Esta matéria é dedicada aos críticos
que vieram antes de 1950 e também aos que vieram depois,
amigos pessoais, colegas e àqueles conhecidos só de
leitura - e aos que ainda virão.
Dois nomes foram responsáveis por fases diferentes de
nossa experiência no jornalismo crítico.
No início, na revista A Cena Muda (54) seu editor, Jonald
- que era o pseudônimo de Oswaldo de Oliveira, também
crítico de teatro e balé, casado com a dançarina
clássica Beatriz Consuelo. Jonald fundou a Associação
Brasileira de Cronistas Cinematográficos e dirigiu dois
filmes, Estrela da Manhã (1948-50 ) e Dentro
da Vida (51).
Rubem Biáfora, a quem devemos (juntamente com o engenheiro
e documentarista Rubens Rodrigues dos Santos), o trabalho em
O Estado de São Paulo a partir de 1965. Paulistano,
crítico de filmes desde 1935, em jornais escolares.
Depois, em jornais e revistas, como A Platéia e O
Dia,
em 1940; revista Inteligência, em 46; O Jornal de
São
Paulo, 1947; A Folha da Tarde, a partir de 1948 e depois O
Estado de SP. Um dos fundadores do Clube de Cinema local, em
46, que
depois se tornaria a Cinemateca Brasileira. Escreveu roteiros
para televisão (na extinta Tupi) e dirigiu os longas
Ravina (58), O Quarto (68) e A
Casa das Tentações (75). E um curta, Mário Gruber (66). Um rebelde às
imposições das modas, mas sem deixar de reconhecer
a grandeza de nomes como Alain Resnais, King Vidor, Bergman,
Antonioni, Sternberg. No Brasil, um Paulo César Saraceni,
um Ruy Guerra, e reconhecer ou descobrir novos talentos.
Prólogo
Perto do final do século XIX, em 1896, ocorreram no
Brasil as primeiras sessões de cinema.
Numa delas, apresentada à imprensa a 22 de dezembro
de 1897, estava o contista e teatrólogo Arthur Azevedo,
nascido no Maranhão e autor de A Capital Federal.
Para o jornal O País ele escreveria, na grafia da época:
"- Estive anteontem no Salão Paris e não
perdi meu tempo: é realmente divertidíssimo o
Animatógrapho
Super Lumière, pela entontecedora variedade das suas
photographias. Todas me agradaram, todas, mas nenhuma como
as coloridas, quem reproduzem, com uma precisão extraordinária,
as danças serpentinas de Loie Fuller, ou do diabo por
ella. Aquillo é bom... e é barato. Compete agora
ao público animar o animatógrapho."
Estava aí uma das primeiras manifestações
de juízo de valor, de registro de impressões
ou da crítica de cinema como a conhecemos. A gênese
do espectador profissional, que é o crítico.
Essa definição não é nossa, mas
concordamos! É da amiga Carmelinda Guimarães,
ao referir-se a ela mesma, numa de suas críticas na
coluna de teatro de A Tribuna de Santos, da qual é titular.
Em 1916, o carioca Pedro Lima já escrevia sobre cinema
em muitos jornais e revistas, como A Noite, Correio da
Manhã,
Fon-Fon, O Cruzeiro e Diário de São Paulo, entre
outros. Fundou vários cineclubes e foi o diretor de
produção de Barro Humano, em 1929, clássico
de Adhemar Gonzaga. Em 1929 o poeta Guilherme de Almeida assinava
somente com a inicial G, sessão de crítica de
filmes de O Estado de São Paulo. Guilherme costumava
usar muito palavras em inglês. Por exemplo, continuity
(continuidade), cast (elenco). Também o escritor Otávio
de Faria fazia crítica de cinema, em jornais como Correio
da Manhã e na revista O Fã, editada por um cineclube,
o Chaplin Club. Adhemar Gonzaga também fazia crítica,
fundou a Cinearte, a primeira revista do gênero no Brasil.
Escreveu também para A Cena Muda e em Palcos
e Telas.
Outro redator da Cinearte era o roteirista, cinegrafista
e documentarista Jurandyr Passos Noronha, mineiro, autor do
livro
Nos Tempos da Manivela.
Anos 30-40, mini-cadastro
Alex Viany, ou na vida civil, Almiro Viviano Fialho. Correspondente
da revista O Cruzeiro em Hollywood (45-48), edita com Vinicius
de Moraes a revista Filme (48). Atuou como crítico até a
década de 70, para A Cena Muda, os jornais Última
Hora e Jornal do Brasil. Dirigiu os filmes Agulha
no Palheiro, Sol Sobre a Lama, A Noiva da Cidade, e o episódio Ana, de Rosa dos Ventos, entre 52 e 75;
Benedito J. Duarte, crítico militante de 1946 a 56,
um dos fundadores do Foto-Cine Clube Bandeirante e da futura
Cinemateca Brasileira. Importante figura do cinema documentário
como realizador de filmes médico-cirúrgicos e
de pesquisa científica.
Carlos Ortiz, paulista, crítico da Folha da Manhã (47
a 52), assinando a coluna Cartilha do Cinema, editada
em livro depois. Professor e um dos fundadores dos Seminários
de Cinema do Masp. Autor de vários livros, como O
Romance do Gato Preto, sobre cinema brasileiro, dirigiu Alameda
da Saudade 113, produção independente baseada em
fato sobrenatural ocorrido em Santos. No Rio realizou Luzes
nas Sombras, sobre a luta contra o câncer.
Francisco Luiz de Almeida Salles, afetuosamente chamado Presidente
- foi um dos fundadores da Cinemateca Brasileira, de onde foi
um dos conselheiros. Crítico de O Estado de São
Paulo e Diário de São Paulo.
Moniz Vianna (prenome Antoni), formado em medicina, foi crítico
de O Correio da Manhã a partir de 1946, do qual depois,
foi redator-chefe. Também, um dos organizadores (e diretor)
da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio.
Paulo Emílio Salles Gomes, nos anos 40, fez parte
do grupo que originou a revista Clima. Dirigiu a Filmoteca
do Museu de Arte Moderna (MAM) de São
Paulo, em 1954, e fundou a Cinemateca Brasileira. Roteirista,
autor do livro Jean Vigo, em 57, e colaborou no Suplemento
Literário de O Estado de São Paulo de 59 a 63.
Publicou um último livro em 77, intitulado Três
Mulheres de três PPPês, que inspirou o filme Ao
Sul do Meu Corpo, de Paulo Cesar Saraceni.
Salvyano Cavalcanti
de Paiva, começou a escrever a partir de 1942, em A
Cena Muda, e em Manchete, Diário do Rio, Correio da
Manhã. Fundador e diretor do Círculo de Estudos
Cinematográficos, do Rio.
Van Jafa, pseudônimo de José Augusto Faria do
Amaral. Baiano, escreveu para jornais locais, depois no Rio,
em A Cena Muda e Carioca.
Walter da Silveira, também juiz de direito e advogado.
Em 1936, escreveu seu primeiro artigo sobre cinema. Conferencista,
fundou o Clube de Cinema da Bahia e foi também coadjuvante
em filmes como A Grande Feira e O Pagador
de Promessas.
Por Carlos Motta