(e-mail do leitor Walter Henrique M. Vieira na íntegra)
A maioria das gerações de brasileiros e grande
parte de pessoas das gerações atuais cresceram
e continuam crescendo assistindo na televisão a filmes
americanos, sejam seriados ou longas-metragens, na grande
maioria das vezes dublados em português, o que sempre
facilitou em muito a compreensão e o acompanhamento
da trama e/ou história. As vozes utilizadas nos filmes,
principalmente com aquelas dublagens feitas nas décadas
de 60 e 70, se tornaram por demais familiares aos televisivos
e
apaixonados pelo cinema, como se fosse uma marca registrada,
tendo marcado em muito os bons momentos vividos por cada
pessoa. A dublagem em si baseia-se no pressuposto lógico
de que FILME NÃO É PARA SER LIDO E SIM PARA
SER VISTO.
Um filme estrangeiro legendado exige do telespectador
um acompanhamento simultâneo de leitura e imagem,
o que, além de deixar muitas pessoas irritadas com
essa duplicidade de atividades -leia-se desdobramento de
atenção- e muitas vezes, inevitavelmente,
implicando fazer a pessoa perder o caminhar e o sentido
do enredo do programa, ainda tem a lamentável possibilidade
de vir a causar enfraquecimento da vista, já que
as letras de tamanho reduzido exigem do telespectador forçar
a visão. É muito comum, após assistir
um filme na tela de televisão, seja de 20, de 29
ou de 34 polegadas, sentir um certo ardor nos olhos e dificuldade
de visualização das imagens com a nitidez
normal de uma pessoa sem problemas visuais. Tal dificuldade
permanece por algum tempo, sendo, inclusive, o fator causador
de fortes dores de cabeça.
No início da década de oitenta, quando do
advento do videocassete no Brasil, a maioria dos filmes
vendidos pelas distribuidoras de home vídeo vinham
legendados, mesmo tratando-se de filmes que há haviam
sido exibidos com dublagem pelas tvs abertas, o que causava,
para alguns, certa insatisfação e descontentamento
com a empresa/distribuidora de filmes. Para crianças,
pessoas
de idade avançada ou para analfabetos era impossível
assistir um filme legendado. Lembro-me que vez ou outra
apareciam certas discussões em torno da validade
(importância) ou não da inclusão de
legendas em uma fita de VHS. Haviam críticos que
defendiam esse procedimento por ser a tradução
mais fiel e outros que entendiam que a qualidade da dublagem
brasileira era perfeita, mesmo que em alguns casos houvessem
distorções no sentido da frase. Ainda me lembro
de uma situação que ocorria muito comumente
na década de oitenta, no que concernia as vendas
e locações de fita de vídeo: desenhos
animados, indicados para crianças na faixa de idade
de 4 a 8 anos de idade, vinham com legendas, como se aquelas
já fossem exímias conhecedoras da língua
portuguesa.
Ao final dos anos oitenta, algumas distribuidoras famosas
passaram a disponibilizar fitas tanto com legendas, como
com dublagem, ficando ao livre arbítrio e gosto do
usuário escolher aquela com a qual melhor se adaptava
ou que o melhor possibilitava assistí-la com satisfação,
qualidade essa necessária para um espectador se sentir
bem diante de uma televisão. Essa mudança
de
atitude de algumas distribuidoras possibilitou ao locatário
ou dono de uma fita de vídeo a escolha da forma de
audição/entendimento da história contida
em um filme. Como não são todas as pessoas
nesse país que dominam o idioma inglês, não
é justo que às mesmas seja imposta a PENA
DA LEITURA DE UM FILME, principalmente quando tal filme
já dispõem de dublagem feita pela excelente
qualidade técnica do corpo de dubladores brasileiros.
A própria dublagem, desde que de boa
qualidade, já deveria ser considerada como uma espécie
de obra de arte, já que tal atividade não
é simples de ser realizada. Um exemplo disso é
o de que muitas vozes utilizadas em filmes e seriados antigos
acabaram se encarnando, ao menos para para os brasileiros,
nos atores que estrangeiros que atuavam/atuam nesse filmes.
A qualidade e a adaptação perfeita das vozes
dos
profissionais brasileiros que atuam nesse processo de dublagem
acabou por criar saudades em muitas gerações.
