Nesta segunda parte da entrevista foi concedido um tempo para algumas perguntas dos jornalistas:
Q: Obviamente, a batalha é um evento que a gente ficou surpreso quando foi lançado ano passado, mas eu queria fazer uma pergunta para a Sigourney Weaver, porque é a primeira vez que a gente vê essa talentosa atriz no nosso território, então eu não posso deixar de perguntar algumas coisas. Você tem uma carreira na ficção muito intensa. Você fez toda a série Alien, você fez Galaxy Quest, particularmente um filme muito divertido, e o que representa para a sua carreira essa nova tecnologia desenvolvida pelo sr. James Cameron pro trabalho de atriz?
R [SIGOURNEY WEAVER]: Bem, antes de tudo eu só gostaria de agradecer. É muito empolgante estar no Brasil, eu sempre quis vir aqui e eu estou muito entusiasmada. Amanhã iremos para a Amazônia também, então, obrigado por nos receber. Eu tenho sido tão extraordinariamente sortuda por fazer parte de histórias que se tornaram filmes maravilhosos neste gênero da ficção-científica. Para mim não são apenas grandes filmes de aventura, são filmes pessoais sobre o bem e o mal, sobre o certo e o errado, sobre humanos e alienígenas. Mas acho que esse filme – e estou encantada por todos nós de Galaxy Quest; nos permitiu fazer parte de um grupo, porque eu acredito mesmo ser uma maravilhosa ficção-científica. Mas Avatar para mim é – apenas assistindo-o hoje – quase toda cena me faz chorar e não sou uma pessoa melosa. Eu acho o filme tão comovente, tão arrasador, tão envolvente e eu me recordo do Jim dizendo na Comic-Con que a ficção-científica é bem uma investigação sobre o que é ser humano. São nestes lugares distantes, em outros tempos, que conseguimos assistir e descobrir o que a humanidade realmente é. Então sinto que como um gênero nós precisamos mais do que nunca; nós o encontramos mais instigante do que nunca e, também, como pudemos ver em Avatar, possui a oportunidade de trazer consigo uma mensagem para o nosso clima, para que possamos reaprender certas coisas. Sobre como é fácil, como pode ser tentador – por causa de empresas grandes ou sei lá – destruir a natureza antes mesmo que comecemos a experimentá-la, descobri-la, conhece-la pelo que ela é, conhece-la pelo que pode dar para o mundo. Ter respeito por outras espécies, ter respeito por outros mundos, então... me sinto muito honrada em fazer parte do que é realmente o maior filme – e falo dramaticamente – de qualquer um que eu já tenha feito.
Q: Gostaria de perguntar – se todas as pessoas na mesa gostariam de falar – que o Avatar é um grande entretenimento ninguém tem dúvida, mas ele tem também um outro lado. O lado que eu acho que vocês também estão representando aqui – da conscientização política e ambiental; e o James Cameron chegou no Manaus, esteve lá tentando evitar inclusive que seja construída uma usina hidrelétrica. Então eu gostaria de saber desse papel do filme e de vocês, como pessoas com um grande poder de mídia, e até que ponto um filme como este pode transformar a consciência das pessoas e principalmente dos governantes?
R [JAMES CAMERON]: Esta é uma pergunta interessante. Nós não sabemos realmente o poder do filme em termos de controlar consciência pública. Acho que todos temos uma noção de que filmes possuem o potêncial de mudar a discussão pública, de mudar a sua consciência; eu permaneço esperançoso que filmes podem fazer uma diferença na forma como as pessoas encaram suas vidas e como encaram o mundo ao seu redor. Eu acho que é muito importante. Um filme antes de tudo precisa conseguir entreter; número um. As pessoas precisam ir ao Cinema e o filme precisa puxá-las e envolve-las em uma experiência com a qual conseguem se relacionar, com a qual possam ter uma resposta emocional. Então número um: você precisa entreter. Número dois: você precisa construir uma conexão emocional para os personagens. A esse ponto, número três: eu quero dizer alguma coisa. Eu quero dizer algo que fundamente todo o filme, que tenha um significado maior; e eu sinceramente acredito que isso faz parte do entretenimento para uma grande parte da audiência. Acho que algumas pessoas não se importam, querem embarcar na atração e ver a ação, querem ver o design e querem ver o mundo. E as outras pessoas querem ter um diálogo intelectual com si mesmos, com o filme e com outras pessoas após terem assistido o filme. E não quero dizer altamente intelectual, só querem pensar; pensar sobre o que o filme significa, como ressoa com cada um.
