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Esta entrevista foi concedida ao nosso editor musical, Robson Candêo, por telefone, direto da casa do artista.

DVD MAGAZINE – Caro Branco Mello, gostei muito do novo trabalho de vocês, é um DVD de qualidade e o show é nota 10. Por que a gravação do show ocorreu em Florianópolis e de quem foi a idéia de gravar no castelo?

Branco Mello – Olha, a gente queria gravar o DVD em um lugar bacana, ao ar livre, que fosse especial. A gente já tinha feito o acústico no Teatro João Caetano que é um lugar super bacana e agora queríamos um lugar ao ar livre. Tentamos em São Paulo em alguns lugares mas não conseguimos viabilizar um lugar diferente. Quando nós fomos para Florianópolis, porque temos amigos lá, uma amiga levou a gente para conhecer a Fortaleza e achamos o lugar lindo. Fizemos um contato e os responsáveis acharam a ideia ótima e fomos muito bem recebidos por eles. Por isso investimos com tudo e fizemos o show lá. Foi difícil de montar a estrutura, tivemos que conversar com a MTV e com a Sony e teve toda uma organizacao especial para organizar o evento lá porque é um lugar histórico com capacidade máxima de pessoas, não podia ter bebida alcóolica, etc. A própria MTV gostou muito da idéia de fazer um show lá. E também a relação da gente com Florianópolis e Santa Catarina ajudou muito porque temos amigos lá e gostamos muito da cidade.


DVD MAGAZINE –
O Titãs começou como uma banda de rock, que foi abraçada pelos punks por causa de suas músicas de protesto. Depois de alguns anos, meio que esquecidos pela mídia, vocês gravaram o Acústico MTV que deu uma virada na carreira de vocês, e conquistou também o público que gosta de um rock mais light. Agora neste MTV ao vivo a impressão é que a banda quis agradar tanto os fãs antigos como os mais recentes, estou certo?

Branco Mello – Eu acho que mais ou menos... Sempre que a gente faz um trabalho, queremos mais agradar a nós mesmos, desde o nosso primeiro show no Sesc Pompeia em 82. Quando fizemos o acústico foi uma coisa enorme e ficamos dois anos negociando porque era estranho para nós fazer um acústico com violinos e tudo o mais. Quando abraçamos a idéia, investimos então tudo para o acústico e fomos atrás do nosso sonho. Apesar de estranho para nós, o acústico fez muito sucesso, surpreendendo a todos nós e a própria MTV que nunca tinha vendido tanto. Nesse outro disco estamos gravando um repertório nosso hoje, é o que estamos tocando nos nossos shows e retrata o Titãs hoje, com os cinco integrantes sozinhos no show, é o show que estamos desenvolvendo há alguns anos. Se ele agradar ao mais light ótimo, se agradar ao mais punk ótimo, mas a ideia mesmo é que agrade primeiro a gente. Desde o início sempre fomos assim, por isso temos fases muito diferentes, porque sempre nos permitimos tocar o que queremos.


DVD MAGAZINE –
Vocês já tiveram algum problema com policiais, políticos ou alguma classe devido às críticas em suas músicas?

Branco Mello – Já tivemos, mas não sei se devido às críticas nas músicas. Já tivemos como é público, desde o começo. O Arnaldo foi preso, tivemos problema por causa de drogas nos anos 80, na época do Cabeça Dinossauro tivemos protestos de várias instituições, Igrejas enfim, mas esperamos ter a liberdade de falar tanto de amor quanto da violência pois vivemos em um país com liberdade de expressão.


DVD MAGAZINE –
Uma das músicas que está no CD/DVD é Cabeça Dinossauro, que traz três frases que não parecem dizer alguma coisa, mas é muito querida pelos fãs. De onde surgiu essa música?

Branco Mello – Essa musica surgiu de uma mistura de coisas: Cabeça Dinossauro eu falei em um ônibus uma vez. O Paulo Miklos estava tocando violão fazendo a trave musical. Aí eu e o Paulo fizemos Pança de Mamute e o Arnaldo Antunes que estava dormindo lá na frente, ouviu e falou Espírito de Porco. Ao contrário do que você está falando, pra gente fez todo o sentido ainda mais musicalmente, e ela tem tanto sentido que virou conceito do disco que se chamou Cabeça Dinossauro que tem a capa com esboços do Leonardo da Vinci. A música então tomou forma e as pessoas acabam entendendo essa aparente falta de nexo que faz todo o sentido dentro do nosso trabalho.


DVD MAGAZINE –
Vocês vão sair em turnê pelo Brasil agora?

Branco Mello – A gente vai começar agora em Belo Horizonte no dia 19 de novembro e vamos sair com o nosso cenário que fizemos para a Fortaleza e vamos colocar o show no Brasil como ele foi realmente gravado.


DVD MAGAZINE –
São mais de 23 anos juntos, qual a fórmula para uma carreira tão longa?

Branco Mello – Eu acho que ela não existe ainda, é uma coisa que foge da nossa compreensão, e claro que podemos ter algumas idéias, mas é muito difícil saber como isso dá certo. É uma quimica passar uma vida juntos fazendo música e vivendo juntos e ter a vida musicalmente exposta. É dificil dizer como isso se dá.


DVD Magazine -
Vocês não têm rusgas de vez em quando?

Branco Mello – A gente tem muita discussão desde o início justamente por não existir liderança dentro da banda, e todos terem poder de decisão. Com certeza sempre discutimos muito e as divergências aparecem, mas somos inteligentes o suficiente para administramos isso e convivermos com os problemas que apareçam, e talvez isso seja um dos dados dessa fórmula que você me perguntou anteriormente.


DVD MAGAZINE –
Vocês tem alguma mágoa de algum grupo, apresentador de televisão ou emissora?

Branco Mello – Não, pelo contrário, temos muito carinho por todos os apresentadores que conhecemos, alguns há muitos anos como o Raul Gil e o Fausto Silva, considero que nós já fazemos parte dessa história da televisão.


DVD MAGAZINE –
Quais são as novas bandas que te agradam no cenário do rock nacional?

Branco Mello – Eu acho bacana essas bandas novas. Hoje em dia elas têm um cuidado com toda a parte de som, a parte técnica, etc. Eu prefiro não citar uma em específico, mas acho que tem muito mais bandas e artistas legais do que espaço para elas, pois só algumas aparecem.


DVD MAGAZINE –
Quais são os planos do Titãs para o Futuro?

Branco Mello – O nosso plano primeiro é lançar esse show e continuar na estrada levando esse espetáculo para o Brasil inteiro. Queríamos ter um registro oficial em DVD do momento da nossa carreira atual tocando eletricamente, com as guitarras falando alto, o som do baixo, o som das vozes. O único registro ao vivo que tínhamos era o Go Back que não tem DVD, então acho que a gente ficou muito feliz com o resultado desse DVD, porque o acústico fez muito sucesso, foi uma venda estrondosa e dificilmente alguém vai conseguir alcançar a marca dele, só que faltava um registro da coisa mais próxima da essência da banda, esse DVD é mais coerente com a nossa história como banda mesmo.

Entrevista concedida a Robson Candêo em 08/11/2005