Essas mesmas pessoas, quando da chegada dos aparelhos
de DVD no Brasil, acabaram se decepcionando com a constatação
de que, apesar de toda a tecnologia inserida neste tipo
de aparelho para visualização de imagens perfeitas
e para a escolha de idiomas e de legendas, muitas distribuidoras
estrangeiras desprezaram a existência de boas dublagens
brasileiras, e por
conseguinte do próprio idioma português, nos
mesmos filmes que outrora foram exibidos em televisão
ou em cinemas. É lamentável constatar que
uma grande produtora americana, detentora de excelentes
filmes que marcaram e que continuam marcando época,
ao lançar no Brasil um filme no formato digital,
o faz sem nosso idioma - na modalidade de dublagem-, porém
em outros, além do original. Tudo aquilo que foi
criado pelas possibilidades tecnológicas do DVD,
como a inserção de oito idiomas em um único
disco, acabou não sendo aproveitado por muitas distribuidoras
que aportaram em território brasileiro e que continuam
insistindo em desprezar a inserção de nossa
língua, mesmo já existindo há vários
anos a respectiva dublagem e ainda em boa
qualidade, o que não demandaria a necessidade de
confecção de novas dublagens, um elevado trabalho
a menos.
Quando uma pessoa é aficionada por determinada
atividade que lhe dá prazer, como assistir a um filme
que num certo passado ou mesmo em tempo recente lhe causou
encanto, alegria e regozijo, isto fica incutido em sua mente
por muito tempo, o que o faz sonhar e planejar em um dia
vir a adquirir tal filme, para efeito de repetição
daquele bom momento. Essa pessoa sempre fica à
espera do lançamento desse filme, antes em VHS, e
hoje em DVD.
Minha intenção foi esta quando adquiri um
DVD Player há 2 anos atrás: comprar bons filmes
que assistira no passado e outros da atualidade, de preferência
com dublagem no idioma nacional. Não estou aqui reclamando
pela inexistência de dublagens em todos os filmes
lançados no território brasileiro em formato
digital pois sei que esse encargo seria por demais oneroso
para
empresas/distribuidoras menores, o que além disso
demandaria um encarecimento no preço final ao consumidor,
fazendo com que os preços dos dvd´s dessas
empresas ficassem superiores aos das grandes produtoras.
Também não estou exigindo que as grandes produtoras
dublem todos os filmes - o que para a grande maioria dos
brasileiros seria o ideal pois a eles ficaria
resguardado o direito de escolha, podendo assistir a um
filme com legenda, com dublagem em português ou no
idioma original-, mas sim que ao menos busquem e aproveitem
as dublagens que aqui já existem, seja há
muitos anos já confeccionadas, ou que se valham daquelas
bem recentemente feitas para filmes novos. O que não
tem sentido é não fazer ser inserido num bom
filme uma boa dublagem, simplesmente desconsiderando que
ela já existe.
Não colocar à disposição do
público brasileiro um filme com dublagem em seu idioma
é desconsiderar a tecnologia e a opção
de escolha no momento de assistí-lo. É impor
a ele um hábito que para a distribuidora poupa tempo
na busca de dublagens já existentes e na inclusão
de vozes, o que não ocorre em países de primeiro
mundo. Nos tempos do VHS já se tentou solucionar
esse problema vendendo cópias com dublagens e cópias
com legendas no idioma original porque viu-se uma certa
insatisfação das
pessoas. Com a chegada do DVD era ao menos de se esperar
que isso não mais viesse a ocorrer pois a tecnologia
digital atual tem tudo para suplantar essa dificuldade,
fazendo inserir diversos idiomas e de legendas. Ou seja:
o DVD é o instrumento adequado para se agradar `todas
as tribos´, pois quem não gosta de filme na
versão com legendas seleciona a dublagem e quem não
gosta de assistir filmes nessa versão seleciona o
idioma original. Assim, percebe-se que o disco digital acaba
propiciando uma espécie de democratização
televisiva, sem imposição da maneira de o
assistir.