E eu realmente acredito que Avatar não seria tão bem sucedido como é, ao redor do mundo, se não tivesse atingindo cada um de seus objetivos. Não poderia acertar quatro de cinco categorias, e ter esse tipo de sucesso. Então claramente o material temático; a porção idealizada do filme – seja esta a mensagem ambiental, a mensagem espiritual ou mesmo o olhar que lança sobre a natureza humana – é uma importante parte do filme, e claramente foi bem sucedida. E eu encaro isso com esperança; que pessoas em todos os cantos estão realmente prontas para estas idéias, especialmente talvez o público mais jovem. Nós todos sabemos os fatos; sabemos sobre o aquecimento global, sabemos sobre a necessidade de reciclar, sabemos sobre poluição e todas essas coisas. Temos todos estes fatos. Avatar não nos dá nenhum fato sequer, apenas te dá uma reação emocional à como a natureza nos vê. Porque, ao fim do filme, você acompanhou a jornada de Jake e você virou e agora olha para a espécie humana e como ela age com seus tratores e as bombas e o desrespeito pela natureza, pelos direitos de povos indígenas e sabedoria de povos indígenas. E causa na audiência uma reação que lhes permite sair de si mesmos e olhar para trás e dizer: wow, é verdade, estamos realmente fazendo isso e me deixa sentindo triste e com raiva. Eu vejo a árvore cair e vejo o despedaçar de coração das pessoas. Eu acho que essa é uma forma de inserir algo no diálogo público que não consegue ser feito de outra forma. Você pode ter gente sentada em fóruns e em congressos e discutir dilemas e são muitas palavras – mas não há emoção. E a dor sentimental do filme pode te dar um contexto emocional para estas coisas. Então sim, eu gostaria de ser esperançoso e acreditar que Avatar realmente consiga fazer uma diferença – e ao redor do mundo, porque todo país tem diferentes dilemas mas no fundo são todos os mesmos problemas. América possui os mesmos dilemas, Canadá, Brasil, Indonésia, Rússia, China, França... são todos os mesmos dilemas: que é o fato de acreditarmos que nos apropriamos da natureza e de que podemos fazer com ela o que quisermos, sem qualquer noção de que precisamos também oferecer algo em retorno, ter uma responsabilidade para com a natureza.
O mesmo vale para como empurramos os povos indígenas do caminho, porque eles já fazem parte da natureza e não são da nossa sociedade técnicamente civilizada que deve progredir e precisa estar constantemente movendo-se para frente – maior P.I.B e maior crescimento econômico. Então... eu acho que Avatar é uma forma de ter esse diálogo em termos emocionais e não nos termos específicos que deixam as pessoas sentindo, sabe, culpadas ou ameaçadas ou atacadas. Essa é a minha esperança, como cineasta. Obrigado pela pergunta.
Q: Eu queria perguntar para o James Cameron e o Jon Landau, porque essa primeira versão em DVD está sendo lançada exclusivamente com o filme? Porque que não tem nenhum extra, como normalmente acontece, né? Queria saber se vai haver posteriormente um novo lançamento com um pouco mais do processo de produção do filme ou de repente outro tipo de extras.
