiança inabalável e seu incrível bom gosto. Ele consegue tirar o melhor das pessoas. Ele nos deixava à vontade, o que era importante, pois alguns de nós não éramos profissionais em musicais. Com sua experiência de coreógrafo ele compreende a linguagem da dança, do movimento, da música e dos atores, além de ter uma grande noção visual", elogia Reilly.
"A confusão da conferência de imprensa"
Rob Marshall escalou para o papel de Mary Sunshine a amiga de longa data Christine Baranski, que ele dirigira na montagem teatral de Promises, Promises. Tradicionalmente, nas versões para o teatro de Chicago, um homem em andrajos fazia o papel do repórter Sunshine. Marshall justifica a mudança: "Mary Sunshine tem de existir de forma verossímil tanto na realidade do filme quanto no mundo surrealista de Roxie. Não ia funcionar se fosse do mesmo modo que aconteceu no palco. E Christine Baranski é fabulosa e perfeita para o papel. Nós dois tivemos de criar a maneira de fazê-lo. Ela, Bill e eu criamos essa repórter sensata que escreve histórias sentimentais para jornais. Mas trabalhamos com a idéia de ela ser tão corrupta quanto todos os outros".

"Vá para o inferno!"
"Perguntaram se eu faria um papel pequeno e eu disse que sim, naturalmente", diz Lucy Liu sobre sua decisão de participar do filme. Ela é Kitty, socialite que se torna uma assassina e cujas ações ameaçam roubar a publicidade de Roxie e Velma. "Eu vi a montagem teatral e a achei incrível. Fiquei impressionada com o quanto era sensual e atual, mesmo escrita há tanto tempo. Assassinato, crime, amor, fama. Tudo isso é atual. Misturar música a isso não pode dar errado!", ela completa.
Em papéis menores estão Colm Feore, Dominic West, e Taye Diggs. Em 2002, Diggs teve o prazer de participar da montagem de Chicago na Broadway como Billy Flynn.

"Ele sabia o que estava por vir
E só podia culpar a si mesmo"

Embora Richard Gere, Christine Baranski e Catherine Zeta-Jones tivessem bastante experiência em musicais, todo o elenco concordou em ter um intenso período de ensaios e treinos. Na verdade, os dois meses de ensaio antes do início das filmagens foram um pouco como um acampamento musical de soldados.
"Tínhamos professores de dança para nos ajudar com a coreografia. Íamos de ensaios de dança aos de canto e para os ensaios de texto", lembra Latifah. "Foi um bocado de trabalho no início, mas tornou tudo mais fácil".
"Era como estar na escola. Havia o primeiro tempo, que era a aula de canto. Eu me encontrava com Elaine na sala de piano, onde Richard treinava sapateado e enquanto Catherine estava ensaiando 'All That Jazz' no outro andar. Fazíamos um rodízio. Era fantástico", descreve Renée Zellweger.
Rob Marshall comenta: "Trabalhamos duro no processo de ensaios. Eles se empenharam, todos eles. Catherine queria voltar a suas raízes. Estava inteiramente à vontade em frente a um espelho com bailarinos em toda parte. Ela estava no paraíso. Para Renée tudo era novidade, mas ela trabalhava duro. Foi um intensivo relâmpago para ela, que estava maravilhada. Richard também foi incrível. Ele adorou fazer. Adorou a alegria e o companheirismo existentes".
E ele acrescenta: "O que você consegue com ensaios dessa natureza por seis semanas é uma verdadeira companhia. Uma companhia com Queen Latifah, John C. Reilly, Christine Baranski e todos aqueles bailarinos maravilhosos. Poderíamos levá-los para o palco!"

"É bom. Não é sensacional?
Não é o máximo? Não é alegre?
Não é…?"