Algumas distribuidoras têm colocado à disposição
do público dvd´s com a versão dublada
em português -inclusive antigas, mas com excelente
qualidade de áudio, iguais àquelas que assistíamos
primeiramente na tv-, além do tradicional idioma
original, o que caracteriza comodidade e respeito para com
a pessoa que o assiste. É o caso da FOX e da COLÚMBIA
PICTURES, com poucas
exceções ao contrário. Grande parte
do acervo dessas distribuidoras -inclusive seriados- tem
sido editado em DVD´s, respeitando-se a vontade de
muitos aficionados, observando-se as referidas inclusões.
Por outro lado, a WARNER BROSS HOME VÍDEO, realizadora
de muitos filmes que marcaram épocas e que deixaram
saudades, acabou por privilegiar, além do idioma
original, a dublagem em espanhol, isso quando inserida,
desconsiderando totalmente, assim, a dublagem nacional já
existente, perfeita em todos os sentidos. E não se
diga que seus filmes já vêm preparados do exterior
com
esse tipo de inserção, não sendo possível
o acréscimo da dublagem brasileira. É só
observar que o fabricante do DVD, o qual providencia a duplicação
dos filmes em DVD, fica em território nacional; por
isso, até esse momento seria possível a distribuidora
atuar no sentido de possibilitar a referida inclusão.
Ao se proceder dessa forma, temos a impressão de
que as distribuidoras estão impondo àquelas
pessoas que não dominam o idioma inglês e que
nem têm obrigação de conhecer outra
língua o dever de ir atrás desse conhecimento,
se quiser assistir um filme; caso contrário, como
ocorre com a maioria dos brasileiros, terá que LER
O FILME, sem a comodidade que teria caso
esses DVD´s viessem com a dublagem brasileira.
Provavelmente mais uma das desculpas que elas poderão
vir a utilizar em uma eventual ´defesa´ dos
argumentos aqui expendidos deverá ser o fato de alguma
suposta´impossibilidade técnica´ para
se fazer a transposição de dublagens antigas
para o meio digital, mas essa informação cai
por terra simplesmente pela existência de dublagens
antigas em DVD´s de outras distribuidoras. E justamente
aquelas mesmas dublagens que estão gravadas em nossas
memórias já há longos anos.
É muito cômodo para a distrib., ao receber
a matriz do DVD já toda preparada do país
de origem, apenas ter o trabalho de providenciar a tradução
da embalagem, do menu interativo e incluir as legendas em
português. Feito isso, já colocam à
venda o produto por igual ou superior preço ao de
outras que tiveram a boa vontade em inserir a dublagem.
O questionamento que ora trago ao conhecimento de vocês
é muito importante inclusive para se tentar evitar,
no futuro, que excelentes filmes e seriados antigos -até
mesmo séries completas- já lançados
nos EUA sejam editadas no Brasil sem dublagem. A ausência
de dublagem torna por demais enfadonho e cansativo assistir
a um filme, a não ser para aqueles que entendem
´completamente´ o idioma inglês, inclusive
com as gírias. Tem que se ter em mente que quem compra
ou aluga um filme não está a fim de ler e
sim assistir imagens e ouvir -e compreender- o que se passa
ao mesmo tempo.
Um bom seriado que já foi lançado completo
nos EUA e que provavelmente breve o será aqui é
´Além da Imaginação´, produzido
entre as décadas de 50 e 60. A dublagem brasileira
da cópia já exibida na televisão é
perfeita, apesar de já conter alguns ruídos.
Mas mesmo assim é um desperdício não
aproveitar o que aqui já foi feito e deixar de lado
esse importante acessório que
engrandece um entretenimento televisivo.
Muitos críticos de cinema são contrários
as dublagens por entenderem que ela não é
a fiel tradução do áudio de um filme,
que ela deturpa o real sentido do enredo, etc. Isso para
eles é fácil de dizer, já que conhecem
o idioma inglês. Mas por essa opinião particular
e pessoal de cada um deles, é justo que para a maioria
das pessoas no Brasil -que não têm conhecimento
dessa língua- não se coloque à disposição
o simples e democrático critério da ESCOLHA??