R [JON LANDAU]: Novamente, como mencionei mais cedo, o que quisemos fazer com este lançamento inicial é apresentar a maior qualidade possível de imagem. A cada item novo que você adiciona, você está tirando do que você pode apresentar na tela. Este é um fator. Outro fator é que queremos fazer o conteúdo adicional da forma certa. E precisamos de tempo para realizar isso. Há uma demanda no mercado agora para o DVD sair, e vamos preencher essa necessidade e levar um tempo para fazer o conteúdo adicional de forma adequada, para que possamos expor as pessoas ao que houve por trás das câmeras na filmagem do filme. Adicionalmente, as pessoas que comprarem o Blu-ray ou DVD agora terão a oportunidade de se inscreverem online e nos próximos meses receber informações exclusivas sobre o por trás das câmeras, de forma interativa. Então achamos que será o melhor de dois mundos para o cosumidor.
R [JAMES CAMERON]: Bem, só quero adicionar a isso: como diretor do filme, eu queria inserir no mercado o que eu considero como sendo a versão definitiva do filme. Esta é a versão do diretor. Não haverá uma versão do diretor que incluirá cenas adicionais. Eu não sou um diretor insatisfeito que foi forçado pelo estúdio a fazer o filme menor. Nós cortamos o filme na medida que achamos melhor. Agora, dito isso, há muita coisa legal que tiramos do filme e eu quero sim reintegrar tais cenas para os fãs do filme que não se importarem com uma exibição mais prolongada. O que as pessoas precisam lembrar é que cenas como essas, que são CG, levam muito tempo para ficarem prontas. Nós geralmente as cortamos do filme antes mesmo de finalizadas na computação gráfica. Então para reintegrar tais cenas – e estão trabalhando nelas neste momento, em Wellington, Nova Zelândia; estão trabalhando furiosamente, finalizando estas cenas ao nível de foto-realidade que você espera, para que encaixem no filme adequadamente; e não poderemos oferecer isso ao público até Novembro. E, francamente, as pessoas queriam Avatar – e queriam agora – e não íamos segurar o lançamento do DVD até Novembro só para inserir cenas adicionais. Então vamos com a abordagem de duas faces para o lançamento.
Q: Eu queria saber, do James Cameron, o que ele acha dessa invasão do 3D que aconteceu depois do Avatar. Mesmo filmes que não foram feitos em 3D estão sendo convertidos para este formato.
R [JAMES CAMERON]: Acho que, obviamente, Avatar deixou Hollywood muito entusiasmada com o 3D. Eles já meio que estavam animados com o 3D, já haviam filmes em 3D antes de Avatar, mas eu acho que Avatar empolgou todo mundo com o potêncial comercial e acho que muitas pessoas exageraram e começaram a fazer conversões. Não quero dispensar a conversão como um possível processo porque queremos fazer Titanic, queremos convertê-lo. E fizemos testes que mostraram que isso pode ser realizado com a mais alta qualidade. Mas acho que quando você faz uma rápida conversão em poucas semanas, como fizeram em Fúria de Titãs – e eu não o assisti ainda, mas ouvi que o 3D não ficou muito bom – o filme pode acabar ficando melhor em 2D, e você pode aproveitá-lo neste formato. Acho que o 3D precisa ser tratado de forma séria pela indústria cinematográfica, como uma experiência especial de alta qualidade. Para se tornar uma experiência especial para as pessoas o estúdio precisa investir os recursos certos e a energia certa para realizá-lo. Para que pessoas não sintam que foram enganadas. Então, acho que se existem filmes que amamos, como Star Wars ou Tubarão ou Indiana Jones, ou algo do tipo, seria ótimo vê-los em 3D; gaste o dinheiro, faça da forma certa, faça a conversão como estamos fazendo em Titanic – mas se você quer realizar um filme em 3D a partir de agora, filme-o em 3D. Não filme-o em 2D e depois converta, isso é descaso.
R [JON LANDAU]: Jim, acho que as pessoas se confudem. 3D é um processo criativo, não um processo técnico. Quando você tenta mesclar alguma coisa junto em sete semanas, para enviar aos cinemas, só pode ser um processo técnico. Não será um processo criativo. E elaborando em cima do que você disse: você não filmaria um filme hoje em preto e branco e tentaria colorizá-lo em sete semanas.