"Gravamos todos os vocais de quinze canções em uma semana, o que não é muito. Cada um trouxe seu estilo específico às canções de seus personagens e suas experiências como atores. Foram todos excelentes. Trabalhar com tantos talentos era o sonho de um supervisor musical", diz Maureen Crowe, coordenadora musical da frenética sessão de pré-gravação de Chicago.
O elenco aprimorou a coreografia de Rob Marshall durante os fatigantes dias de 14 horas. O treinamento não tinha terminado quando a filmagem principal começou. Os ensaios, durante a produção, eram inclusive aos sábados, quando o elenco se reunia para trabalhar os números a serem filmados na semana seguinte. Marshall coreografava meticulosamente cada dança para dar a ela a natureza da cena e conectá-la sem emendas à "realidade" que a precedia.
"Cada número tinha seu caráter e personalidade. Fizemos pesquisa para incorporar danças dos anos 20. Alguns números foram inspirados em peças de vaudeville e mesmo em filmes", conta o coreógrafo Joey Pizzi. E exemplifica: "Vocês verão o Charleston em 'Reach for the Gun', o tango em 'Cell Block Tango', Ziegfeld Follies em 'All He Cares About Is Love', Sophie Tucker no número de Queen Latifah 'When You're Good To Mama', Showboat no número de Renée 'Funny Honey', e King of Jazz na última cena com Catherine and Renée, 'Nowadays'".
Todos os números de dança são composições originais de Rob Marshall. Pizzi e seus colegas, a coreógrafa assistente Denise Faye e a coreógrafa associada Cynthia Onrubia, junto com o supervisor de dança John DeLuca, têm trabalhado com Marshall há muitos anos.
"Onde o gim é gelado, mas o piano é quente"

Compondo a maior parte do vaudeville de Roxie, as fantasias do showbiz se passam num palco imaginário chamado Onyx Club. O desenhista de produção John Myhre criou um cenário original, ricamente detalhado para funcionar como peça central do filme.
Ele conta: "Sabíamos que o Onyx seria um cenário importante, já que ali aconteceriam todos os números musicais. Rob tem um fantástico conhecimento dos teatros de Nova York; mandou-me ir a alguns teatros e notei que vários tinham similaridades arquitetônicas que Rob e eu apreciávamos. Eram apertados, com balcões que quase se projetavam sobre o palco. Rob me mostrou o trabalho de um artista chamado Reginald Marsh, que fez as belas pinturas dos teatros de Nova York nos anos 30. Eram pinturas compactas. Em todos os níveis, compactas e cheias de detalhes".
Com os camarotes dourados, as cortinas carmim com barra de ouro e as luzes âmbar piscando e oscilando à volta de mesas de ébano, Myhre criou o ambiente perfeito para dar vida à imaginação de Roxie. Mas o Onyx era um cenário prático, com um palco largo o suficiente para acomodar uma trupe de bailarinos e com o espaço para o diretor de fotografia Dion Beebe acomodar sua equipe de câmeras, manejar trilhos de carrinhos, mover-se numa grua etc.
"Como todos os números musicais refletem a imaginação de Roxie, tínhamos um meio de sobrepor esses dois mundos. Tentamos fazê-los o mais sem costura possível. Uma virada de cabeça ou um acender de luzes levarão você ao outro mundo. A imaginação de Roxie é como se fosse uma fuga através do sonho. Ela oferece a oportunidade única para traduzir a visão do diretor de maneira livre", observa o diretor de fotografia.
O trabalho de câmera de Beebe tem fontes diversas, dos filmes clássicos ao vaudeville e ao teatro experimental. Ele e Marshall deliberadamente tentaram evitar o formato wide-screen típico dos filmes musicais. "Houve muitos debates sobre se deveria ou não ser anamórfico. Resolvemos que não. Os cenários foram inspirados nas pinturas de Reginald Marsh, que são mais verticais que horizontais. Os cenários eram compactos e cheios de gente. Queríamos manter essa superlotação, a atmosfera condensada. Essa sensação se refletiu também no palco, braços, pernas e corpos dos bailarinos entrelaçados. Tentamos capturar toda essa sexualidade no fotograma", comenta Beebe.
"Dion Beebe foi o meu braço direito. É um verdadeiro artista, com surpreendente noção de cor e luz. Ele sabe como encantar, mas também sabe como contar uma história", diz Marshall.
Rob Marshall chamou seus colegas do mundo do teatro, os famosos iluminadores Jules Fisher e Peggy Eisenhauer para colaborar com Beebe na iluminação do "palco" do Onyx. Fisher, que já recebeu sete prêmios Tony, fez a iluminação de mais de150 montagens da Broadway e do circuito off-Broadway.
Entre seus créditos está a produção original da Broadway para Chicago. Sua parceira Peggy Eisenhauer colaborou com Marshall numa nova versão de Cabaret e ambos emprestaram sua mágica para o filme Chicago.
"Os técnicos de iluminação eram uma boa parte da nossa equipe e o trabalho deles deu uma nova dimensão ao filme. O design da iluminação foi muito específico e complexo", elogia Beebe.
Jules Fisher e Peggy Eisenhauer também trabalharam junto com Marshall, Beebe e Myhre não apenas para e decidir sobre uma série de movimentos de luz, como também quanto à paleta de cores. Peggy Eisenhauer comenta: "Escolher cores, para nós, é meio intuitivo. Muito vem de trabalhos que fizemos anteriormente, sabendo quando o rosa devia ser um pouco mais intenso porque traduz um certo sentimento. Tentamos realmente não usar cores modernas, escolhendo tons que teriam sido comuns naquela época".
E Fisher acrescenta: "Houve também a influência de Reginald Marsh. Tentamos captar aquela espécie de brilho teatral, quente, com pouca luz, que se vê numa pintura de Degas. Dion usou isso para dar mais efeito todo o tempo. Ele era capaz de tomar o que fizemos e adequar ao filme, de modo a captar as nuances e sutilezas da luz teatral".
"Alise o cabelo e
use seus sapatos de fivela"