Um filme em DVD tem essa particularidade, a de
que, desde que tecnologicamente aproveitados -pela distribuidora-
todos os recursos postos à disposição,
já existentes, é possível agradar a
TODAS AS TRIBOS. Não se há mais alegar, como
faziam no passado, nos tempos do VHS, que a inserção
de uma dublagem pode ´danificar´ o sentido da
compreensão e o verdadeiro intuito do autor quando
realizou o filme.
Nesse sentido deve ser considerado que a tecnologia propicia
um avançar PARA A FRENTE, ao passo que a inexistência
dela implica imaginar situações ocorridas
no passado, quando a menção ou imaginação
de uma probabilidade de efeitos incríveis, propiciada
hoje pela referida tecnologia, soava apenas como ficção
científica. Anos atrás o simples fato de se
dizer que um filme inserido em um disco poderia conter diversos
idiomas e legendas postos á disposição
do telespectador, conforme a sua escolha, poderia parecer
coisa impossível ou imaginária. Inconcebível,
então, o fato de certas distribuidoras se recusarem
a possibilitar ao consumidor brasileiro um maior conforto,
já que a opção de muitos telespectadores
é pelo áudio em seu idioma.
A inclusão de uma dublagem em idioma latino -espanhol-
não é desculpa para se deixar de inserir dublagem
brasileira mesmo porque muitas palavras não têm
semelhança com o português . A dublagem em
espanhol já vem pronta do exterior -EUA- onde existem
muitos latinos americanos, ficando fácil demais para
a distribuidora APENAS ENVIAR PARA CÁ A MATRIZ DO
FILME. Aqui chegando sequer procuram ter o bom senso de
descobrir a existência do áudio em português,
que normalmente já
existe há muitos anos.
Nem mesmo a supressão do som estéreo na
dublagem brasileira, se antiga, é razão para
se omitir a referida inserção. Se a pessoa
quer assistir em estéreo tem a opção
de passar para a legenda, mas O IMPORTANTE É TER
OPÇÕES E NÃO IMPOSIÇÕES
QUE ACABAM POR TORNAR ESSA PRAZEROSA ATIVIDADE EM UM MOMENTO
DESCONFORTANTE. Seria importante que se estabelecesse uma
espécie de cadastro nacional de filmes com dublagens
existentes, sejam antigos ou recentes. A partir daí
o consumidor
teria conhecimento da existência e a distribuidora
se sentiria educadamente forçada a proporcionar opções
a ele.
Recentemente a Warner colocou à venda (DVD) um
filme de guerra em episódios que fez muito sucesso
na tv a cabo nos EUA. Trata-se de ´Band Of Brothers´,
com duração total de 13 horas, porém,
como a maioria de seus filmes, com dublagem em espanhol
e legendas em português, além do idioma original.
Assistir a um filme excelente como este, de longuíssima
duração, porém sem a opção
do áudio em português, é tarefa uma
tarefa que irrita o consumidor, a não ser para aquele
que dispõe de
conhecimento de idiomas e que está a fim de colocá-lo
em prática.
Abaixo seguem alguns dos títulos que, apesar de
já terem dublagens na versão exibida na televisão
brasileira, algumas distribuidoras fazem questão
de desprezá-las quando colocados à venda em
DVD:
Verão de 42 (Summer of 42)
Memphis Belle, a Fortaleza Voadora (deste, inclusive, foi
retirado um documentário de época acerca das
Fortalezas Voadoras, o qual consta na versão americana
da Warner)
El Dorado
Bullit
Os Filhos de Katie Elder
Além destes existem muitos outros, bastando apenas
uma simples pesquisa em sites de vendas. Aos poucos fui
constatando mais esse desaforo de que somos vítimas
e acabei direcionando as compras dos dvd´s em relação
apenas àqueles que estão dispostos com versão
dublada em português. Com isso acabei deixando de
comprar bons filmes Deixei de comprar.
Há pouco tempo acessei o site da Warner para expor
os motivos que me levaram a redigir este texto, porém
não existe um campo específico para envio
de mensagem. Gostaria que os argumentos aqui narrados fossem
levados ao conhecimento dos leitores dessesite para, se
possível, motivar neles a necessidade de se exigir
das distribuidoras a inclusão de dublagem em português
e,
por via de consequência, modificar as diretrizes das
mesmas no que diz respeito a ausência deste idioma
na modalidade áudio.
Walter Henrique M. Vieira
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