R [SIGOURNEY WEAVER]: Em minhas conversas com cineastas, acho que porque Jim já fez isso, eles pensam: “nossa, deve ser muito, muito difícil” e eu realmente acho que Jim criou essas câmeras – inventou essas câmeras – que realmente, ao assistir a filmagem, agem como câmeras regulares mas acho que até para pessoas do mercado – diretores pensam: “ah, eu não sei como fazer isso, eu não sei como iluminar isso, não sei como mover a câmera, tanta coisa que eu não consigo fazer e não consigo achar um especialista”, quando na verdade – e eu posso estar errada – se você tiver a câmera certa é um processo bem direto.
R [JAMES CAMERON]: Sim, e é mesmo. Acho que tentamos fazer o novo sistema de câmera o mais fácil possível – podemos colocar a câmera em 3D nas mãos de qualquer um e no final das contas se você estiver realizando um filme sem muitos efeitos especiais, a filmagem em 3D nem é tão cara, só alguma porcentagem do orçamento. O interessante é que, o que realmente vai mudar é que quando a TV em 3D entrar nas casas, você verá muitas produções em 3D e essas câmeras serão usadas por mais e mais pessoas, até o ato de se filmar em 3D se tornar comum. Acho que toda essa questão da conversão desaparecerá a esse ponto. A única forma de ter 3D em casa, que agora foi apoiada por toda grande fabricante: Samsung, Panasonic, Sony, LG, Hyundai, provavelmente esqueci algumas; todas disseram que estão fabricando plamas em 3D em LED. O que alimentará as telas serão noticiários e programas de esportes – mas ali não haverá tempo de fazer conversão. Então terão que ser filmados com a câmera em 3D e quando chegarmos a esse ponto a indústria cinematográfica perceberá como a conversão é algo estúpido e fácil. Se os estúdios televisivos conseguem, nós podemos fazer filmes assim. Então acho que a conversão acontecerá por um curto período de tempo e acho que sempre exisitrá a possibilidade de pegar filmes clássicos que amamos e transformá-los em 3D – mas tem que ser feito corretamente e apenas se o cineasta que fez o filme estiver disponível para supervisionar aquele processo, assegurando que a qualidade permaneceu alta.
R [JON LANDAU]: A iniciativa de realizar tais conversões deveria vir do cineasta, não do estúdio.
R [JAMES CAMERON]: Com certeza. Estas são ótimas perguntas!
Q: Sobre as TVs de plasma em 3D; vocês tem já em mente o Blu-ray 3D? Tem uma estimativa de quando chega ao mercado?
R [JAMES CAMERON]: Claramente, as TVs estão chegando e queremos uma base de instalação maior, queremos que as pessoas comprem os aparelhos de Blu-ray. Agora, o interessante é que o lançamento em 2D do Blu-ray de Avatar está realmente puxando a venda de aparelhos de Blu-ray. Aqui está o exemplo: o título em Blu-ray mais vendido no Brasil – não sei o nome – vendeu 5 mil unidades. Enquanto isso, Avatar já pré-vendeu 35 mil unidades, desde já – e só sai dia 22. Então, claramente, as pessoas estão se atraindo mais pelo Blu-ray olhando para Avatar como o tipo de filme com o qual querem ter a melhor experiência possível. E isso está acontecendo em todos os lugares, está acontecendo em todos os mercados internacionais – incluindo nos Estados Unidos também. Então as pessoas são espertas e compram o Blu-ray já com o 3D incorporado, que já está disponível – pelo menos de alguns fabricantes. Então eles já se preparam para quando o Blu-ray em 3D de Avatar sair. Mas não estamos anunciando nossos planos em 3D agora, estamos esperando que tenham mais aparelhos nas casas das pessoas anteriormente. E meio que já estamos fazendo isso com nosso lançamento em 2D, de certa forma. Então avaliaremos isso e veremos como o mercado está e, sabe, anunciaremos sobre isso. Então acabará sendo um lançamento de três faces: a versão exclusiva com o filme, depois o box especial que será lançado em Novembro com 4 discos; que terá muito material complementar – muitas cenas dos bastidores e filmagens de nossa viagem ao Brasil, incorporado à temática do filme, haverá muitas cenas deletadas que serão incluidas; então esse box será ótimo para fãs e colecionadores. E depois disso, provavelmente nessa época, anunciaremos nossos planos para o lançamento da versão em 3D.