A figurinista Colleen Atwood pesquisou a arte e o estilo dos anos 20, selecionando elementos de moda, art déco, Bauhaus e cubismo para criar os deslumbrantes e sensuais figurinos de Chicago. "Embora se trate de um filme de época, também é teatral. Nós interpretamos a época com uma sensibilidade moderna", ela explica.
Collen Atwood enfrentou, ainda, o desafio especial de desenhar as roupas "reais" e "imaginárias" e cada número exigiu um guarda-roupa em sincronia com o tema da rotina correspondente.
"Depois de falar com Rob, entendi que o principal objetivo era separar o mundo da imaginação do mundo no qual os personagens viviam. Minha direção inicial e minha inspiração vieram da observação do ensaio de cada número de dança, para ver que espécie de movimento combinava com cada canção. O que é interessante sobre Chicago e o que é interessante para mim como figurinista é que cada número é uma entidade em si mesmo", diz Atwood.

Porém, os figurinos não eram só específicos em relação a cada número musical: as roupas também espelhavam a personalidade de cada personagem. "Os perfis na história são revelados e expostos de diferentes maneiras. A personalidade de Roxie era mais complexa porque a vemos no mundo real e vemos depois todos os outros através de seus olhos nas fantasias. Para seu mundo real, usei uma paleta de tons quase cor da pele. Mas as cores de sua fantasia eram mais fortes e vibrantes", diz a figurinista.
"Velma começa o filme como uma personagem muito forte e permanece assim; então, suas cores são intensas. Ela é completamente destemida", ela completa.
Rob Marshall conclui: "Colleen Atwood fez figurinos surpreendentes. Ela possui uma visão sensacional, específica, que era exatamente o que eu queria. Entendeu a liberdade e a sexualidade da época. Ela sabia o quanto de pele tinha de ser mostrado".

"Boa noite, pessoal"

Por Edinho Pasquale