Comparar o cinema simplório e televisivo de Guel Arraes
com a articulação cerebral da direção
de Jorge Furtado é demonstração de miopia
crítica em matéria de cinema. Assim como parece
evidente que a ingenuidade da discussão metalingüística
proposta por Arraes em Lisbela e o prisioneiro (2003) –a
jovem vivida por Débora Falabella é fã
de cinema assim como Mia Farrow o era na obra-prima de Allen—só
na aparência evoca o que Woody Allen fez em A rosa púrpura
do Cairo (1985), um mergulho crítico na fantasia de sétima
arte.
Ocorre que Lisbela e o prisioneiro é o mais bem acabado
dos trabalhos de Arraes lançados nos cinemas. Todos os
atores exuberam. O bem feito de um cinema comercial não
deixa de convencer o público (qualquer público,
incluindo o mais sofisticado) de que ele deve comover-se com
a ingênua história de amor interiorana.
Sim: o filme nasce dum texto teatral do grande escritor Osman
Lins e conta com a mãozinha de Jorge Furtado no roteiro,
que ainda tem os nomes do diretor Arraes e de Pedro Cardoso.
Mas a narrativa segue o modelo de tantas hoje em dia, de Hollywood
a seus quintais: emocionem-se comigo e depois podem jogar-me
no lixo do esquecimento.