Q: Gostaria de saber como o sr. Cameron lida com o mercado da locação nos Estados Unidos, com tantas locadoras fechando. Aqui no Brasil nós lidamos com o problema da pirataria neste mercado.
R [JON LANDAU]: Eu acho que o mercado do home entertainment precisa continuar de olho em outros meios para vender seus produtos. Eu estava conversando com a equipe hoje aqui no Brasil e no momento estão surgindo outras formas. Temos o download pago e a compra do filme na TV por assinatura. Sempre haverá um espaço para o home entertainment dar certo. No momento, a qualidade que você consegue no disco Blu-ray te levaria uma eternidade para baixar; então não é prático, com esta qualidade. O home entertainment sempre vai existir e você sempre encontrará formas de encontrar êxito.
R [JAMES CAMERON]: Eu acho que existe um ponto relacionável para isso. A qualidade da experiência tem sido valorizada novamente. Anteriormente, nos últimos anos, as pessoas tem se revelado mais interessadas em acesso rápido; “o quão rápido eu consigo? Eu consigo baixar, consigo achar em pirata na qualidade de gravação no cinema para comprar? Assim, já posso saber como o filme termina e posso conversar sobre ele.” Mas acho que Avatar e filmes como ele, que são de alta qualidade e marcos do Cinema, conseguem trazer as pessoas de volta para as salas de Cinema. São também filmes que trazem de volta o conceito de se adquirir um produto de qualidade para que você possa ter em casa. Interessante apontar com Avatar é que é o filme mais bem sucedido da história, financeiramente, mas é também o filme mais pirateado da história. Então no mesmo momento que pessoas estão pirateando e conferindo o filme em baixa qualidade, estão também fazendo uma escolha consciente, indo conferi-lo nas salas de Cinema. E após dez semanas do lançamento, não perdemos o fôlego nas telas em IMAX, mas atingimos uma parede; as telas em IMAX a esse ponto estavam agendadas por Alice no País das Maravilhas e depois por Como Treinar o Seu Dragão. Até o dia em que perdemos as telas em IMAX, estávamos praticamente esgotando as salas de exibição. Então as pessoas ainda estavam aguardando na fila, com horas de antecedência, para poder desfrutar daquela experiência em uma sala de Cinema. Eu acho que a mesma mentalidade será transferida para o mercado caseiro. Já estamos comprovando isso pela quantidade recorde de Blu-rays adquiridos na pré-venda. Acho que veremos que as pessoas querem possuir esse produto de qualidade, para que possam ter a experiência especial em sua casa. Existem certos filmes que demandam isso e Avatar parece estar liderando isso. Então, contanto que as pessoas selecionem, pensando “eu não quero baixar/ter um produto de baixa qualidade pirateado, eu quero um produto de qualidade”. E eu acho que isso vai alavancar as vendas e locações, ainda que a pirataria mantenha-se viva em um efeito paralelo. Essa é a minha opinião.
Q: Queria fazer uma pergunta mais específica para o James, pra Susan e pro Joel – mas se o Jon Landau quiser responder, sem problemas. É sobre o sistema de captura de movimento; é um trabalho muito intenso, principalmente porque vocês fizeram no filme inteiro. Parece ser um trabalho muito difícil tanto para os atores quanto para a direção dos atores, porque você não está vendo nada – apenas o fundo azul. Gostaria que vocês falassem um pouco dessa dificuldade.
R [JAMES CAMERON]: Primeiramente, há um pouco de implausibilidade na sua pergunta. Nós usamos o fundo azul em algumas das cenas de live-action, mas as filmagens de captura de performance não envolvem o fundo azul. Toda a parte em CG do filme foi filmada em um espaço talvez duas vezes maior que este em que estamos, em uma sala totalmente vazia sem telas nas laterais, porque não houve fotografia. Estávamos capturando a essência das performances, então foi gravado apenas para fins documentais. O interessante da minha perspectiva é que não estávamos tendo que nos preocupar com iluminação, maquiagem, cabelo, figurino e nem sequer com cenário, a não ser por certas peças que os atores tocavam. Não tínhamos nenhum personagem extra, então menos uma preocupação. Então essa parte foi rodada de forma muito rápida. O que eu achava uma maior distração, como diretor, no meu trabalho com os atores e na abordagem dos personagens, não existia. Nada estava lá para distrair. Então você meio que representava isso como sendo algo estressante e difícil, mas acredito que nós achamos bastante fácil e divertido.
R [SIGOURNEY WEAVER]: Eu tenho que dizer que vivi em um número de eras da ficção-científica, de efeitos especiais. Do homem vestido de alienígena em Alien e depois o CGI prematuro – que eu como atriz e membro da audiência achei bem insatisfatório. Nesta sala vazia, era como se nós estivessemos em um ensaio de teatro, tudo girava em torno de sua imaginação. Jim nos mostrava fotos e ele tinha uma câmera mágica onde você via uma versão rebuscada da floresta por onde andávamos e o seu personagem – azul e gigante – interagindo com os outros. Foi uma experiência mágica e muito divertida. Uma das menos técnicas experiências que já tive. Muito orgânica, eu teria que dizer.
R [JOEL DAVID MOORE]: Acredito que o mais importante para se entender com o processo de captura de performance é que o Jim disse inicialmente. Nós não precisávamos nos preocupar com iluminação e câmeras, e isso faz alguma coisa com o ator. Nos impede de nos preocupar onde estamos em determinado espaço, simplesmente nos permite enfrentar qualquer um que esteja a nossa frente e realmente simplesmente atuar. E eu notei que, bem cedo – estávamos com estes rabos e orelhas e leva umas horas para você se acostumar com isso, você conta umas piadas e supera – mas aí você está aberto e livre e qualquer coisa que você está fazendo naquele espaço é certo. Não precisa se preocupar em se mover alguns centímetros para a esquerda por estar bloqueando a iluminação de certa pessoa, ou minha maquiagem não está boa e meu cabelo não está certo e eu sou uma gigante diva. Mas é. É um processo muito teatral e um processo bem libertador. E eu acho que não foi explorado ao máximo por causa da câmera virtual que o Jim usou dentro do mundo da captura de performance. E isso é muito importante, acho que será o futuro. E não está roubando nossos papéis. Está nos libertando a fazer coisas que talvez não conseguiríamos fazer antes.
R [JAMES CAMERON]: Interessante que, nem sei se foi uma controvérsia, mas acho que houve uma falta de conhecimento na comunidade dos atores diante do que estávamos fazendo. Eu acho que quando os atores descobrem o potêncial ficam muito entusiasmados. Eu sempre achei que vocês – e Sam [Worthington] e Zoe [Saldana] – estavam sempre tão felizes ao realizarem este trabalho. E eu esperava o oposto, que terem que usar aquele capacete na cabeça seria motivo de reclamação. E demorei para perceber porque. Quando você está em um set de filmagem – e vocês devem ter visto isso em vídeos de bastidores – você sabe que você tem que fazer a mesma coisa repetidamente. E muitas vezes você faz para obter cobertura adicional, como close-ups e tomadas amplas e duplas. E tudo isso para o mesmo momento. Então os atores precisam atuar o mesmo momento. Mas o ator não pode atuar o mesmo momento repetidamente. Para que seja completamente real tem que haver um componente emocional e às vezes o ator pode estar absolutamente perfeito na tomada errada, na ampla – e não conseguir recriar isso ao fazer o close-up, ou vice-versa. O interessante com a captura de performance é que não existe o trabalho com a câmera. Existe apenas a performance. Então é mesmo algo muito teatral. Nós adicionamos as posições da câmera e as tomadas depois. Então faremos várias tomadas, mas apenas para fins de atuação – não para propósitos técnicos. E isso é uma diferença bastante significativa. Eu defenderia a tese de que é uma forma de atuação bem menos superficial do que atuando para câmeras. Mas estamos acostumos a atuar para a câmera, porque fizemos isso por séculos. Então é o que sabemos. Ao passo que a captura de performance surge nova e exótica e soa técnica e parece que te distancia de uma resposta humana verdadeira. Mas eu acredito que é o contrário, que te leva para isso de forma mais rápida, como um processo mais honesto.
R [SIGOURNEY WEAVER]: Jim iria até conseguirmos uma grande tomada master da cena e depois toda a informação ficaria nos computadores. Ele poderia voltar outro dia, sozinho, sem qualquer ator, e fazer todo o processo adicional – os close-ups e as tomadas duplas. Estava tudo lá. Apenas tínhamos que acertar maravilhosamente uma vez. E não consigo pensar em qualquer diretor de personagem que não adoraria resgatar este conceito de ficção-científica e fazer filmes. Você gasta tanto tempos se preocupando com ângulos...
R [JAMES CAMERON]: Esta foi uma boa pergunta. Obrigado.
Q: Cada vez que a gente começa a rever a obra de sua carreira vemos que existe uma evolução a cada filme e a gente só descobre vendo o novo filme. E deste novo filme sempre tem elementos – ou alguns elementos – que foram praticamente estudados nos filmes anteriores. A gente vê O Exterminador do Futuro e depois vemos O Segredo do Abismo – que eu acho um grande filme, sempre foi subestimado. Tem elementos ali que a gente vê depois sendo trabalhados. Então por isso eu dou parabéns, esse é um trabalho que atinge o ápice da tecnologia e causa uma evolução e uma revolução ao mesmo tempo. Mas a pergunta é mais em tom – pode parecer ironia, mas não é, isso tudo foi um elogio. Quando a gente lembra do início de sua carreira, com Piranhas 2, já naquele momento o senhor imaginava algo do tipo: “eu sou o rei do mundo, mas as pessoas não sabem ainda”?
R [JAMES CAMERON]: Sua pergunta estava indo tão bem... você tinha que colocar Piranhas 2 e “eu sou o rei do mundo” ali dentro né? Obrigado, foi uma pergunta bem elogiosa. Quando eu comecei, comecei trabalhando com Roger Corman fazendo filmes de muito baixo orçamento. E eu estava empolgado em fazer filmes, estava empolgado em receber um salário por fazer filmes. E todos fazíamos parte de um grupo, e cada um estava ali para fazer alguma coisa – edição, aprender a dirigir – e não questionamos que trabalho de direção queríamos. Então Piranhas 2 surgiu – nem foi do Roger, foi de uma companhia de ainda menor orçamento – e simplesmente foi uma oportunidade para dirigir. E eu queria apenas aprender a dirigir, não estava pensando em uma trajetória futura. Não, naquele ponto eu não imaginaria que eu chegaria ao ponto onde estou agora. Você mencionou outra coisa – que nós atingimos o topo do nível com a tecnologia e realmente acho que isso é verdade. Sim, podemos fazer alguns pequenos aperfeiçoamentos, mas chegamos a um ponto onde a nossa imaginação é a única limitação. E acho isso ótimo. Não preciso mais me preocupar com o lado técnológico do filme. Da próxima vez que eu for realizar um filme já vou saber que tenho toda as ferramentas que preciso. Só vou ter que contar uma boa história, e isto é empolgante. Nós gastamos muito tempo com Avatar na criação de câmeras e no sistemas de captura de performance e nas câmeras virtuais, e da próxima vez não terei que fazer tudo isso novamente. Dá próxima vez podemos apenas nos divertir e contar uma ótima história.
(Fotos: Edinho Pasquale/Divulgação. Tradução: Wally Soares)